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Artes

Para superar violência e viver a arte, coletivo batalha por autonomia

Grupo fundado por transexuais venceu prêmio do Governo Federal e líder explica importância do incentivo

Por Aletheya Alves | 25/01/2025 08:04
Para superar violência e viver a arte, coletivo batalha por autonomia
Ação realizada pelas ruas de Campo Grande. (Foto: Divulgação/De Trans pra Frente)

Há dois anos batalhando para superar as violências cotidianas e mostrar que a arte pode mudar vidas, o coletivo De Trans pra Frente é exemplo de como conseguir autonomia é um desafio necessário. Na prática, não depender de parcerias o tempo todo e ter sua própria estrutura acaba sendo essencial. Com isso em mente, a líder do movimento explica sobre como a existência de editais e premiações ajuda a salvar histórias.

Em 2024, o grupo foi contemplado pela LPG (Lei Paulo Gustavo), através da Fundação de Cultura, e, agora, levou o Prêmio Cidadania na Periferia, do Governo Federal. Na LPG, o incentivo foi para realização do espetáculo “Culto das Travestis”, uma performance executada na Esplanada Ferroviária e Armazém Cultural.

Mais recente, o reconhecimento veio da premiação realizada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania em parceria com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Neste caso, foram destinados R$ 50 mil para que os contemplados pudessem investir nas organizações como um todo.

De acordo com a produtora cultural Emmy Mateus, mais de 200 iniciativas se inscreveram na categoria “Cidadania LGBTQIA+, em que o grupo se enquadra. Essa premiação contempla coletivos e iniciativas que atuam diretamente no enfrentamento às discriminações e violências. E uma especificidade é que a premiação foca na população das periferias.

“O prêmio contribui muito para que a gente consiga alcançar mais editais. [...] é uma forma de sermos reconhecidas enquanto produtoras e agentes culturais e significa que temos nossa iniciativa e trabalho reconhecido pelo Ministério dos Direitos Humanos”, explica Emmy.

Para se ter dimensão da importância de incentivos como este é necessário relembrar o cenário campo-grandense e de Mato Grosso do Sul. Conforme uma pesquisa do GGB (Grupo Gay da Bahia), a organização mais antiga não governamental da causa na América Latina, Campo Grande é a 5ª capital mais perigosa para a comunidade LGBTQIAPN+.

E, ainda sobre o prêmio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, foi informado pela assessoria que 107 iniciativas foram contempladas no país como um todo, considerando todas as categorias (além da LGBT). Sendo que os eixos temáticos foram comunicação comunitária e educação popular dos Direitos Humanos; Cidadania LGBTQIA+; Acessibilidade e participação social de pessoas com deficiência; Proteção integral de crianças e adolescentes; Educação para toda vida: iniciativas baseadas na educação popular para pessoas idosas; e Soluções comunitárias para segurança alimentar e alimentação saudável.

Para superar violência e viver a arte, coletivo batalha por autonomia
Edição do "piquenique trans", desenvolvido pelo coletivo no Parque das Nações Indígenas. (Foto: Divulgação/De Trans pra Frente)

Planejando ações

O objetivo de base do coletivo é justamente pensar ações que vão contra violências variadas. “Nosso trabalho traz encontros que proporcionam saúde e não só na questão física, mas psicológica. Os ambientes são de acolhimentos e nós ouvimos, nos articulamos para ressignificar as violências que sofremos individual e coletivamente”, argumenta Emmy.

Fundado em 2023, o coletivo atua na produção de espetáculos teatrais (como o ‘Culto das Travestis’), intervenções urbanas (exemplos são atividades questionando o preconceito em ruas, como foi feito na 14 de Julho, em 2024) e encontros destinados aos seus semelhantes (como as edições do ‘piquenique trans’, em que os participantes conversam sobre os desafios, formas de se ajudar e ações que têm sido desenvolvidas).

O que há em comum entre as ações é o foco em questionar as discriminações, além de oportunizar espaços para que essas pessoas possam dialogar e ser acolhidas. “Nós sempre queremos criar espaços de combate em vários âmbitos contra essas violências a partir da arte, da educação e da cultura ballroom e LGBTQIAPN+”.

No caso do prêmio nacional, houve a destinação de recursos em dinheiro para investir em ações e materiais que ajudem a dar continuidade do trabalho desenvolvido.

Sabendo das dificuldades cotidianas, o grupo decidiu usar a verba para comprar equipamentos que garantam a liberdade nas ações. Assim, não será mais necessário depender da boa vontade alheia.

“A intenção é abrirmos espaços para que outras pessoas possam dar suas ideias e transformar em projeto, queremos sempre agregar pessoas para levarmos a pauta para novos lugares. Isso para que a gente tenha de forma digna nosso trabalho e nossa vida respeitada”, completa Emmy.

Para superar violência e viver a arte, coletivo batalha por autonomia
Um dos focos do coletivo é realizar atividades teatrais. (Foto: Divulgação/De Trans pra Frente)

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