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Artes

Cineasta grava documentário com imagens inéditas de Manoel de Barros

“Manual de Barros – Retrato do poeta quando coisa”, revela, de maneira poética, o processo criativo do poeta

Thailla Torres | 10/08/2019 09:00
Cena de Joel Pizzini com Manoel de Barros durante entrevista.
Cena de Joel Pizzini com Manoel de Barros durante entrevista.

Depois de “Caramujo- Flor”, de 1988, uma recriação livre da obra do poeta Manoel de Barros, o cineasta carioca Joel Pizzini produz um documentário com imagens inéditas do poeta, em entrevista na década de 90. A obra “Manual de Barros – Retrato do poeta quando coisa”, segundo Joel, revela, de maneira poética, o processo criativo.

O projeto é antigo, conta Joel, que sempre quis realizar um ensaio documental a partir de entrevistas e encontros que teve com o poeta. “Basicamente são materiais de arquivo, com imagens inéditas. Mas ainda estou captando inúmeros materiais para compor um afresco com a imagem dele em primeiro plano, em primeira pessoa”, diz.

Joel diz que Manoel autorizou usar sua imagem desde que o trabalho tivesse uma perspectiva poética. “Ele me disse que sua vida não servia nem para anedota, que se eu quisesse fazer um trabalho a partir da poética dele, tudo bem. Depois com o tempo ele aceitou a me dar entrevista. Aliás, as entrevistas que ele dava eram sempre em tom poético”.

No documentário, o cineasta diz que vai considerar o pedido, além do gesto, brilho no olhar e simplicidade. “Isso tem um valor especial, que é recuperar todo esse imaginário, esse olhar, essa intimidade e faceta pouco conhecida dele. É como desvendar o escritório de fazer poesias e sua fonte inventiva”.

Joel diz que pretende compartilhar todo o material para pesquisa. (Foto: Izan Petterle)
Joel diz que pretende compartilhar todo o material para pesquisa. (Foto: Izan Petterle)

Joel lembra que conheceu o poeta numa fase de anonimato, depois, ele se tornou uma figura celebre, mesmo assim, manteve um universo mais intimista ainda não desvendado. “Essa fronteira entre a performance e a timidez é que eu quero”.

A obra em captação foi cadastrada e aprovada em um projeto da Ancine para captação de recursos que garantam sua produção. Além de apoios, Joel também busca o máximo de materiais em imagem sobre o poeta. “Se alguém tiver algo para contribuir, eu tenho total interesse”.

Além de usar a arte do cinema para valorizar a forma com que Manoel fazia poesias, Joel diz que pretende compartilhar todo o material para pesquisa. “Eu pretendo que esse material seja acessível. O filme vai levantar um acervo imenso e quero que ele sirva para outras investigações literárias, isso é muito importante”, avalia.

Ao telefone, o cineasta parece emocionado e não nega a emoção em falar do seu ídolo. “Embora ele gostasse mais da sombra do que do sol, ele é o nosso farol. De alguma forma é o nosso modelo de artista que se impôs sem fazer concessões, se impôs pela intransigência estética. Foi meio século de anonimato e felizmente coincidiu com Caramujo-flor, filme que culminou com reconhecimento público. Então tudo isso tem um valor muito especial”, finaliza.

Caramujo-Flor” (1988) eleito entre os 100 melhores filmes de curta-metragem realizados no Brasil.
Caramujo-Flor” (1988) eleito entre os 100 melhores filmes de curta-metragem realizados no Brasil.

Joel nasceu no Rio de Janeiro, mas aos seis meses de vida foi morar em Dourados. Se considera um cineasta sul-mato-grossense e tem apreço por cada detalhe do Estado.“Como diz o Manoel de Barros, a verdadeira biografia é onde você aprendeu a brincar. Meu universo é Mato Grosso do Sul”.

Teve dois filmes de sua autoria, “Caramujo-Flor” (1988) e “Enigma de um Dia” (1996) eleitos entre os 100 melhores filmes de curta-metragem realizados no Brasil. Seu documentário de longa-metragem, “Mr. Sganzerla” já havia sido escolhido também no ano passado, entre os 100 melhores do país, em levantamento semelhante, organizado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Realizado a convite do Itaú Cultural, o filme-ensaio que investiga a trajetória do cineasta Rogério Sganzerla, “Mr. Sganzerla” foi eleito o Melhor Documentário pelo Júri Oficial, no Festival “É Tudo Verdade” (2012) e Melhor Filme no HBRFF em Los Angeles (EUA).

Atualmente, Pizzini trabalha na montagem de seu novo filme, Zimba, documentário de invenção sobre o ator e diretor Polonês, Ziembinski que revolucionou o teatro brasileiro com a encenação da peça “Vestido de Noiva” de Nelson Rodrigues, em 1943, apresentada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Outro projeto do cineasta segue em curso, o longa Depois do Trem e que será rodado em Piraputanga e no trem do Pantanal.

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