Escadas de mármore davam acesso à fachada desativada do casarão dos Arakaki
Foi por conta do tempo que o portãozinho emperrou, mas o problema acabou dando tranquilidade aos ninhos de João de Barro
Acima da numeração da casa, na Rua José Antônio, dois ninhos de João de Barro indicam que a rotina deve ser tranquila. Ao chamar pelos proprietários do imóvel descobrimos o motivo da calma. Na verdade, a família do engenheiro civil Eduardo Matsuo Arakaki, de 64 anos, e de Janete Amorim, de 51 anos, precisou desativar a entrada principal porque o portãozinho, de tão antigo, já não fazia as vezes de recebê-los.
"Foi por conta do tempo isso aí. E como estamos reformando aqui dentro, o marido disse para gente esperar um pouco pra arrumar tudo de uma vez", explica Janete.
A fachada é mais uma que destoa das construções quadradas pela cidade, cercadas pelos muros altos. Na rua José Antônio, o casarão fica bem na esquina com a Rua Amazonas em um lugar de destaque, pela elevação do terreno.
Mas a casa guarda muitas outras preciosidades além das aves na varanda. Os degraus feitos em pedra de mármore dão acesso ao lar que teve o tom de rosa claro escolhido para alegrar as paredes. "Essa escada não temos nem vontade de tirar dai. Imagine só fazer algo parecido hoje em dia, é o preço de construir uma casa nova", brinca Eduardo.
A porta principal também foi mantida como nos tempos em que a casa foi construída, há 40 anos. "Eu chuto esse tempo porque esse estilo de construção era feita nessa época, com viga de concreto. Eu não sei ao certo o ano em que essa casa foi feita, sei que já estou morando nela, que ela já é minha, há 27 anos", conta ele.
Eduardo acredita que foi o pai do engenheiro Auri Borges Vilela, antigo dono da casa, quem projetou o casarão. "Eu lembro que arrematei por um valor muito abaixo do que ela já valia, porque a mãe de Auri, o filho estava doente e precisava se mudar para um apartamento porque não dava conta de cuidar sozinha do terreno. Se não me engano, estavam vendendo a R$ 80 mill e eu comprei a R$ 65 mil".
Depois da primeira reforma, feita quando Eduardo comprou a casa, poucas coisas mudaram, mas a sala ficou maior depois de derrubar uma parede que dava acesso ao escritório. "Diminui um pouco a altura do teto também, era muito grande", explica.
Móveis da família que construiu a casa seguem ali, como a grande mesa ao centro da sala de jantar e o móveis embutidos, inclusive, no quarto do casal.
Os lustres mantêm a tradição da exuberância do passado. "Uma pena que muitos estão estragando, como é o caso do nosso xodó aqui, que fica no quarto, mas tem um moço que restaura, faz esse serviço, em Campo Grande, e pretendo arrumar todos eles", diz o marido.
Hoje são os netos de Janete que alegram a casa e mexem em todos os móveis antigos distribuídos por lá.
Na sala, um toca discos antiguinho dá charme e ganha ares de relíquia. Na sala de jantar, é o relógio, a máquina de escrever e o telefone que chamam atenção.
Eduardo morou por cerca de 20 anos na casa antes de perder a ex-mulher. Já viúvo, sem filhos, foi em uma aula de dança que ele se encantou pela professora e ali mesmo a paquera começou com Janete.
"Eu estava separada, e ele viúvo, não demorou muito pra começarmos a namorar e eu vim morar nesta casa porque a mãe dele tinha Alzheimer e precisava de alguém que a cuidasse. Eu fui esta pessoa e estamos juntos até hoje", conta a esposa.
Nas afinidades, o casal diz ter a base do relacionamento. Aos olhos de quem vê, os dois parecem ter sido feitos um para o outro. Ele joga tênis há 35 anos e ela começou a competir há 3 ano. Ele agora dançar por causa dela e os dois seguem nessa jornada de aprender e ensinar um ao outro.