Catarina Guató vira inspiração para criança “salvar” o Pantanal
Menina é mais uma criada por escritora para mostrar que o povo guató resiste e refletir sobre protagonismo
“Eu não tive essa representatividade na literatura. Sempre li muitos livros sobre homens brancos de escritores que não estavam no nosso Estado”. Com isso em mente, a indígena guató Gleycielli Nonato decidiu, anos atrás, que queria mudar o cenário e, agora, será a única sul-mato-grossense a lançar um livro na Bienal Internacional do Livro de São Paulo deste ano. Focada no público infantil, ela criou Catí, uma menina inspirada em Catarina Guató, que vive para salvar o Pantanal.
A história de Gleycielli com a escrita se vincula às histórias que sempre foram contadas pelas mulheres de sua família, indo desde a bisavó até sua mãe. E, quando teve oportunidade, começou a levar as falas para as páginas.
No caso de “A Revolução da Catí - em busca da semente da vida”, a escritora conta sobre uma união de valorizações. Isso porque tanto as histórias contadas por sua família quanto o destaque aos anciões entram na lógica.
“Catí recebe esse nome em homenagem à Catarina Guató, anciã do nosso povo, doutora honoris causa pela UFMS, detentora do saber de tecer a fibra de aguapé. O livro conta a história de uma menina de oito anos de idade que faz uma aventura em busca da semente da vida, em busca da mãe da mata”, relata.
Especificamente sobre o enredo, a ideia era construir uma heroína indígena ao mesmo tempo em que o cenário envolveria o Pantanal. “Ela sai em busca da semente da vida para reflorestar as áreas queimadas do Pantanal e nessa aventura em busca da mãe da mata, ela vai a todas as etnias de Mato Grosso do Sul e em cada aldeia tem um aprendizado novo sobre natureza e cultura daquele povo”.
A história de aventura produzida em conjunto à ONG Plan International também integra um movimento de “revolucionar” as princesas com novas representatividades.
“Em resumo, é uma história de aventura que mostra o protagonismo indígena e das meninas, das mulheres, mostra sobre o povo guató que já foi considerado extinto três vezes e sempre precisa se reafirmar”.
Para a autora, pensar na produção dos livros e na conquista de chegar aos eventos internacionais leva ao sentimento de novas lutas com resultados importantes. “O fato de eu ser uma escritora indígena guató do Pantanal de Mato Grosso do Sul já é de uma representatividade enorme. Tenho muita noção disso e sei o quanto é importante para as nossas meninas originárias, nossas crianças e para o nosso Estado, nosso bioma”, diz.
Em relação à representatividade, Gleyci também faz questão de explicar que desde sua origem desaldeada até conseguir levar o protagonismo para a literatura, cada detalhe importa.
“Mostrar esse protagonismo é essencial porque temos que ocupar esses espaços da academia, de literatura e espaços intelectuais para mostrar que não estamos aqui para ser apenas uma base de território. Somos parte de toda essa sociedade, somos os ancestrais e podemos ocupar todos os espaços”, completa.
Sobre o lançamento, a obra da sul-mato-grossense com ilustrações de Alexandra Tupi Krenak será no dia 7 de setembro, no stand da Plan Brasil na Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
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