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Esportes

"Entramos em campo com fome", confirmam à polícia atletas do Taveirópolis

Eles foram ouvidos em investigação aberta após denúncia que adolescentes passavam fome no clube

Nyelder Rodrigues e Ana Oshiro | 07/10/2021 11:35
Atletas guardando as malas em carro de aplicativo de transporte, com destino à rodoviária, onde embarcaram de volta para Goiânia na semana passada. (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Atletas guardando as malas em carro de aplicativo de transporte, com destino à rodoviária, onde embarcaram de volta para Goiânia na semana passada. (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

Sete garotos de 16 e 17 anos que defendiam as cores do Esporte Clube Taveirópolis, confirmaram em depoimento realizado ontem (6) à tarde na Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e Adolescente), que sofreram maus-tratos e chegaram a entrar em campo para jogar com fome, ao menos, três vezes neste ano.

Desde a semana passada, a Polícia Civil investiga a situação, descoberta após receber denúncia de que adolescentes estavam abandonados no CT (Centro de Treinamento) da equipe e estavam passando fome. Uma equipe chegou a ir até o local checar a situação na manhã do dia 28, mesma data em que vários jogadores foram embora.

"Os sete nos confirmaram que pelo menos três vezes entraram em campo com fome. Eles jogavam com fome, às vezes, por falta total da alimentação, mas, às vezes, por terem comido muito pouco, o insuficiente para aguentar uma partida de 90 minutos", comenta a delegada que está responsável pelo caso, Fernanda Félix, titular da Depca.

Também foram ouvidos dois funcionários do clube, que não tiveram o nome revelados, mas um deles seria o coordenador-geral de futebol. "Os depoimentos desses dois vão de encontro com os dos meninos, confirmando que faltavam alimentos e muitas vezes, foi tirado do próprio bolso para comida", explica a delegada.

A escassez de alimentos começou a piorar nas semanas mais recentes, pouco antes da viagem feita pelo presidente do clube, Marcelo Pereira, conhecido como Marcelo Pantera, para o Rio de Janeiro (RJ). Ele está na capital fluminense faz duas semanas e até hoje, não retornou para a capital sul-mato-grossense.

Delegada Fernanda Félix é quem está à frente das investigações. Além da confirmação nos depoimentos dos maus-tratos, também foram reveladas dívidas. (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo)
Delegada Fernanda Félix é quem está à frente das investigações. Além da confirmação nos depoimentos dos maus-tratos, também foram reveladas dívidas. (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo)

Calote - Outro problema relatado à delegada nos depoimentos, foi o de salários atrasados e empréstimos obtidos por Pantera na cidade e não pagos até aqui. Apuração feita pela reportagem no decorrer da semana levantou que o atraso salarial chega a casa dos três meses e a dívida deixada por Marcelo beira os R$ 100 mil.

"Sabemos oficialmente apenas que muita gente emprestou dinheiro para ele, e ele está devendo essas pessoas aqui", frisa Fernanda Félix, completando que o dirigente já foi intimado e deverá prestar depoimento no próximo dia 14.

Sem revelar valores da dívida, o empresário carioca - mas com base de trabalho em Goiânia (GO) - de atletas Adílio Rodrigues confirmou que foi um dos que emprestou recursos para Pantera, mas não quis revelar o valor.

"Foi muito dinheiro, mas prefiro não falar quanto foi. Mas te garanto que foi muito dinheiro e ele vai ter que devolver isso", explica o empresário, que trouxe para Campo Grande 14 atletas e, no mesmo dia da operação, os embarcou de volta para Goiânia - o clube também anunciou sua desistência dos estaduais Sub-20 e Sub-17.

Inicialmente, a denúncia apontava que 33 atletas estavam abandonados no CT do clube, montando no Bairro Estrela do Sul. Contudo, apenas sete jogadores foram ali encontrados no momento da visita policial - os sete foram ouvidos ontem.

Garotos prestaram depoimento ontem à Depca, enquanto Marcelo Pantera foi intimado a comparecer no próximo dia 14. (Foto: Paulo Francis/Arquivo)
Garotos prestaram depoimento ontem à Depca, enquanto Marcelo Pantera foi intimado a comparecer no próximo dia 14. (Foto: Paulo Francis/Arquivo)

Adultos - Apesar da situação precária, os atletas acima dos 18 anos e que integram o elenco que iria disputar competições para adultos da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) permanecem alojados no Centro de Treinamento. Contudo, a alimentação é comprada por eles próprios ou feita com doações.

Marcelo Cesar de Freitas Pereira (nome completo de Marcelo Pantera) foi procurado pela reportagem ainda na semana passada, mas apenas respondeu que daria esclarecimentos nesta semana - até o momento, nenhum foi dado de maneira oficial.

Já a FFMS, entidade responsável por organizar o futebol local e dar aval para a atividade dos clubes no Estado, além de regular contratos e outras demandas, se manifestou apenas dizendo que a equipe estava com as contas regulares e taxas pagas e que iria aguardar a investigação para tomar alguma providência.

O Gigante fraquejou - Com um retorno anunciado triunfalmente, inclusive, com projeção de manter projetos sociais atendendo outras modalidades, como o judô, o Taveirópolis durou pouco na ativa. Fundado em 1938, o clube ficou inativo no início década de 2000, quando também ficou "sem casa", o Estádio Elias Gadia, que virou praça.

Porém, desde o ano passado, seu retorno vem sendo trabalhado midiaticamente, com foco nas redes sociais. Com perspectiva de disputar a segunda divisão do Estadual de 2022, o time sequer conseguiu entrar em campo pelo Sub-17 e não conseguiu terminar sua participação no Sub-20 e o Estadual Amador da FFMS.

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