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Artes

Em MS realidade é cruel, só duas famílias resistem com circo de lona

Irmãos, Hugo e Wagner criaram dois circos com suas famílias para manter tradição

Por Aletheya Alves | 21/10/2024 06:40
Ato com tecido é uma das atrações do Top Circo. (Foto: Divulgação)
Ato com tecido é uma das atrações do Top Circo. (Foto: Divulgação)

Em Mato Grosso do Sul, o circo é formado por artistas de rua, profissionais que se desenvolveram em escolas circenses e aqueles que mantêm história familiar com a lona. A última, mais antiga e tradicional, tem uma realidade cruel por aqui com apenas duas famílias tentando resistir. E, na verdade, o tronco é o mesmo, ambos Perez que se dividiram em dois novos circos com suas famílias atuais.

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Em Mato Grosso do Sul, a tradição circense familiar luta para sobreviver, representada pelas famílias Perez, que se dividem em dois circos. Hugo e Wagner Perez, descendentes de uma longa linhagem de artistas circenses, enfrentam desafios para manter viva a arte tradicional, principalmente em relação à competição com artistas formados em escolas circenses. A falta de apoio e a dificuldade de acesso a editais, que não são específicos para circos de lona, colocam em risco a continuidade da tradição, que se baseia em números clássicos como tecido, lira, palhaços e mágica. Apesar das dificuldades, a paixão pela arte circense e o desejo de transmitir a tradição para as próximas gerações impulsionam Hugo e Wagner a continuar lutando pela sobrevivência do circo tradicional, buscando um futuro digno para a arte que os acompanha desde a infância.

Diariamente, Hugo Ienoar Perez e Wagner Perez se forçam a continuar acreditando no potencial circense tradicional. Entre as dificuldades, os dois destacam que competir com artistas que se formaram seguindo a escolarização tradicional é o mais difícil. Então, na hora de competir em editais, a história é triste.

Na família atual, o grupo é composto pela mãe, Suely de Campos Perez, a esposa, Elenita Cristina da Cruz Peres e pelas duas filhas, Yasmin da Cruz Perez e Ysabella Fátima Fernandes Perez.

Hugo narra que seus avós por parte de pai saíram do México quando seu pai tinha apenas dois anos. Eles passaram pela Bolívia e entraram no Brasil por Dourados. Pediram a naturalização e ficaram por aqui.

“Meu avô era mexicano e minha avó era argentina. Vieram sozinhos aqui para o Brasil e foram trabalhar em um circo que estava na cidade em que ficaram. Iliocham Ponche da La Varga, o grande mágico, e Irene Moreira Perez, sua esposa”, explica Hugo.

Seus avós passaram por vários países após a 2ª Guerra Mundial, mas foi no Brasil que realmente se estabeleceram. E aqui é que sua mãe, Suely, conheceu seu pai, Paulo Vitor Perez.

Registro antigo de apresentação feita pelos Perez. (Foto: Arquivo pessoal)
Registro antigo de apresentação feita pelos Perez. (Foto: Arquivo pessoal)

“Eles construíram família comigo, meu irmão e minha irmã. Todos nós nascemos debaixo de lona de barraca, passando de pai para filho até chegar a mim, meus filhos e netos. Atualmente, tenho meu circo, o Top Circo, com meus filhos, mãe e esposa”.

Hugo segue com a lona própria e pessoas em geral podem contratar a família para apresentações do espetáculo tradicional. Nele, há números como o tecido clássico, lira americana, palhaços, dança árabe, atrações mágicas e show infantil.

Família ainda mantém tenda para seguir com tradição. (Foto: Divulgação)
Família ainda mantém tenda para seguir com tradição. (Foto: Divulgação)

“O amor ao circo e à nossa tradição, amor em levar a alegria para todos é o que nos motiva. Enquanto existir o sorriso de uma criança, o circo jamais morrerá. Hoje estamos infelizmente parados sem o apoio de ninguém. Depois da pandemia tudo ficou difícil, mas temos toda a documentação necessária e esse é só um trechinho da nossa história”.

Na prática, para manter tudo isso vivo e não abandonar a ideia de vez, ele garante que o cotidiano é bastante duro, já que precisam dividir os editais públicos com artistas de escolas-circo, algo diferente da herança familiar itinerante. É o que também alega o irmão, Wagner.

Circo do Bolachinha está levando apresentações para o Interior com a Fundação de Cultura. (Foto: Divulgação)
Circo do Bolachinha está levando apresentações para o Interior com a Fundação de Cultura. (Foto: Divulgação)

Como os dois foram criados em uma rotina de trabalho itinerante, Wagner argumenta que os estudos também são diferentes. Hoje, tanto ele quanto Hugo sofrem na busca por editais justamente por esse motivo.

Wagner é proprietário do New York Cirkus que, devido à falta de verba, tenta sobreviver com um espetáculo ao invés da estrutura completa. Atualmente, ele leva o Circo do Bolachinha quando é contratado por prefeituras e ações do governo estadual.

“É difícil viver da cultura circense porque temos muita dificuldade em conseguirmos editais. A gente não teve muito estudo porque nossa vida foi montando tenda, limpando terreno para levantar o circo. E o problema é que os editais não são específicos para circo de lona, por exemplo, eles englobam tudo”, relata Wagner.

Para quem não conhece o cenário, ele descreve que há artistas de rua, circos tradicionais de lona (como é o caso da família Perez) e profissionais formados em circos-escola. Nesse sentido, ele e o irmão defendem que haja uma mudança nas contratações para possibilitar o acesso dos variados artistas.

“Continuamos levando as apresentações do circo para eventos e o que motiva a gente continuar é que a gente ainda tem sonho de termos um circo digno, que possa atender bem as pessoas com cadeiras novas, uma estrutura melhor. Queremos continuar passando a tradição para os filhos e que eles continuem, mas precisam de incentivo porque, caso contrário, vai se perdendo no caminho”, completa.

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