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Artes

Com olhar poético, “O menino que engoliu o sol” fala sobre o medo

Com referências à poesia de Manoel de Barros e a narração de Ney Matogrosso, animação emociona crianças e adultos

Thailla Torres | 14/12/2019 08:42
Ricardo Câmara, Joel Pizzini e Ney Matogrosso durante pré-estreia. (Foto: Toninho Souza)
Ricardo Câmara, Joel Pizzini e Ney Matogrosso durante pré-estreia. (Foto: Toninho Souza)

O garoto é Manoel e leva uma vida no quintal, incomum perto de tantos bichos. Em vez de brincar nas ruas, vira passarinho tocando as águas que falam, enquanto as aves fazem música no varal.

Criado por Ana que lavava, passava e cozinhava todos os dias, Manoel é uma criança que sente medo, muito medo. E ele acha que para resolver o medo dele é preciso comer um pedacinho do sol. O desfecho que o protagonista da série de animação “O menino que engoliu o sol” recebe é uma lição sobre o que fazer com as emoções e a importância do equilíbrio no universo.

Contemplado pelo edital da EBC, da Agência Nacional do Cinema (Ancine), a série produzida pela Polofilme, foi exibida na noite desta sexta-feira (13), durante sessão exclusiva para convidados, crianças da Casa de Ensaio e de escola pública da Capital. A exibição ocorreu com apoio do Sesc Cultura, no Cinemark do Shopping Campo Grande. Em 2020, a série será exibida na programação da TV Brasil.

Ilustração do filme traz técnica aquarela para compor personagem. (Foto: O Menino que Engoliu o Sol/ Polofilme e Patricia Alves Dias)
Ilustração do filme traz técnica aquarela para compor personagem. (Foto: O Menino que Engoliu o Sol/ Polofilme e Patricia Alves Dias)

Cada episódio se sobressai ao exigir um olhar sensível do expectador e apontar como a natureza tem sua poesia em detalhes que, às vezes, são menosprezados por causa da simplicidade. Bonito assistir a coleção de invencionices de um menino que só não queria ver a noite “encostar”, que o calor na verdade adormece enquanto o sol não nasce, que os passarinhos no varal são músicas de bom gosto e arte gratuita na porta de casa, que querer engolir o mundo para se sentir bem também pode provocar um desastre.

As cenas trazem interpretações diversas. Mas uma delas é para todos: o medo consome e às vezes somos engolidos por ele. Como uma boa animação exige, as cenas falam das emoções de maneira muito sútil, colorida e com a poética de Manoel de Barros. É possível assistir e sentir o linguajar pantaneiro, o jeito infantil, às vezes, como o erro assume um sentido poético.

Aliás, as ilustrações de Marcos Vinicius Linux e Paulo Visgueiro são uma beleza a parte. Inspirado na arte de Martha Barros, filha do poeta, a técnica utilizada foge dos desenhos convencionais. A equipe trabalhou a aquarela, com pigmentos que vão se dissolvendo e surgindo formando cada um dos personagens.

Ricardo com as crianças que assistiram a série. (Foto: Toninho Souza).
Ricardo com as crianças que assistiram a série. (Foto: Toninho Souza).

Além disso, a série ainda tem trechos de live-action, com imagens do Pantanal sul-mato-grossense feitas pelo diretor e fotógrafo Maurício Copetti. Uma das cenas arrancou risos da plateia com a audácia e estrelismo das ariranhas.

A narração é de Ney Mato Grosso, com amplitude vocal que possibilita a realização de vários personagens. Ele também cantarolou canções que ele ouvia do avô em Bela Vista, durante a infância.

O cantor esteve na plateia acompanhado de Alzira Espíndola e outros amigos. Assistiu sorridente e com brilho nos olhos. Ao final da exibição pontuou detalhes que podem ser melhorados para que a série se torne um longa-metragem.

Emocionado, falou da oportunidade em fazer parte da produção. “Estar em consonância com o poeta é estar aqui (Mato Grosso do Sul). Tive essa experiência em Caramujo Flor e agora com o Menino Que Engoliu o Sol. Eu me sinto feliz, me sinto forte, me sinto daqui”.

A série, com 13 episódios de sete minutos, é uma adaptação do livro infantil homônimo de Ricardo Pieretti Câmara, que assina também o roteiro com o a diretora Patrícia Alves Dias.

O cineasta Joel Pizzini é o responsável pela supervisão artística da série, que ressalta ainda as belezas da trilha sonora. “A música está bastante ligada a parte instrumental com o som da viola de cocho, que aproxima da realidade pantaneira, da nossa natureza”.

Ricardo também ficou emocionado em ver a história sair dos livros para a tela do cinema. “Eu não me via como menino, eu me via como o sol que acabava sendo engolido em algum momento pelo medo. E é muito gratificante ver uma história como essa, que gera uma série de sentimentos, ganhar outra dimensão. Que a gente consiga levá-la para longe e que caminhemos rumo ao longa-metragem”, finaliza o escritor e roteirista.

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