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Economia

Com vale-refeição durando 12 dias, salgado é alternativa no almoço

Devido ao atual cenário econômico, muita gente recorre a opções mais baratas

Izabela Cavalcanti, Mariely Barros e Gabriel de Matos | 22/03/2023 15:40
Trabalhadora comendo salgadinho, de R$ 1,75, no horário de almoço (Foto: Henrique Kawaminami)
Trabalhadora comendo salgadinho, de R$ 1,75, no horário de almoço (Foto: Henrique Kawaminami)

O aumento no preço dos produtos da cesta básica e a inflação têm impactado diretamente nos gastos com o vale-refeição. Conforme levantamento feito pela Sodexo Benefícios e Incentivos, o crédito na região Centro-Oeste dura apenas 12 dias. Isso significa que o trabalhador precisa desembolsar metade do mês para se alimentar no restante dos dias.

As empresas consideram, em média, 22 dias para depositar o dinheiro. Conforme pesquisa da ABBT (Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador), o valor médio que os trabalhadores gastam para se alimentar no quilo é de R$ 40,64 por refeição.

O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostra que a cesta básica vendida em Campo Grande continua entre as cinco mais caras em comparação com as capitais brasileiras, mesmo com a queda de 3,12% registrada em fevereiro. O percentual resulta no valor de R$ 719,34 para o conjunto de alimentos.

Na visão do economista Eugênio Pavão, a situação evidencia a perda da capacidade de compra, sendo ocasionado pela crise da guerra, inflação e juros altos.

“A inflação dos alimentos vem apresentando um quadro de instabilidade devido às exportações, que privilegiam o setor externo, diminuindo a oferta nacional, caso da carne, ovos”, explica.

Ainda conforme comenta o profissional, no centro de Campo Grande, é possível achar pratos feitos sendo vendidos entre R$ 16 e R$ 30, dependendo do local.

Almoço self-service em restaurante na Rua Paraíba (Foto: Paulo Francis)
Almoço self-service em restaurante na Rua Paraíba (Foto: Paulo Francis)

Cenário - Devido ao atual cenário, os trabalhadores, por muitas vezes, optam por opções mais baratas, como salgados e sanduíches. Com isso, é difícil manter a qualidade nas refeições gastando pouco.

Andando pelas ruas do centro de Campo Grande, é possível ver diversas pessoas comendo este tipo de comida na hora do almoço e até mesmo salgadinhos, conhecidos também como skiny.

A auxiliar de serviços gerais Raquel Gonçalves, de 24 anos, ressalta que se preocupa com alimentação saudável, mas que não consegue manter com o atual valor do vale. Ela recebe cerca de R$ 500. "Acho isso um absurdo. A gente deixa de viver e passa a sobreviver. Agora às vezes não consigo fazer uma refeição completa".

No caso da auxiliar de limpeza, de 48 anos, que preferiu não se identificar, o vale-refeição não dura para todo o mês.

De acordo com a trabalhadora, ela recebe R$ 486 por mês de vale-refeição. Supondo que a carga horária dela seja de seis dias na semana, ela consegue comprar 16 dias de almoço no valor de R$ 30 usando o benefício, tendo que tirar do próprio bolso R$ 240. “O meu serve para refeição e mercado. Se fosse almoçar no centro ia todo o dinheiro, por isso que o pessoal come salgado, para economizar no vale-refeição”, comenta.

A vendedora Claudiceia da Silva, de 40 anos, disse que já viu pessoas trocarem o prato feito por um doce como pudim ou picolé. "Acho injusto o vale não durar para o mês inteiro. Deveria ser um valor universal. Já vi gente trocar até por um doce em vez do almoço".

Vendedora Claudiceia da Silva opinou sobre na Avenida Marechal Rondon, no Centro (Foto: Gabriel de Matos)
Vendedora Claudiceia da Silva opinou sobre na Avenida Marechal Rondon, no Centro (Foto: Gabriel de Matos)

O relato do gestor de mídias Vinícius Xavier, de 26 anos, mostra que ele mudou a rotina para se adaptar ao aumento dos custos para alimentação: "Eu troquei o vale-refeição pelo alimentação. Não estava compensando almoçar fora. Aumentou tudo de um tempo para cá".

Na Rua 14 de Julho, a equipe de reportagem encontrou a atendente, de 20 anos, que também preferiu não se identificar. Ela conta que não recebe benefício, somente o salário e o passe de ônibus.

Por volta de 11h30, ela estava comendo salgadinho, de R$ 1,75, sentada em um banco da rua.

“Ontem foi muito corrido à noite, tem que cuidar da casa dos filhos não deu tempo de fazer janta e eu acabei no salgadinho. Muita gente fica nessa mesma situação”, lamenta. Neste caso, ela preferiu não gastar dinheiro comprando marmita.

Comprovando a situação, o proprietário de um restaurante localizado na Rua Barão do Rio Branco, Marcio Moreira, de 50 anos, percebeu uma diminuição no consumo por alimentos, como arroz e feijão.

Conforme ele conta, o uso do vale-refeição também não compensa para o estabelecimento por ser cobrado taxa de 13%.

No local, a marmita mais básica custa R$ 16 e para almoçar no restaurante, com direito a churrasco, é preciso desembolsar R$ 35.

Lanchonete no Centro de Campo Grande, com placa mostrando que aceita vale-refeição (Foto: Henrique Kawaminami)
Lanchonete no Centro de Campo Grande, com placa mostrando que aceita vale-refeição (Foto: Henrique Kawaminami)


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