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Economia

Impossível de viver com aposentadoria, 24,2% dos idosos seguem trabalhando em MS

Estudo revela que em Mato Grosso Sul, um a cada cinco idosos continua exercendo alguma atividade remunerada

Mariely Barros | 05/12/2021 07:52
Idosa trabalhando como vendedora ambulante em praça da Capital. (Foto: Mariely Barros)
Idosa trabalhando como vendedora ambulante em praça da Capital. (Foto: Mariely Barros)

No imaginário popular, a chegada da terceira idade é associada ao momento de descansar após uma vida toda de trabalho. Entretanto, um estudo feito no ano passado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostra que em Mato Grosso do Sul, uma a cada cinco pessoas continuam trabalhando após os 60 anos.

Dos 443 mil idosos do estado, 24,2% declaram que não encerram suas atividades trabalhistas. Os números colocam o Estado acima da média nacional, que é de 18,5%. Entre os motivos para continuar trabalhando, destaca-se a necessidade de completar a renda, já que a aposentadoria não é suficiente para pagar as contas. O estudo aponta ainda que 73% dessas pessoas são responsável por contribuir com 50% ou mais da renda do seu domicílio.

Após perder o esposo em meio à pandemia, Maria de Fátima, de 61 anos, viu-se desamparada apenas com uma pensão por morte de R$ 1.192,40 mensais. Para conseguir pagar as contas, ela teve de voltar a trabalhar depois de 9 anos em casa. Sem poder ser registrada, ela faz um “bico”, como ela mesmo diz, a cada 15 dias como passadeira.

Se a gente for viver só da aposentadoria, a gente vai parar debaixo da ponte, pois esse dinheiro não é o suficiente, os remédios, a comida e a gasolina estão cada vez mais caros”, fala.

Por falta de informação, a idosa conta que trabalhou por mais de 30 anos como ambulante, sem fazer o cadastro como autônoma e, por conta disso, ela não consegue se aposentar por tempo de contribuição. “Eu sempre trabalhei como doméstica e depois, como ambulante, nesse tempo, ninguém nunca me falou que eu precisava contribuir com o INSS”, lamenta.

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Na casa do agora taxista Keller Satheler, de 69 anos, ele continua sendo a maior fonte de renda da família. Aposentado por tempo de contribuição como bancário, no ano de 2004, ele afirma que parar de trabalhar traria uma mudança drástica na qualidade de vida da família. Na casa, moram ele, sua esposa e dois filhos. “Se eu fosse depender da aposentadoria, não conseguiria pagar nada. O dinheiro parece estar ficando cada vez mais justo. Só nas coisas básicas como água, luz, internet e mercado fica boa parte e se você quer usufruir de uma vida melhor, não dá para parar de trabalhar”, diz.

Entre os colegas taxistas, ele diz que existem certas descrenças sobre sua necessidade de trabalhar depois de aposentado. “Muita gente acha que bancário fica rico, mas não é bem assim”, brinca. No dia a dia, é comum Keller ouvir de muitos: "Você é doido de estar trabalhando, quando eu me aposentar, nem imagino o que vou fazer”, conta. Com muito humor, ele tenta levar as críticas que recebe na brincadeira. “Quando chegaram me falando isso, eu me divirto e pensam que uma hora a pessoa vai se aposentar e vai ver que ela terá que trabalhar no outro dia se quiser manter o mesmo padrão de vida”, explica.

Cesta básica – O apontamento sobre os aumentos é comprovado por outro estudo divulgado neste ano pelo Dieese. Segundo o órgão, a cesta básica sofreu quatro altas consecutivas de preço este ano em Campo Grande. Na Capital, o valor médio da cesta com itens avaliados como essenciais chega a R$ 653,40, que corresponde a 64% do salário mínimo vigente.

Para fugir das restrições do INSS, idosa de 69 anos, que preferiu não se identificar, conta que prefere viver trabalhando como ambulante ao invés de pedir o LOAS, auxílio concedido para pessoas portadores de necessidades especiais e idosos acima de 65 anos, que não possuem qualquer renda e com a assistência, têm direito a um salário mínimo, explica.

“Eu prefiro viver assim, pois o que o governo oferece na aposentadoria é uma miséria, não dá para se manter nem economizando muito e eles ainda exigem que a gente pare de trabalhar, assim só se for para passar fome”, explica.

Toda manhã, ela se desloca para a Praça Ary Coelho com um cooler carregado de energético, água e refrigerante para vender e se diz satisfeita por poder escolher pelo menos seu horário de trabalho. “Eu posso escolher o dia e o tempo que vou trabalhar, infelizmente, não posso deixar de vir, porque preciso comer, vestir e pagar minhas contas de casa", finaliza.

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