Com vale-refeição durando 12 dias, salgado é alternativa no almoço
Devido ao atual cenário econômico, muita gente recorre a opções mais baratas
O aumento no preço dos produtos da cesta básica e a inflação têm impactado diretamente nos gastos com o vale-refeição. Conforme levantamento feito pela Sodexo Benefícios e Incentivos, o crédito na região Centro-Oeste dura apenas 12 dias. Isso significa que o trabalhador precisa desembolsar metade do mês para se alimentar no restante dos dias.
As empresas consideram, em média, 22 dias para depositar o dinheiro. Conforme pesquisa da ABBT (Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador), o valor médio que os trabalhadores gastam para se alimentar no quilo é de R$ 40,64 por refeição.
O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostra que a cesta básica vendida em Campo Grande continua entre as cinco mais caras em comparação com as capitais brasileiras, mesmo com a queda de 3,12% registrada em fevereiro. O percentual resulta no valor de R$ 719,34 para o conjunto de alimentos.
Na visão do economista Eugênio Pavão, a situação evidencia a perda da capacidade de compra, sendo ocasionado pela crise da guerra, inflação e juros altos.
“A inflação dos alimentos vem apresentando um quadro de instabilidade devido às exportações, que privilegiam o setor externo, diminuindo a oferta nacional, caso da carne, ovos”, explica.
Ainda conforme comenta o profissional, no centro de Campo Grande, é possível achar pratos feitos sendo vendidos entre R$ 16 e R$ 30, dependendo do local.
Cenário - Devido ao atual cenário, os trabalhadores, por muitas vezes, optam por opções mais baratas, como salgados e sanduíches. Com isso, é difícil manter a qualidade nas refeições gastando pouco.
Andando pelas ruas do centro de Campo Grande, é possível ver diversas pessoas comendo este tipo de comida na hora do almoço e até mesmo salgadinhos, conhecidos também como skiny.
A auxiliar de serviços gerais Raquel Gonçalves, de 24 anos, ressalta que se preocupa com alimentação saudável, mas que não consegue manter com o atual valor do vale. Ela recebe cerca de R$ 500. "Acho isso um absurdo. A gente deixa de viver e passa a sobreviver. Agora às vezes não consigo fazer uma refeição completa".
No caso da auxiliar de limpeza, de 48 anos, que preferiu não se identificar, o vale-refeição não dura para todo o mês.
De acordo com a trabalhadora, ela recebe R$ 486 por mês de vale-refeição. Supondo que a carga horária dela seja de seis dias na semana, ela consegue comprar 16 dias de almoço no valor de R$ 30 usando o benefício, tendo que tirar do próprio bolso R$ 240. “O meu serve para refeição e mercado. Se fosse almoçar no centro ia todo o dinheiro, por isso que o pessoal come salgado, para economizar no vale-refeição”, comenta.
A vendedora Claudiceia da Silva, de 40 anos, disse que já viu pessoas trocarem o prato feito por um doce como pudim ou picolé. "Acho injusto o vale não durar para o mês inteiro. Deveria ser um valor universal. Já vi gente trocar até por um doce em vez do almoço".
O relato do gestor de mídias Vinícius Xavier, de 26 anos, mostra que ele mudou a rotina para se adaptar ao aumento dos custos para alimentação: "Eu troquei o vale-refeição pelo alimentação. Não estava compensando almoçar fora. Aumentou tudo de um tempo para cá".
Na Rua 14 de Julho, a equipe de reportagem encontrou a atendente, de 20 anos, que também preferiu não se identificar. Ela conta que não recebe benefício, somente o salário e o passe de ônibus.
Por volta de 11h30, ela estava comendo salgadinho, de R$ 1,75, sentada em um banco da rua.
“Ontem foi muito corrido à noite, tem que cuidar da casa dos filhos não deu tempo de fazer janta e eu acabei no salgadinho. Muita gente fica nessa mesma situação”, lamenta. Neste caso, ela preferiu não gastar dinheiro comprando marmita.
Comprovando a situação, o proprietário de um restaurante localizado na Rua Barão do Rio Branco, Marcio Moreira, de 50 anos, percebeu uma diminuição no consumo por alimentos, como arroz e feijão.
Conforme ele conta, o uso do vale-refeição também não compensa para o estabelecimento por ser cobrado taxa de 13%.
No local, a marmita mais básica custa R$ 16 e para almoçar no restaurante, com direito a churrasco, é preciso desembolsar R$ 35.