Favela muda para bairro e derruba venda de imóveis no Bom Retiro
Os moradores do loteamento Bom Retiro estão divididos. Há pouco mais de dois meses, 84 famílias da favela Cidade de Deus foram removidos para a região da Vila Nasser, e a especulação é que, além dos assaltos que vem ocorrendo nas proximidades que nunca aconteciam, a chegada dos novos residentes, está desanimando compradores interessados em adquirir um imóvel no bairro.
A estudante Beatriz Guimarães mora próximo às famílias do Cidade de Deus, e diz que sua mãe tem receio dela voltar para a casa após os treinos de atletismo. “Volto à noite, então ela fica preocupada”.
Ela conta que o número de assaltos e roubo a casa na região cresceu depois da chegada dos novos moradores. “À noite é sempre uma bagunça e muito som alto e minha mãe fala que isso não é bom porque o bairro fica desvalorizado”.
De acordo com o corretor Evaldo Fares, a procura de pessoas em comprar casas na região diminuiu quase 50%. “Antes recebia oito ligações por semana de pessoas interessadas em ver imóveis na região, mas agora atendo três, no máximo quatro neste período”.
A média de preço das casas é de R$130 mil, e que os interessados não são pessoas querendo comprar para investir, segundo ele, quem opta por comprar no lugar são dois tipos de clientes. “Quem se interessa são os moradores do Santa Luzia e que não tem medo ou aqueles que optam por comprar aqui por não ter condições financeiras para comprar em outro lugar”.
Em contrapartida, Fares conta que a procura de moradores que querem vender suas casas aumentou no último mês. “Muita gente quer sair daqui por achar que a região ficou insegura. Eos moradores que mais me procuram são os que estão mais próximos da favela”.
Já o empreiteiro Pedro Henrique conta que tem visto muitas pessoas reclamarem, mas que ele não vê a chegada dos moradores como um problema, e sim um investimento. “Já fiz várias casas na região e em outros bairros e já vi uma situação como essa. As famílias irão trazer asfalto, linha de ônibus, além de outras benfeitorias. É preciso ter paciência.
Morador da região há 40 anos, o segurança Wagner Aparecido da Silva, fala que o bairro está tranquilo como sempre foi e o que há muito é a discriminação.”Aquelas famílias são como qualquer outra. Deve haver malandro e ladrão como todo mundo fala, mas há crianças, idosos e trabalhadores que merecem ser respeitados”.
Com uma casa na região e comprando outro imóvel no loteamento atrás do Bom Retiro, a atendente externo Daiana de Oliveira, diz que na época pagou R$160 mil no terreno e acha injusto a chegada das famílias no bairro. "Discordo do que foi feito porque os dois lados foram atingidos. Tanto as família que foram jogadas no local sem qualquer infraestrutura, quanto eu e outros moradores que pagaram pelo terreno para morar ali".
Segundo ela, há relatos de invasão em diversas partes do loteamento ao lado da favela. "Há relatos de algumas da famílias que estão com tijolos e outros materiais construindo uma casa, isso não é justo porque paguei por um local e eles estão invadindo".
A chegada da favela não é o motivo para que um imóvel seja desvalorizado, segundo a presidente da Sindimóveis -MS (Sindicato dos Corretores de Imóveis), Marta Recalde Lino. “A chegada de um público diferente não interfere no valor, o que está acontecendo é que o país vem sofrendo com uma crise econômica muito forte, com isso, as vendas caíram”.
Marta acredita que a chegada nos dos novos moradores só fortalece ainda mais a economia do bairro. “Com mais pessoas há mais mão de obra, e com isso, o comércio da região precisa contratar pessoas de outros bairros, fortalecendo assim a economia do local”.