Mudança em rota pode trazer trens de volta a Mato Grosso do Sul
Riedel tratou do tema em Brasília após concessionária apontar inviabilidade do trecho Corumbá/Bauru
O Governo de Mato Grosso do Sul aliou-se ao de São Paulo e a empresas para viabilizar mudança que restabeleça o transporte ferroviário entre os dois estados, facilitando o escoamento de produtos tanto para exportação e importação.
A mobilização ocorreu após a conclusão de que a retomada da linha Corumbá (MS)-Bauru (SP), que tem 1,8 mil quilômetros, vai demandar investimentos estimados em cerca de R$ 18 bilhões e a concessionária, a Rumo Logística, apontar impossibilidade de retorno desse volume de recursos, segundo relatou o governador Eduardo Riedel (PSDB), durante visita, essa manhã ao Campo Grande News, acompanhado pelo secretário de Governo e Gestão Estratégica, Rodrigo Perez.
Conforme explicou, já havia movimentação envolvendo a concessionária, empresas de celulose na divisa com São Paulo para a mudança na rota do transporte, mas ainda faltava a concordância do Estado vizinho para envolver a União no debate, que é a proprietária da malha e responsável pela concessão.
Pelo novo plano, o trecho entre Três Lagoas e Bauru seria desativado, uma vez que há outra rota, com trilhos vindo de Mato Grosso, a Malha Norte, e atravessando Mato Grosso do Sul perto da divisa e chegando a Aparecida do Taboado, onde há uma ponte rodoferroviária sobre o Rio Paraná para o acesso a São Paulo, na Malha Paulista. Do lado de lá, essa ferrovia, mais a norte que a Malha Oeste, igualmente conduziria ao Porto de Santos, para exportação de produtos.
Riedel explica que não há “sentido logístico” e nem financeiro em manter duas ferrovias paralelas. Para o Estado se conectar a essa rota defendida, está sendo estruturada uma ferrovia privada, de cerca de 80 quilômetros, entre Três Lagoas e Aparecida do Taboado, que atende as empresas de celulose Eldorado e Suzano, instaladas naquela cidade e que manifestaram interesse em fazer a obra, com tratativas em curso.
As mudanças demandarão investimentos da concessionária estimados em R$ 5 bilhões. Além disso, o plano envolve garantir o transporte ferroviário entre Campo Grande e Três Lagoas. Essas rotas contemplam grandes empreendimentos.
O governador informou que a Rumo fez estudos, identificou virtuais clientes para o transporte e essa mudança revelou-se viável. “Eu não tenho dúvida que ativando esse trecho, Campo Grande até Aparecida do Taboado, o volume de carga disponível e que vai aparecer independente dos contratos de longo prazo, são gigantescos. Estamos falando de soja, de milho, de etanol de milho”, diz, citando a empresa deste setor Inpasa, que vai instalar uma unidade com investimento de R$ 1,2 bilhão em Sidrolândia e poderá utilizar o trem para transportar combustível.
Pedido de São Paulo – O avanço da ideia acabou por incluir um pedido feito pelo estado vizinho, para que receba os trilhos a fim de usar em projetos de transporte local, entre as cidades ou mesmo dentro o perímetro urbano, o que foi exposto à União, dona da malha. “Está todo mundo olhando para a mesma solução”, disse Riedel. Apresentada a iniciativa essa semana ao ministro dos Transportes, Renan Filho, a proposta agora passa a tramitar na pasta.
Minérios e Hidrovia – A mudança no uso da ferrovia da chamada Malha Oeste acaba por consolidar a desativação do trecho entre Corumbá e Campo Grande e a possibilidade de escoamento de minérios extraídos na fronteira com a Bolívia. Com isso, a aposta passa a ser na Hidrovia Paraguai Paraná para escoar os produtos.
Segundo o governador, a J&F, uma das que operam na mineração, vai construir um trecho de ferrovia de cerca de 50 quilômetros até Porto Esperança, onde ocorre o embarque em barcaças para seguir até o Rio da Prata e acesso ao Oceano Atlântico para exportação.
“A solução logística mais eficiente é essa. E aí nós temos que respeitar a economia.” Questionado sobre o risco ambiental dessa alternativa, uma vez que exigiria intervenções no Rio Paraguai, medida que preocupa pesquisadores, o governador mencionou que não seria o caso de realizar dragagens para alterar o leito do rio, mas retirada de pedras em alguns pontos mais superficiais. “Conforme o fluxo de água, você tem alguns pontos do rio que você tem problema de derrocamento. E aí tem que ter uma intervenção. É pedra então, não é que é sedimento. E pontos onde você permitiria, com o nível do rio mais baixo, fazer a navegação. Esse é o grande objetivo, para que ele seja navegável, o ano inteiro.”
Quando o volume de chuvas está baixo, a hidrovia se torna inavegável e já ocorreu de o transporte ser todo feito pela BR-262, “que vai ser mais poluente, que vai ser mais perigoso para a segurança do trânsito, com 600, 700, 800 carretas por dia nas estradas, tendo acidente, confusão, acabando a estrada ou dois, três pontos de derrocamento. Tudo são opções do desenvolvimento, dentro de um projeto federal”, comentou.
Além de portos das próprias mineradoras, há um porto do governo que está desativado, na região de Porto Murtinho, em vias de ser entregue ao setor privado, via concessão, e outro, particular, que já há alguns anos vem transportando parte da safra de grãos. Dos 12 milhões de toneladas de soja colhidas, 1,8 milhão foram escoados ali, segundo Riedel.
Trata-se de um modal com potencial de expansão. Conforme o governador, há um empreendimento com finalização do processo de licenciamento e que, em breve, será divulgado pela empresa responsável. “Nós vamos anunciar um novo porto à beira do Paraguai. Estamos esperando ficar pronta uma licença, ajustar, aí os proprietários venham aqui mostrar o projeto para o Estado, mostrar para todo mundo. É um investimento importante, está fechado, eles só estão aguardando a licença de instalação para poder fazer o anúncio.”
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