Após dois anos de estudos, gravações começam na antiga rodoviária
Foram dois anos de estudo que levaram o cineasta Givago Oliveira a praticamente vivenciar, em um curto espaço de tempo, décadas de um prédio que fez história em Campo Grande, e que hoje, para ele, tornou-se um “não lugar”.
O objetivo é deixar tudo registrado em forma de documentário. As gravações começaram ontem e se estenderam até hoje, no prédio do antigo terminal rodoviário da Capital.
O coletivo começou colhendo os depoimentos de comerciantes que plantaram suas raízes em um local que, para muitos, é visto como um dos maiores problemas sociais da cidade.
“Quero que as pessoas contem a história de vidas delas, que acaba por revelar a ligação que elas têm com a rodoviária. Aqui tratamos de questões sociais, culturais, antropológicas, e até mesmo sexuais”, relata Givago.
No tempo que antecedeu as gravações, o cineasta foi ver de perto como vivem as pessoas da região. “O registro não é para fazer uma denúncia sobre o descaso, mas sim aprofundar um estudo antropológico do motivo pelo qual as pessoas acabaram abandonando o local, o que, em alguns casos, representa abandonar a si mesmo”, observa.
Para completar, o cineasta e diretor do documentário explica a expressão “não lugar”. “São locais que são de todo mundo, mas que ninguém utiliza, como é o caso atual da velha rodoviária”, enfatiza.
O documentário contará também com espaço para a representação cênica. “Como ouvi muita gente, inclusive profissionais do sexo, muitos dos personagens não quiseram se identificar, então eu decupei o depoimento e vamos dar vida a eles na pele de atores”, explica Givago.
Para que tudo isso fosse possível, o coletivo contou com o trbalho colaborativo de uma equipe de cerca de 15 profissionais, entre atores, produtores, editos de imagem, de trilha, artefinalista, diretor de foto.
Para a produtora cultural Michelly Dominiq, o projeto é uma oportunidade de resgatar o histórico do prédio, antes que seja tarde. “O comércio daqui pode acabar de repente, se você reparar ao redor, muitas lojas já fecharam as portas. É um risco acabar virando um lugar fantasma”, pontua.
Givago encerra a entrevista com apenas um alerta. “Aqui é um condomínio que pode ser muito explorado, mas, infelizmente, será para sempre a antiga rodoviária”, lamenta.