Chile rompe ceticismo e “entra de cabeça” na Rota Bioceânica
Riedel destaca compromisso de Boric com a obra; novo encontro para afinar negócios será em MS
Uma rodada de negociações que reuniu nesta quarta-feira em Brasília, o presidente do Chile, Gabriel Boric Font, o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, a ministra do Planejamento, Simone Tebet e delegações de empresários dos dois países, terminou com a decisão oficial de destravar, dentro de dois meses, todos os obstáculos para a implementação da Rota Bioceânica Capricórnio. O empreendimento vai ligar os oceanos Atlântico e Pacífico através do Chile, Paraguai e Brasil após a conclusão da ponte binacional, entre Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta, no Paraguai, prevista para maio de 2026.
RESUMO
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O Chile, representado pelo presidente Gabriel Boric, e o Brasil, com o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, decidiram acelerar a implementação da Rota Bioceânica Capricórnio, que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico através do Chile, Paraguai e Brasil. A ponte binacional entre Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta, no Paraguai, deve ser concluída até 2026, com toda a obra finalizada em 2027. A rota promete aumentar a competitividade de produtos sul-mato-grossenses, como a carne, e ampliar o comércio com o Chile e mercados asiáticos. Investimentos chilenos e brasileiros estão previstos para viabilizar o projeto, que também busca atrair a iniciativa privada para organizar o fluxo comercial.
Riedel afirmou que a presença de Boric no evento e a forte participação do empresariado chileno demonstram “o compromisso dos países envolvidos nesse projeto e, principalmente, as oportunidades que devem ser concretizadas”. Segundo ele, toda a obra deve ser concluída em 2027.
Ficou acertado, a pedido do próprio Boric, que em dois meses autoridades e empresários farão um novo encontro, desta vez em Mato Grosso do Sul para, segundo o governador, fazer “aflorar as oportunidades de negócios para quando a Rota entrar em operação.”
Coordenadora do projeto no Brasil, a ministra Simone Tebet considerou a decisão de Boric um grande avanço. “Como o Chile está mais distante de nossa fronteira, havia um certo ceticismo porque esse é um sonho antigo, de 50 anos. Mesmo tendo participado de uma mesa com o presidente Lula e comigo, a portas fechadas, pra tratar da Rota, o presidente Boric veio com seus ministros e a delegação de empresários para dizer que o Chile está 100% comprometido com a Rota.”
O novo encontro, a se realizar em Mato Grosso do Sul, foi uma sugestão do presidente chileno. “Eles agora estão no cobrando. Saíram do ceticismo para uma vontade absoluta de que esse projeto saia do papel o mais rápido possível”.
A ministra avalia que os estados mais favorecidos pela Rota são os fronteiriços, especialmente Mato Grosso do Sul, que tem grande capacidade de atrair investimentos privados e ampliar o comércio com uma rota de escoamento pelo Pacífico. Ela citou, como exemplo, os recentes investimentos de US$ 5 bilhões pela Arauco Celulose, provavelmente entre os maiores investimentos privados recentes no Brasil.
“Não tenho dúvida de que o setor privado vai aonde tem oportunidades. E o Mato Grosso do Sul ganha dos demais estados do Brasil com essa Rota pela proximidade da obra. Nenhum estado é mais próximo do Paraguai e do Chile, na Rota 4, do que Mato Grosso do Sul.”
O entendimento da ministra é de que alguns produtos sul-mato-grossenses tendem a ficar mais competitivos em relação à média nacional. Um exemplo é a carne. “Quando você olha, por exemplo, a questão da carne que exportamos, ela será exportada com muito mais rapidez em um tempo e numa distância mais curta. A nossa agroindústria ficará mais competitiva, porque chega mais rápido e mais barata no Chile. Ou seja, o Chile, ao invés de comprar de fora, agora vai comprar de nós.”
O governador Eduardo Riedel destacou que Mato Grosso do Sul deve ampliar o fluxo comercial. “Exportamos mais de US$ 300 milhões para o Chile, enquanto que do Chile para Mato Grosso do Sul são US$ 290 milhões. A Rota abrirá oportunidades para exportação via Chile de uma série de produtos brasileiros, que vão como destino final para Ásia.” O governador avalia que a guerra comercial entre EUA e China favorece Mato Grosso do Sul através de negócios que se abrirão no percurso da Rota Bioceânica, que inclui também a Argentina.
Investimentos no Chile - Na visita ao Brasil, sem citar valores, Boric apresentou o plano de investimentos públicos ao empreendimento no trecho chileno até a fronteira com o Paraguai, entre os quais, estão ampliação de obras portuárias e, caso necessárias, também viárias, que serão as portas de entradas de brasileiros ao país e, por tabelam, aos mercados asiáticos.
Do lado do Brasil, os investimentos federais para a construção da ponte binacional estão incluídos no Novo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), um montante de R$ 500 milhões, segundo o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck. “Hoje as obras dessa ponte estão quase 70% construídas, com recurso de Itaipu. Em termos de infraestrutura, todos os projetos necessários para implementação da Rota estão em andamento”.
Ampliação de mercado - O desafio, agora, segundo Verruck, é o envolvimento da iniciativa privada nas operações para organizar o fluxo de comércio entre os dois países. “Hoje Mato Grosso do Sul representa 17% do mercado chileno de carne. Com a Rota, a gente consegue ampliar isso para 30%”, prevê.
Com a expectativa de que os negócios sejam consolidados, o secretário defendeu o avanço da tramitação do Tratado Internacional Rodoviário (TIR), no Congresso Nacional. A ideia é facilitar a questão alfandegária do percurso da Rota.
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