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Arquitetura

Reinalda é o “Pereirão” que colore comunidade em beira de estrada

Líder do agrupamento faz de tudo para deixar acampamento G3 muito mais bonito

Raul Delvizio | 02/10/2020 06:10
Pintados de branco, os pneus foram organizados em sequência, um convite para entrar na comunidade (Foto: Silas Lima)
Pintados de branco, os pneus foram organizados em sequência, um convite para entrar na comunidade (Foto: Silas Lima)

Barracos simples à beira de estrada já não são nenhuma novidade para o sul-mato-grossense. Porém, nos arredores de Campo Grande, ao passar pela BR 163 sentido Terenos, uma cena pode surpreender: cores alegres, artesanato, muitas flores e até pneus pintados em branco colocados em sequência traçam o caminho do acesso principal do acampamento de moradias bem humildes.

Por trás da decoração chamativa está Reinalda – mulher que tem a baita vontade de deixar o espaço comunitário cada vez mais bonito.

Não é porque somos pobres que aqui tem que ser feio. Nos chamam de vagabundos, que não fazem nada da vida, mas olha aí, veja se isso é coisa de gente que tem preguiça", afirmou ao mesmo tempo que apontava o lugar com as mãos.

Grupo 3 é liderado por Reinalda, a "Pereirão" do pedaço (Foto: Silas Lima)
Grupo 3 é liderado por Reinalda, a "Pereirão" do pedaço (Foto: Silas Lima)
Cores e decoração dão ordem e vida ao espaço coletivo dos barracos (Foto: Silas Lima)
Cores e decoração dão ordem e vida ao espaço coletivo dos barracos (Foto: Silas Lima)
Reinalda posa ao lado da casinha de cachorro, ainda sem seu dono (Foto: Silas Lima)
Reinalda posa ao lado da casinha de cachorro, ainda sem seu dono (Foto: Silas Lima)

Já na entrada, o Lado B foi muito bem recebido. Enquanto cozinhava em sua casa, conhecemos dona Valéria, mãe da moça. "Nossa cidadezinha está mais graciosa por causa dela", disse toda orgulhosa e foi logo chamar a filha para atender às perguntas do jornalista curioso.

Reinalda explicou que ali onde estávamos é o grupo 3 do conjunto de acampamentos formado por pessoas que acreditam na bandeira da reforma agrária. São quase 10 famílias, cerca de 30 pessoas que vivem à beira da rodovia à espera de um pedaço de terra para chamar de seu.

"Passo o dia inteirinho fazendo várias coisas por todos. Me apelidaram de 'Pica-Pau', eu preferiria que fosse 'Martelinho', mas tudo bem", desconversa a chefe do pedaço.

Dona Rita encontrou o Lado B e fez questão de só tecer elogios à líder (Foto: Silas Lima)
Dona Rita encontrou o Lado B e fez questão de só tecer elogios à líder (Foto: Silas Lima)
Lado B encontrou com alguns moradores, incluve o irmão de Reinalda, Seu Estanislau (Foto: Silas Lima)
Lado B encontrou com alguns moradores, incluve o irmão de Reinalda, Seu Estanislau (Foto: Silas Lima)

E não falta gente agradecida por sua dedicação. "Ela é nossa mãe, companheira e líder, sem ela nada vai pra frente. Temos aqui nosso 'Pereirão' número 1", brinca dona Rita, uma das mais antigas acampantes.

Boa dona de casa que é, Reinalda não perde tempo. Já espalhou plantas e flores pelos barracos, fez jardim suspenso, construiu casinha de cachorro, arrumou e pintou os pneus da entrada e até poço de mentirinha já ergueu – mas o de verdade, com 6 metros de fundo, também teve sua ajuda. Buscou na internet, encontrou uma referência e pôs em prática a tal da engenhoca com roda de bicicleta que puxa água limpinha para o proveito de todos.

"Me chamam de criativa, mas a verdade que a gente tenta se virar o máximo que a gente mesmo pode. E quando a pessoa se preocupa com conforto assim como eu, não tem jeito, tem que colocar a mão na massa", comenta.

Seu Estanislau mostra como funciona a máquina de puxar água que a irmã criou (Foto: Silas Lima)
Seu Estanislau mostra como funciona a máquina de puxar água que a irmã criou (Foto: Silas Lima)
Sol pode até não dar trégua, mas as flores do jardim suspenso continuam de pé (Foto: Silas Lima)
Sol pode até não dar trégua, mas as flores do jardim suspenso continuam de pé (Foto: Silas Lima)

Já são 8 anos de barraco e participação nas ações coletivas. Antes MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), agora já tem 1 ano de Frente Nacional de Luta Campo e Cidade. E para ela, parece que nada mudou.

"Sobrevivemos com o dinheiro de poucos bicos na cidade. Recebemos algumas doações e agora com essa pandemia teve a ajuda do Auxílio Emergencial. Mas a nossa luta é que sejamos vistos e ouvidos, e não largados como estamos. Tem muita terra boa que a gente poderia estar. Não vamos invadir, a gente só quer mesmo é trabalhar".

Voltando às decorações. "Tem muita gente que para aqui para tirar foto. Quem me dera ter meu pedacinho de terra, você veria, seria muito mais elaborado, mas receptivo do que é hoje. Teria mais galinha, criação de porco, mais natureza", ambiciona a mulher.

Bem, não adianta nem argumentar sobre seu estilo de vida, por mais campo-grandense que Reinalda seja ela não voltaria a morar dentro da cidade, apenas no campo – afinal, o mato já está no seu sangue há muito tempo.

Em um barraco vizinho, Reinalda mostra uma das flores que cultivou (Foto: Silas Lima)
Em um barraco vizinho, Reinalda mostra uma das flores que cultivou (Foto: Silas Lima)

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  • (Foto: Silas Lima)
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