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Artes

Delinha trocou conhaque pela água, 2 maços por 2 cigarros, e não perde majestade

Bosco Martins, especial para Lado B | 19/02/2017 07:10
Delinha com fã, durante festa na Colônica Paraguaia.
Delinha com fã, durante festa na Colônica Paraguaia.

Com uma garrafa de água mineral na mão no lugar do conhaque, Delinha inicia mais um show, em outro dia de glória da Dama do Rasqueado. No dia 5 de fevereiro, o palco foi festa da Colônia Paraguaia, em Campo Grande.

Nos primeiros acordes do violão tocado pelo filho João Paulo, o delírio já era total com a plateia ainda aclamando e gritando o nome dela. Toda feliz, de cima do palco se deliciava, ainda com um sorriso largo, abanando as mãos e enviando beijos para seu público.

Delanira Pereira Gonçalves pode ser pouco conhecida pelo seu nome de batismo, mas a trajetória artística, embora não a tenha enriquecido, a tornou uma das cantoras/compositoras mais amadas de Mato Grosso do Sul.

Desde o primeiro momento que chegou à Colônia, por volta das 9 horas da manhã de um domingo, não teve um minuto sequer de sossego. Ia de uma mesa à outra fazendo selfies e dando autógrafos nos lugares mais estranhos, como na cuia de tereré feita em chifre de boi ou em chapéu de couro.

O assédio era tanto que Delinha dizia se sentir ansiosa para cantar, “igual uma guria estreante”. Antes, o filho João Paulo já havia antecipado que a mãe acordara às 3 horas da manhã, para lavar pratos e roupas, tentando diminuir a ansiedade, enquanto aguardava o momento da festa.

Além do conhaque, na nova fase da vida, Delinha trocou os dois maços de cigarro que fumava diariamente por apenas dois cigarros. Agora, fuma um pouquinho e apaga para economizar e dar outra tragada mais tarde. Não quer infringir o compromisso com o médico e o filho, que cobram dela a diminuição do cigarro.

Na festa, apesar de diversos grupos e cantores baleiros também bastante admirados pelo público, não havia como não se impressionar com o carisma da artista que por onde passava recebia o convite para fotos ou uma prosa.

Afinal, não é todo dia que Delinha tem tamanha energia para seu público. “Meu sonho agora é usufruir mais do carinho de meus fãs”, justificava nossa pop star, com modelito fashion de sainha rodada, maquiagem impecável, batonzinho vermelho nos lábios e, o principal, a voz poderosa no palco.

A felicidade no rosto de quem é amada.
A felicidade no rosto de quem é amada.

Na batalha - Delinha estreou na música no final da década de 50, mas nunca ganhou o que merecia. “Se não houve monetariamente uma ascensão é porque não era para ser. Deus é maior”, diz.

Hoje, recebe benefício do LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social). “Os políticos já propuseram aposentadoria vitalícia de montão, nunca sai do papel. Délio e Delinha foram os primeiros a sair daqui para levar o rasqueado para São Paulo. Mas o Délio faleceu de um câncer se tratando na saúde pública. Até a última gota de vida, ele estava cantando para poder sobreviver”.

Pensando nos amigos, a revolta com a falta de reconhecimento se estende por outras duplas do passado. “O Amambai e Amambaí, por exemplo, tinham que ter uma ajudinha. Na velhice, você já não tem aquela vontade de cantar. Você vai porque precisa", argumenta.

A vida nunca foi moleza, e continua sem dar descanso. “Vivo na mesma casinha. Tem a música que fiz para ela: ‘Velha Casinha’. Me levanto às 03h30. O meu filho João Paulo tem que estar às 5 horas na Rádio Educativa, onde trabalha. Então, faço café e depois lavo roupa e passo e já vou pensando o que não fazer o almoço”.

Mesmo assim, ela agradece a quem costuma receber ataques de quem é das antigas, como o povo do sertanejo universitário. “Não é meu estilo, mas a turma gosta, como gosta do meu rasqueado, não posso falar mal. Já fiz shows com essa gurizada e eles adoram e cantam comigo as minhas músicas. Vez ou outra, onde cantam levam alguns artistas de raiz para cantar."

A felicidade volta ao rosto ao lembrar que ainda consegue renovar o perfil dos fãs. "Estive na Valey. A meninada veio toda para cima de mim, filmando e fotografando. Os pais deles então, me adoram. Esse carinho passou de pai pra filho, não tenho o que me queixar. Não existe isso aí de injustiça. Cada qual, é cada qual. Eu que tenho que fazer pela minha própria vida. Eu que tenho de fazer justiça, porque esse povo gosta de mim. Tem até um povo do sertanejo que me ajuda, manda dinheiro para mim, só agradeço”.

Apesar dos muitos pesares, Delinha diz que faria tudo novamente pela arte. “Só me arrependo do que eu não fiz. O arrependimento é ruim. A consciência pesada é péssima”, ensina.

Eu e Delinha, em um bate-papo animado.
Eu e Delinha, em um bate-papo animado.
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