Só fungicida não basta, é preciso monitorar ferrugem, diz pesquisador
Primeiro caso da doença nesta safra foi registrado em Maracaju, numa lavoura na fase de enchimento das vagens
A ferrugem asiática, uma doença que afeta lavouras de soja e teve o primeiro caso desta safra confirmado segunda-feira (19) em Mato Grosso do Sul, precisa de cuidado redobrado, segundo o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Alexandre Dinnys Roese.
Engenheiro agrônomo formado pela Unioeste, mestre em fitopatologia pela Universidade Federal de Viçosa e doutor em agronomia pela Universidade Federal do Paraná, Alexandre Roese é analista de apoio à pesquisa na Embrapa desde 2002. Lotado na Embrapa em Dourados desde 2007, tem experiência de campo com doenças de soja e milho.
Sobre caso confirmado nesta semana em Maracaju, o pesquisador diz que o cuidado do produtor rural funcionou, já que a doença só surgiu agora, com a lavoura em fase de enchimento de vagens.
“Essa é uma informação extremamente importante porque mostra o resultado de duas medidas de controle muito valiosas adotadas pelo produtor rural: 1) realizar o vazio sanitário (para diminuir a sobrevivência da ferrugem na entressafra) e 2) semear a lavoura no início da época recomendada, para que as plantas escapem da ferrugem”, afirmou ao Campo Grande News.
Segundo ele, se não fossem essas duas medidas de controle, a ferrugem provavelmente surgiria muito mais cedo, até mesmo antes do início do florescimento. Na avaliação dele, o fato de a ferrugem ter sido detectada agora não significa que já não estava presente no estado.
“Devemos lembrar que o cadastro dos focos de ferrugem no Consórcio Antiferrugem é voluntário. Ao mesmo tempo em que é muito importante notificar sobre a doença, pois serve de alerta aos produtores, não podemos confiar cegamente na ausência de ferrugem em locais sem relatos. Isso reforça a necessidade do monitoramento constante de cada produtor”, observou.
O pesquisador reforça a importância de monitorar as lavouras. “A ferrugem requer molhamento foliar para seu estabelecimento nas folhas. E o molhamento foliar é muito mais dependente da frequência de chuvas, do que do volume de chuvas. A formação de orvalho também é muito importante para o molhamento foliar. Por isso, dias quentes e noites amenas, com alta umidade do ar, favorecem a formação de orvalho e assim favorecem a ferrugem”.
Fungicidas – Alexandre Roese orienta como evitar ou pelo menos diminuir os prejuízos: “devemos insistir no monitoramento das lavouras. Mesmo com aplicações de fungicida preventivamente, precisamos avaliar as lavouras para ver se a aplicação foi realmente preventiva ou se a ferrugem já estava na lavoura antes da aplicação”.
Segundo ele, uma vez instalada a ferrugem na lavoura, recomenda-se diminuir o intervalo entre aplicações de fungicidas e acrescentar fungicidas multissítios no programa de controle.
Outra recomendação é optar pelos fungicidas com melhor desempenho nos ensaios anuais de eficiência, publicados anualmente pela Embrapa, e alternar aplicações de fungicidas com princípios ativos diferentes, evitando mais do que duas aplicações do mesmo fungicida na mesma safra.
Prejuízo – Conforme o pesquisador, quanto mais cedo no ciclo da soja surge a ferrugem, maior a dificuldade de controle e maiores os prejuízos. “Lavouras com ferrugem no início do florescimento, ou antes, em anos com clima favorável à ferrugem e que não sejam eficientemente controladas, podem ter redução drástica da produtividade, chegando à inviabilizar a colheita”.
“Felizmente casos assim não têm ocorrido, e isso é muito devido aos controles legislativo (vazio sanitário e datas limites para semeadura) e cultural (cultivares precoces e semeaduras no início da época recomendada), aliado ao controle químico preventivo ou sempre que necessário”, afirma.
Variedades – Alexandre Roese explica que a busca por cultivares de soja resistentes à ferrugem representa grande esforço da pesquisa agropecuária. “Existem algumas cultivares resistentes no mercado, porém todas elas baseadas em resistência monogênica, ou seja, que é muito eficiente, mas pode ser facilmente ‘quebrada’ pelo fungo que causa a doença”.
Por isso, segundo ele, mesmo nessas cultivares é preciso se aplicar fungicida preventivamente. “Mas por que então semear cultivares resistentes se teremos de aplicar fungicida assim mesmo? Porque a cultivar resistente evita danos pelas falhas no controle (e essas falhas são muito mais frequentes do que imaginamos). A cultivar resistente é uma garantia, um seguro, talvez o seguro mais barato que exista”.
A mais recente cultivar de soja resistente à ferrugem asiática é a BRS 511. “O gene de resistência dessa variedade é diferente do que está presente em todas as outras variedades lançadas antes. E além de ser resistente à ferrugem também é resistente à podridão-de-fitóftora, uma doença comum no sul do Brasil e que tem aumentado de importância das últimas safras no Centro- Oeste”.