Com pinturas de corpos pelados e reais, artista reflete sobre o tempo
Na noite da última sexta-feira (8), na Galeria de Vidro da Esplanada Ferroviária, a artista Amanda Dim, de 30 anos, iniciava a vernissage da sua primeira exposição individual com 1h30 e meia de atraso do horário que ela mesma marcou. Ela não se orgulha de atrasos, mas quem vive em um mundo que inclui Amanda, sabe que isso faz tanto parte dela quanto todas as obras da exibição intitulada “O que não muda são as mudanças”.
São, na verdade, quatro exposições compostas em uma só, com títulos que brincam com palavras e as próprias imagens: “RelAções”, “Ama.dure.cer”, “De.vagar” e “Como.ver”. “O tempo vai passando, vamos deixando tantos eus para trás, construindo novos eus e reconstruindo outros eus, nós de nós mesmos”, a artista expressa.
Ela explica que as obras foram feitas entre os anos de 2013 e 2021. “Mudar às vezes me deixa muda, vou construindo silêncios onde com o passar do tempo, planto novas mudas e com o tempo elas vão crescendo silenciosamente e se transformando em novas mudanças”, ela ainda declarou.
A exposição é singela, mas é perceptível que, uma por uma, são um pequeno extrato de como funciona a mente fascinante de Amanda. As pinturas são feitas com diversas técnicas, desde aquarela a técnicas mistas. A maioria de corpos nus e reais - pauta que ela mesma toda a vida como artista sempre reforçou. “Foi uma jornada de autoconhecimento, que, na verdade, nunca para de acontecer. E sobre o que cada uma obra significa, fica a interpretação de cada um de vocês”, Amanda orientou os amigos presentes na inauguração.
Os caminhos da jornalista que aqui escreve e de Amanda se cruzaram pela primeira vez em 2009. Nascida e criada em Campo Grande, ela vivia no mesmo condomínio onde meus pais moraram anos antes da minha chegada à cidade. Encontrei com ela na primeira semana em Campo Grande, em uma apresentação teatral que ela fez na rua. Ela, que nem meu nome sabia, me beijou no rosto e a maquiagem dela manchou minha bochecha, mas eu só percebi em casa.
Quem conhece Amanda sabe que ela é inimiga da timidez, mas isso não a impede de ter momentos de insegurança também. “Cara, estou muito feliz. A primeira de todas”, ela falou baixinho quando a questionei sobre o que estava sentindo sobre a exposição. Ela não tinha uma playlist com músicas definidas anteriormente, mas conectou o celular na caixa de som e entre ela mesma escolher uma música ou outra, perguntava aos convidados qual música queriam ouvir. Tudo isso enquanto engajava em pelo menos três conversas diferentes e ainda distribuía abraços.
Formada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tem experiência como artista e arte educadora nas redes pública e privada, assim como na Casa de Ensaio. E agora tem também assina a primeira exposição individual. Mas que, dada sua natureza acolhedora, amável e festeira, em diversas ocasiões fala que a exposição é de todos. “A graça desse mundo é a subjetividade de cada um”, ela também reforçou durante a abertura.
O passar do tempo define tanto a nossa amizade, quanto também as conversas que temos. Ela foi a primeira pessoa para quem eu liguei quando completei 30 anos, porque o existencialismo é um dos assuntos favoritos dela. Ela é a única que sabe meu mapa astral, mas jamais desrespeitando meus motivos de não querer me envolver com astrologia. São quase 16 anos de tempo entre nós, desde aquele beijo no asfalto, a eu poder ter o privilégio de estar presente na primeira exposição individual e pública da vida dela.
A exposição ficará aberta até o dia 28 de novembro. “Todo mundo precisa de um pouco de loucura. Assim, mas nem tanto”, Amanda ainda aconselha a quem for prestigiar.
O que não muda são as mudanças - Exposição de Amanda Dim
- 08 a 28/11
- Galeria de Vidro
- Esplanada Ferroviária
- Avenida Calógeras, 3143, Centro
- Horário de funcionamento: Seg - Sex: 8h - 20h e Sáb: 08h - 12h e 14h - 18h
* Bárbara Cavalcanti é jornalista, assessora de imprensa e apaixonada pelas artes, que colabora voluntariamente com conteúdos para o Lado B.
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