Comércio na fronteira tem queda de 50% nas vendas e crise afeta cidade
Na fronteira com o Paraguai, onde o comércio é menos glamouroso que na vizinha Ponta Porã, os comerciantes tem sofrido com a queda no consumo e consequentemente, nas vendas. Em Bela Vista - distante 322 quilômetros da Capital, algumas lojas fecharam, outras reduziram drasticamente o faturamento, mas o fato é que nada mais é como era antes.
A dificuldade pela qual passam os comerciantes, não é um problema só do Brasil, do lado de lá da ponte a realidade é ainda pior. Lojistas paraguaios estimam que as vendas caíram pelo menos 50%, devido a crise brasileira, a alta do dólar e a retração no consumo das pessoas nos últimos meses.
"Hoje, eu vendi apenas R$ 40 e já é meio dia. Se antes tinha fila para entrar, hoje tudo mudou", conta a comerciante Maria de Lourdes Gonzalez, que viu o movimento de sua loja cair em 90% nos últimos anos. "Tem produto meu que não saiu da loja mais. Antigamente eu também comprava produtos do Paraná. Mas hoje não compro mais. Vou para Assunção buscar os produtos", diz.
Na cidade de Bela Vista Norte/Paraguai, o comércio sempre foi pequeno, mas suficiente para movimentar toda a economia da região. Filho de Maria, Pedro Rafael Gonzalez Cavallero, 29, ajuda a mãe Maria de Lourdes, em sua loja, que "vende de tudo" e conta que tudo está parado, mas acredita que é consequência da crise no Brasil. Lá, o dólar custa R$ 3,25 atualmente.
"As vendas tem caído muito, mais de 50%, só nos fins de semana e feriado que as vezes melhora, mas não é sempre", conta Pedro. O comércio estagnado reflete não só a realidade de famílias que precisam se adaptar a novas situações, mas também a queda no número de turistas que vão à cidade e a redução na arrecadação municipal.
Do lado de cá - Em economia, uma coisa sempre leva a outra, como uma reação em cadeia. Se menos turistas vão à Bela Vista, menos dinheiro é injetado no comércio e isso diminui o poder de compra das famílias. Do lado brasileiro, o movimento também caiu pela metade na loja de roupas da micro-empresária Paola Brandão Garcia, 21.
Ela conta que em dois anos viu seu comércio ruir e a família inteira se preocupar. "Aqui o movimento tem sido bem fraco, antes era melhor, de uns 2 anos atras que começou a cair, até chegar a esse ponto. Toda a minha família tem loja, minha tia tinha mas acabou fechando e minha avó também tem. Todos tem sentido a crise".
No supermercado não é diferente. Jandira Sena Rojas, 46, trabalha com comércio há 30 anos e diz que que tem se adaptado a nova realidade. "As pessoas estão comprando menos mesmo. Acho que diminuiu uns 50% nas vendas. Não tem jeito, caiu muito", diz.
Arrecadação - O prefeito Renato de Sousa Rosa (PSB) define a situação do seu município hoje, como "horrorosa". Segundo ele, o baixo movimento no comércio já influencia na arrecadação da cidade, sem contar a queda nos repasses do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), que atinge quase todo o estado.
"Hoje nós estamos com o salário atrasado, não pagamos prefeito, vice-prefeito e mesmo assim mal conseguimos pagar a folha. A opção que tenho muito na minha cabeça é fazer cortes ou atrasar o salário. Optei por atrasar o salário", explica.
Para ele, uma das poutas esperanças é a tradicional exposição agropecuária, a Expobel. Este ano, a festa começa no dia 17 de julho e segue até 26 de junho, com shows, comidas típicas, provas de laço, entre outras apresentações. "Temos a Expobel que o fluxo é grande de turista", afirma Renato.