Contra o preconceito, adolescentes visitam e contam histórias da Cidade de Deus
Aos 17 anos, Karen Adriane da Silva Estra nunca havia conhecido uma comunidade que retirasse o pouco sustento do lixo. Após uma breve pesquisa na internet, a jovem estudante do terceiro ano do ensino médio decidiu que faria algo para ajudar essas comunidades, que são esquecidas por parte da população de Campo Grande, que assim como ela desconhecem a realidade de quem luta pelo básico.
Com o nome da comunidade Cidade de Deus em mãos, Karen abordou o professor de filosofia e jornalista Osvaldo Júnior e pediu ajuda. “Eu tive a ideia ao buscar notícias sobre as comunidades. Depois de pesquisar eu percebi que os moradores da Cidade de Deus precisavam de ajuda e queria fazer uma campanha para arrecadar produtos, alimentos, roupas para eles”, relembra.
A conversa entre o mestre e a aluna fizeram o projeto crescer muito além das doações. Ao perceber o desejo de mudança em Karen, o professor incentivou a aluna a criar a página “Cidade de Deus: Mostra a sua Cara”, que reúne depoimentos, fotos e informações sobre a comunidade.
“A intenção era fazer com que o projeto não se restringisse a proposta assistencialista, que é legal, que ajuda, mas que é pontual. Quis que ela pensasse em uma coisa maior, chamamos alguns alunos, professores, coordenadora e criamos a página com o objeto de reduzir os preconceitos, ajudar a mudar a visão de que na periferia só tem bandido”, acredita.
Karen confessa que só após a primeira visita conseguiu derrubar alguns preconceitos que ela mesma mantinha. “Eu conversei com vários amigos meus e eles também tinha muitos preconceitos com várias comunidades, como o bairro Dom Antônio. Que só tinha bandido, só tinha marginal, que até eu mesmo tinha. Fiquei apreensiva de conhecer o bairro, levar o celular, essas coisas, nós que somos de fora julgamos muito, que só criminalidade e os moradores de lá (Cidade de Deus) se sentem abandonados em relação a segurança pública”, reforça a estudante.
As imagens são de autoria de uma das colegas de escola de Karen, a estudante Sara Rezende, 16 anos. O olhar da adolescente é bem pontual e cheio de estilo, o que torna o trabalho adulto para a idade delas. “A Sara gosta de fotografia, mas ainda é amadora, estamos aprendendo. Nas entrevistas, o professor Osvaldo ajudou bastante”, ressalta Karen.
Osvaldo acredita que os vídeos são fortes e capazes de comover os outros alunos da instituição de ensino, assim como os internautas.
“Uma das senhoras diz uma frase mais ou menos assim: nós 'veve' no lixo, nossa vida é no lixo. Isso é muito forte, eles dependem do lixo para sobreviver, são catadores, é do lixo que saem os materiais para fazer os barracos. Está do lado deles o tempo todo”, frisa.
Para o professor, o primeiro retorno é a quebra do preconceito, seguido das doações. “Apresentamos o trabalho delas em sala de aula, muitos não achavam que existia, sabiam que tinham favelas, mas não como era, não tem ideia da precariedade, de uma família sobreviver com R$ 250,00. A ideia da favela é aquela coisa comum, com muito preconceito e bandidos”, explica.
Osvaldo ainda acrescenta que a comunidade recebeu muito bem com os alunos, com desejo de falar. “Eles contaram as histórias de vida”.
Quem quiser conhecer o projeto clique no link.
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