Aos 72 anos, Ilton Silva quer virar grafiteiro e atuar para o cinema
Aos 72 anos, Ilton Silva manuseia os sprays de tinta com curiosidade. Nas mãos de um dos artistas plásticos mais representativos de Mato Grosso do Sul há espaço para canetas acrílicas e palitos de churrasquinhos ao invés de pinceis. Apaixonado por arte desde que desconhecia o significado da palavra, Ilton continua um curioso nato, que investe em novas técnicas e agora diz que vai enveredar para o “grafite”.
Ilton passou o feriado na casa do filho, Juan, que também é artista e apaixonado por música, como o próprio pai diz. Na residência há um quartinho especial nos fundos que serve de ateliê quando Ilton está em Campo Grande. No local há marcas de tinta em vários cantos: cadeiras, pisos e paredes. “Não liga não, pode sentar que não sai na roupa”, brinca.
Uma grande tela surge naquele pequeno ambiente. Colorida com traços diferentes dos habituais, a obra é um “estudo”, como Ilton Silva define. Agora, ao invés de pinceis, ele resolveu investir em sprays de tinta utilizados em grafite e em canetas acrílicas que Ilton descarrega e “enche com tinta acrílica”. “É uma pesquisa de material, estou usando o grafite, estou até pensando em virar grafiteiro agora, para fazer murais grandes. Eu sempre gostei de grafite, mas eu nunca tive uma oportunidade de gostar, de fazer mesmo, e acho que o grafite dentro da minha pintura ele se enquadra bem”, explica.
Ilton nasceu em Ponta Porã, foi nas terras da fronteira do Estado que ele começou a se sentir atraído pela arte. Os primeiros desenhos foram na areia, retratando as benzedeiras da região e o que me via pela frente, do primeiro emprego como engraxate e depois em um barbaquá da região.
“Locais que faziam erva-mate. Peguei um pedaço de galho de erva-mate, desenhava em rostos, desenhava uma benzedeira, elas me marcavam muito, pegavam as crianças no colo e benzia com um ramo. No rio Santo Antônio também. Botava 50 dos trabalhadores, a maioria paraguaio, e benzia tudo la dentro”, relembra.
Depois, começou a frenquentar a escola de uma tia, que o deixava desenhar no quadro negro até tarde quase todos os dias. “Ela dizia que quando eu terminasse era para fechar tudo. Eu passava a noite toda lá, acordado, desenhando”, relembra.
O primeiro quadro foi aos 11 anos de idade. Filho de um ícone das artes plásticas de Mato Grosso do Sul, a escultora Conceição dos Bugres, Ilton tem no sangue o amor pela cultura. “Dizem que para o artista plástico é difícil só os primeiros 70 anos, então agora está começando a ficar fácil”, brinca.
Morando há 15 anos em Itapoá, em Santa Catarina, ele conta que vem em média há cada dois meses visitar Campo Grande e trazer algumas obras. Todas estão à venda, de diferentes fases da carreira. Na cidade que escolheu para viver, ele tem um grupo de teatro intitulado “Viva a Liberdade” e o porto como principal inspiração para os quadros.
Para Ilton, criatividade não tem idade e muito menos limites, é sagrada. “Se eu me limito a um determinado material eu me limito a minha criatividade, porque o mais importante para mim não é pintar, é criar. Criar eu crio com um pedaço de papel, não tenho preconceito com o material, é pano, madeira, pincel, esponja tudo é material para desenvolver a criatividade. Para criar não tem idade”, acredita.
Se alguém achar que os materiais são alternativos, Ilton responde rápido. “Acreditam que são materiais alternativos porque ensinaram que tem que ser pincel, o preconceito não desenvolve a criatividade. Se não tem tinta, você usa carvão”, exemplifica.
A mente inquieta e o amor pela arte parecem só crescer com o tempo. Ilton acredita que não tem vocação para “galã”, mas pensa em cinema e até em novela.
“Eu penso em trabalhar tudo isso e ainda cinema, na Globo. Agora que estou encucado, estou começando a gostar de TV. Nunca fiz cinema. Só alguns vídeos que fizeram meu, o Cândido Alberto da Fonseca (cineasta) está terminando algum de mim. Eu penso em fazer um curta metragem, de uns 15 minutos para começar. Eu vou atuar. Tem que ter alguém para fazer o roteiro, o câmera. Porque eu vou atuar”, aposta.