Escrita à mão diminui, mas ainda há quem trabalhe desenhando letras
Apaixonadas pelo “lettering”, profissionais contam sobre como transformaram gosto em trabalho
Encontrar quem continue se dedicando à escrita manual se torna cada vez mais incomum em um cotidiano repleto de telas. Mas, enquanto isso, ainda há aqueles que seguem apaixonados e decidiram trabalhar desenhando letras. E, no caminho, esses profissionais salvam quem gosta da arte, mas não conseguem aplicá-la.
Pensando nisso, o Lado B convidou três profissionais da área para te ajudar na hora de encontrar o serviço e contar sobre como o gosto pelas letras desenhadas segue permanecendo.
Lara Dias: No caso de Lara, o lettering surgiu a partir do amor por desenho e caligrafia. Tanto que seu primeiro trabalho foi em casa, quando decidiu reformar uma parede e, seguindo algumas referências, transformou a parede preta.
“Depois disso eu descobri que existia a arte de hand lettering que une escrita e desenhos numa só arte. Me apaixonei completamente. Foi a partir daí que decidi me profissionalizar e iniciar a minha carreira de artista de hand lettering. E venho me apaixonando mais e mais a cada dia que passa”.
Ao todo, são mais de seis anos personalizando objetos variados, incluindo mais de 100 paredes espalhadas por Campo Grande (em academias, hospitais, escolas, casas, restaurantes e hamburguerias).
Em seu cotidiano, é realmente o amor pelo lettering que a faz seguir no ramo. “Acredito que a arte tem o poder de trazer aconchego, leveza, conforto e alegria para vida das pessoas.
Um ambiente sem cores e desenhos jamais traria essas vantagens. Fico triste ao ver que de um modo geral as pessoas não apreciam mais a arte como antes e querem trazer a cada dia mais o digital aos seus negócios. Comparando um ambiente com adesivos que desbotam e descolam da parede com o tempo, e uma arte feita à mão, a arte com certeza tem inúmeras vantagens”.
Já sobre a forma com que trabalha, ela explica que costuma conversar com os clientes e, após entender o caso, cria um esboço digital único.
Parte dos seus trabalhos estão disponíveis no perfil do Instagram @gotadegiz.
Bárbara de Melo: em 2018, quando estava cursando sua graduação em Publicidade e Propagando, Bárbara começou despretensiosamente. A ideia veio por gostar de papelaria e coisas relacionadas à arte.
Comecei a ver algumas coisas de lettering no Pinterest e passei a treinar. Nesse começo, era muito mais um hobby pra esvaziar a mente mas, com o passar do tempo, fui percebendo que dava pra apostar como um ponto profissional também. A partir daí foram surgindo alguns trabalhos e eu abri um Instagram só pra isso, pra centralizar meus trabalhos e ficar mais próxima do nicho”.
Sem ter um produto específico que pode ser personalizado, a publicitária explica que basicamente tudo por ser usado com o lettering. Desde balões para aniversários, xícaras, canecas e convites de casamento até itens de decoração, paredes e vitrines, tudo entra no pacote.
Em resumo: “se tem uma superfície que a gente consegue escrever, conseguimos aplicar o lettering”.
Falando pessoalmente sobre o gosto, Bárbara comenta que permitir a personalização é o que faz da arte tão interessante para si. “Podemos fazer tudo do zero e nenhum trabalho será igual ao outro. Além de poder ver a minha arte participar de momentos especiais das pessoas como comemorações, casamentos, festas de aniversário, de despedidas…”.
Já sobre o cenário em que a escrita à mão, assim como uma variedade de artes manuais, vêm diminuindo, ela argumenta que o contexto é complicado. “A arte e os trabalhos manuais ainda não recebem a devida valorização. Então, por vezes, não fechamos os trabalhos porque o cliente achou caro por ser ‘só uma escrita’”, exemplifica.
Para quem quiser conhecer os trabalhos de Bárbara, o perfil no Instagram é @ababsquefez.
Ludi Mello: Assim como Bárbara, Ludi se conectou às letras desenhadas por hobby, mas durante o ensino médio. Ela conta que passava horas criando, vendo vídeos e tentando aperfeiçoar os traços.
Assim que saí da escola, em 2020, não tinha a intenção de trabalhar com isso e nem sabia se teria campo de trabalho na cidade. Foi quando surgiu a oportunidade de dar aula de lettering em uma papelaria, e foi assim que comecei, logo depois foram surgindo encomendas de canecas e outros produtos, cartões para floricultura e então percebi que o lettering poderia ser mais que uma renda extra e poderia sim começar a ser meu trabalho de fato”, descreve.
Atualmente, seus serviços se encaixam em balões, paredes, canecas, taças, vitrines e caixas, assim como outros itens que aceitem a personalização. Ludi também cria as artes “na hora”, dá aulas e workshops sobre a prática.
Já sobre o cenário atual, ela comenta que a presença desse tipo de arte está cada vez mais escassa. “Ora por falta de mais artistas nesse ramo, ora por estarmos sendo 'substituídos' por impressoras. Mesmo sabendo que viver de arte hoje não é fácil, desejo coragem e espero ansiosa para conhecer os novos artistas que pretendem trabalhar com isso. As impressoras podem parecer potentes, mas as nossas mãos são capazes de transmitir emoção, cuidado, carinho e amor”.
Os trabalhos de Ludi estão disponíveis no perfil do Instagram @ludilettering.
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