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Esportes

Presença de mulheres no esporte cresce, mas preconceito não diminui

Amanda Bogo | 06/06/2016 18:29
Jéssika apitando jogo amador (Foto: Reprodução/ Facebook)
Jéssika apitando jogo amador (Foto: Reprodução/ Facebook)

A presença das mulheres no esporte vem se tornando cada vez maior em todas as modalidades, mesmo assim o preconceito contra as atletas e profissionais da área ainda é muito presente. E mesmo com o grande número de feitos e conquistas de atletas, a visibilidade e credibilidade delas é colocado diariamente em debate apenas pelo seu gênero.

Um bom exemplo é o da jogadora Marta. Em dezembro de 2015, Marta passou Pelé e se tornou a maior artilheira da Seleção Brasileira, com 98 gols. O rei possui 95 gols em 114 jogos com a camisa amarela. Mesmo assim, não só a atacante como todas as meninas do futebol feminino sofrem com a falta de, entre outros fatores, visibilidade, patrocínio, apoio e o preconceito. E dentro do futebol, esporte historicamente voltado aos homens, as mulheres que se aventuram em exercer alguma função enfrentam diversos desafios.

A mulher no futebol - Uma delas é Jéssika Cheverria, 22, árbitra do sindicato de árbitros de Mato Grosso do Sul. Ela jogava futsal e futebol quando entrou na faculdade de educação física. Foi lá que descobriu o curso de arbitragem, primeiro para ganhar horas extras. Depois que terminou o curso, ela gostou de arbitrar e continua até hoje.

Jéssika já participou de partidas da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) como assistente, e apitou jogos amadores. Ela se prepara agora para fazer o teste da Federação para participar da série B do estadual, e em seguida a série A de 2017.

Mesmo qualificada e com anos de experiência, a árbitra contou ter sofrio preconceito diversas vezes, seja pelos jogadores, seja pela torcida. “Sempre quando algum jogador questiona algum lance, tem aquele preconceito. Nunca esqueci de uma vez em que um jogador que não gostou de um lance que eu apitei, reclamou e levou cartão amarelo. Como ele já tinha um, levou o vermelho e foi expulso. Ele achou que a culpa era minha e começou a me ofender, mandou eu ir lavar louça, ficou dizendo coisas desse tipo”, contou.

O preconceito não desanima Jéssika, que afirmou não desistir da profissão por situações como essa. “Com certeza é um desafio, mas não é por algumas opiniões que a gente vai desistir. Eu sei que tenho capacidade. São coisas que chateiam mas não fazem desistir”.

Para ela, o preconceito com mulheres no futebol vai existir sempre. “O preconceito nunca vai acabar, mas pode diminuir com maior número de inserções de mulheres no meio futebolístico. Você vê que ainda existe o preconceito, mas aos poucos vai diminuindo”.

Jéssika durante partida que arbitrou (Foto: Reprodução/ Facebook)
Jéssika durante partida que arbitrou (Foto: Reprodução/ Facebook)

A mulher nos esportes de luta - Edinéia Camargo tem 27 anos, e começou a praticar Kung Fu Wushu aos 7. Em 2006 ela começou a competir pelo Sanda, vertente do esporte destinada a combates.

O interesse veio pelos filmes que assistia, e com o apoio da família encontrou a modalidade que era certa para ela. “Eu assistia os filmes de luta e queria lutar. Como era pequena e não sabia qual modalidade eu queria, minha família me levou para assistir e fazer aulas experimentais de várias e não gostei de nenhuma. Vi uma aula do wushu, achei uma luta bonita e diferente. Gostei e estou nele até hoje”, disse.

Edinéia é hexa campeã brasileira e campeã Pan Americana da modalidade, além de ser bicampeã sul-americana e já ter participado de três mundiais. Ela faz parte da seleção brasileira desde 2007.

Para ela, o preconceito por ser mulher partia mais da sociedade do que das pessoas ligadas ao esporte. Hoje ela não vê mais descriminação por ser mulher e lutar. “Quando comecei não tinha a quantidade de mulheres que tem hoje na luta. As pessoas falavam que eu era muito pequena, porque eu estava fazendo luta, porque eu não ia para o balé que era mais delicado. Mas não chegou a ser algo mais forte, de não querer uma mulher lutando. Hoje já se tornou algo mais comum com as mulheres disputando o MMA e as lutas no UFC”.

A lutadora acredita que as mulheres estão conseguindo buscar seu espaço dentro dos esportes. “Estamos mostrando que nós podemos fazer o que a gente quiser, que somos capazes de atuar em qualquer área do esporte”.

Edinéia luta desde os 7 anos; em 2006 começou a competir no Sanda (Foto: Reprodução / Facebook)
Edinéia luta desde os 7 anos; em 2006 começou a competir no Sanda (Foto: Reprodução / Facebook)

O contexto histórico social da mulher no esporte - De acordo com a socióloga Nathália Ziê, essa recusa que ainda existe da mulher dentro dos esportes faz parte do contexto sócio histórico, onde as mulheres foram destinadas ao espaço privado. “Por muito tempo estivemos lançadas a esse espaço, e aos poucos e duras penas estamos alcançando espaços públicos, como o direito de votar, de competir. Isso se dá pelo esforço das mulheres. Na história do esporte no Brasil, em vários momentos as mulheres precisaram mentir sobre seu gênero para competir. Já houve lei que proibia mulheres de jogar futebol. Isso tem a ver com a nossa cultura”, explicou.

Segundo a socióloga, ainda existe um longo caminho a ser galgado pelas mulheres no espaço do esporte. “O universo dos esportes é muito masculino, e muitas vezes nós mulheres não somos levadas a sério. O mundo do futebol, por exemplo, é masculinizado e reproduzir o machismo, porque se pauta pelo sistema patriarcal. Tudo isso são fatores que impossibilitam uma projeção maior e aceitação do que as mulheres tem se proposto a fazer no esporte. Acredito que deve levar um tempo para que a sociedade absorva e olhe para essas mulheres de modo diferente e legitimando suas participações no espaço do esporte, independente da modalidade”, finalizou.

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