Kim usa telas para fazer as ‘pazes’ com o passado da família
Através das obras, artista expressa toda sua ancestraliedade
O gosto pela pintura antecedeu a graduação de artes visuais, porém foi na faculdade que Kim Matos, de 25 anos, percebeu que pintar telas era sua grande paixão. Durante a pandemia, a experiência de viver no mato e longe da cidade rendeu para a artista uma nova perspectiva sobre a vida e a arte. Hoje, Kim produz telas que refletem espiritualidade, a natureza do cerrado e a ancestralidade das mulheres da família.
A 'artista do cerrado' comenta sobre a trajetória que teve início em 2021 e resultou na nova produção artística. “Sai da faculdade e me afastei para encontrar uma identidade visual. Então, chegou a pandemia e fui pro meio do mato fazer experimentações com um grupo de amigos”, lembra. Ao retornar para Campo Grande, Kim sentiu a necessidade de voltar a ‘conversar’ com a natureza e permanecer ligada a esse lugar.
Além de pintar telas, ela também usa a poesia e a escrita desses pensamentos e emoções para expressar sua arte. Kim relata a forma como foi transformada por essa vivência. “Começaram a nascer pinturas comigo nesse diálogo com a natureza e cerrado. Sempre escrevi muito sobre esses questionamentos da existência humana, pertencimento, espiritualidade e tudo isso que me construiu. A partir daí nasceu a primeira pintura que fala sobre o não pertencimento ao corpo”, explica.
A obra citada por ela é “Sobreposições de nós”. A pintura a óleo faz referência aos cipós encontrados na natureza e a liberdade desses fios soltos. Outro aspecto observado pela artista é a forma como eles se entrelaçam, sendo capazes de juntar as raízes e engolir as árvores. A tela, assim como a maioria da coleção composta até o momento por oito quadros, tem o azul como cor principal.
Conforme Kim, as telas e o trabalho artístico levam em consideração a ancestralidade. Ao analisar a história e as ‘dores’ das mulheres da família, ela conta ter entendido como a natureza moldou a origem delas. “No meio disso tem minha busca familiar para me compreender. Minha família veio da beira do rio e as histórias dela sempre voltam para a natureza, mas é algo que dói muito. Elas sofreram um processo de urbanização muito forte e hoje nenhuma delas gosta de ir pro meio do mato”, explica.
Com as telas, ela destaca que retoma a esse passado em meio a natureza, mas não no contexto de sofrimento e sim de reconciliação. “Minha retomada é de tentar me associar com a natureza com mais leveza e carinho. É como se eu apaziguasse minha corrente familiar, é uma forma de fazer as pazes”, diz.
Na internet, a pintora mostra o processo criativo dos 90 dias produzindo quadros, sendo um deles o da 'Preta Velha'.
Veja o vídeo na íntegra:
Espaço Bará - Outro projeto liderado por Kim, mas dessa vez junto com a namorada é o ‘Espaço Bará’. O local, que ainda está em fase de adaptações e experimentações, une arte e espiritualidade. O espaço, segundo ela, é voltado para o público que está no caminho universalista e espiritualista.
Produzindo mais telas no momento, a artista se prepara para a exposição que está marcada para ocorrer em outubro na Galeria de Vidro da Plataforma Cultural, na Avenida Calógeras. Na ocasião, o público pode conferir de perto o trabalho da pintora.
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