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Artes

Família recupera imóvel de 72 anos para continuar história de Manuel Secco Thomé

Projeto é fazer de casarão na 14 de Julho uma fundação tecnológica e cultural, no endereço de um dos maiores construtores da história de MS

Thaís Pimenta | 23/04/2018 06:10
Casarão num registro antigo. A obra foi construída pela firma da família e carrega 72 anos de história. (foto: Acervo Pessoal)
Casarão num registro antigo. A obra foi construída pela firma da família e carrega 72 anos de história. (foto: Acervo Pessoal)

Das recordações do avô Manuel Secco Thomé, Miska Thomé decidiu fazer mais do que só resgatar uma grande história de vida. Desde que se aposentou, assumiu o desafio de criar o  Centro Cultural e Tecnológico Manuel Secco Thomé na última casa onde o avô morou, um enorme casarão na Rua 14 de Julho, no Centro de Campo Grande.

No dia 17 de abril deste ano ele completaria 131 anos de vida e, por isso, a data de inauguração da primeira fase da fundação ocorreu no dia 18, com audição dos Trovadores do Tempo, grupo do qual a neta participa. "Eu convivi  pouco tempo com ele, mas sempre estive em contato com o que a família conta. Me recordo de momentos nesse casarão, mas o que ele vivenciou antes, quando chegou em Mato Grosso do Sul, direto de Portugal, eu só fui conhecer depois".

Hoje o nome de Manuel Secco Thomé está nas ruas, vilas e até em postos de saúde, tamanha a importância para o desenvolvimento da cidade e Mato Grosso do Sul. Conhecido pelo trabalho como tanoeiro, marceneiro e carpinteiro, forneceu por anos dormentes para a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil, quando ainda mantinha serraria em Terenos, e como consequência contribuiu para que outros imigrantes, assim como o português, viessem para o então Mato Grosso uno.

Thomé. (foto: Acervo Pessoal)
Thomé. (foto: Acervo Pessoal)

"Lembro que em dado momento tomei consciência de que não poderia agir como uma campo-grandense 'normal' porque a história da minha família tem a ver com a história do Estado. Como comunicadora não poderia deixar essa história se perder. Daquela época só tem a minha mãe e uma tia minha e as duas já estão bem velhinhas", justifica.

Em 1924, de acordo com a neta, Manuel e seus irmãos, Joaquim e Antônio, abriram a primeira empresa de sucesso da família, a Thomé e Irmãos, já em Campo Grande, e foi com ela que se firmaram como grandes construtores em todo o Estado. Era uma espécie de parque industrial na região onde hoje está a Orla Ferroviária, composta de serraria, carpintaria, marcenaria, fundição e oficina mecânica.

Para se ter uma ideia, foram eles quem fizeram a ponte sobre o rio Coxim, em 1939, os quarteis do Amambai, as vilas de oficiais na Barão do Rio Branco, a reforma e ampliação do Quartel da 9ª Região Militar, o Colégio Dom Bosco, os Correios, e tantas outras importantes obras de Mato Grosso do Sul. "Além de construtor, ele também foi a cabeça pensante por trás do Rádio Clube", diz a neta.

Os herdeiros não negaram o sangue que corre nas veias e puxaram a habilidade do avô. Todos sabem fazer de tudo um pouco e têm facilidade com trabalhos artísticos manuais. "A gente tem essa veia empreendedora, de estar sempre em movimento. Acho que é além do sangue, é criação", completa Miska.

Casarão era alugado pela Ecoa. (foto: Acervo Pessoal)
Casarão era alugado pela Ecoa. (foto: Acervo Pessoal)
Vô Thomé, Miska e seu primo. (foto: Acervo Pessoal)
Vô Thomé, Miska e seu primo. (foto: Acervo Pessoal)

O casarão da fundação estava alugado para a Ecoa, ONG de engajamento ambiental, mas por uma coincidência do destino, eles passaram a alugar só o segundo andar do espaço, o que facilitou todo o processo. "Nós também propomos a questão do compartilhamento mesmo, até para ajudar a gerar renda. Eles acharam a ideia bacana, nós também".

Por ser uma construção antiga, de 72 anos, feita pela firma dos irmãos, era de se esperar que precisasse de alguns reparos. Por isso, a primeira fase do projeto consistiu na revitalização das paredes, da parte hidráulica, elétrica, da pintura e da marcenaria. "Agora estou terminando de restaurar o piso e vamos mexer com a parte de iluminação. Falta mexer na área de serviço da casa, no pomar e em uma outra área que é um galpão no qual queremos usar para apresentações musicais, teatrais e de dança", detalha.

Mesmo sem estar 100% nos conformes, a família já decidiu abrir as portas do Centro para aluguel de eventos. "Tudo isso que estamos fazendo, eu, meus filhos, minha sobrinha, ocorre em família, mas precisa de verba e é importante deixar claro que buscamos sim ajuda com patrocínio de pessoas que entendem da importância dessa história, das outras famílias que eram amigas do avô também, por exemplo".

Com o trabalho formiguinhas, pouco a pouco, e a longo prazo, o Centro Cultural passa a tomar forma de Fundação. Toda a família está empolgada em pegar no batente para homenagear e manter viva a história do pai, vô e bisavô dos Thomé. 

"Meus dois filhos, em suas áreas distintas de formação, estão ajudando, o arquiteto Juliano Thomé e o Cácio Thomé de Faria, que mesmo morando na Bélgica está ligado e ajudando como pode, pensando na sua profissão também de engenheiro mecânico. Uma prima minha, a Vitória Thomé Malulei, também decidiu fazer seu projeto de Conclusão de Curso em Arquitetura sobre a revitalização da casa e todo mundo que pode dá uma forcinha", finaliza Miska.

O casarão fica na 14 de julho, 3169, próximo a Feira Central e está aberto a visitação e para aluguel do espaço.

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Casarão ganhou iluminação especial no dia de sua abertura como Centro Cultural. (Foto: Acervo Pessoal)
Casarão ganhou iluminação especial no dia de sua abertura como Centro Cultural. (Foto: Acervo Pessoal)
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