Nadja faz campanha para contratar atores e dar vida a filme sobre machismo
Ela foi vítima de violência duas vezes e agora quer arrecadar dinheiro para contratar atores nacionais e dar vida ao filme "Pura"
Após sentir na pele como é ser vítima da violência, Nadja Mitidiero faz campanha para contratar atores e dar vida a longa-metragem “Pura”. “Quero abordar o empoderamento e a desconstrução do machismo. Fui assaltada duas vezes. A primeira eu estava dentro do carro na Avenida Afonso Pena quando um homem bateu com a arma no vidro e colocou meu namorado no porta-malas. Fiquei calma, e teve uma hora que ele mandou retirar a venda do rosto. Ia me matar”, lembra do momento de tensão.
Foram minutos de desespero e tortura, até que a Nadja conseguiu convencer o assaltante deixá-los sem nenhum ferimento grave. “Disse que não denunciaria, tanto é que minha família soube disso depois porque sofri outro assalto em São Paulo”, conta. O tempo passou, porém a violência e o machismo continuam incrustado na sociedade.
Ela é atriz e produtora, já gravou alguns curtas e foi atrás de um roteirista para fazer o texto do seu primeiro longa-metragem. “O roteiro continua sendo tratado e em 2015 conseguimos o patrocínio do FIC [Fundo de Investimentos Culturais]. Em 2018 fomos contemplados pelo FMIC [Fundo Municipal de Incentivo à Cultura], mas os valores não são suficientes para a produção”, diz.
“Muitos atores do Estado vão participar, mas os papéis principais queriam que fossem interpretados por profissionais de reconhecimento nacional. Mas o cachê deles é mais caro, por isso decidimos fazer a campanha na plataforma Benfeitoria para arrecadar fundos”, diz. A ideia é arrecadar R$100 mil.
A obra é uma mistura de amor e drama, com pitadas de suspense. A protagonista Clara é brutalmente violentada por um estranho que invadiu sua casa. Nesse dia, seu namorado Davi bebeu demais, parou numa blitz e não chegou a tempo de ajudar a amada. Após o episódio, começam as discussões.
“O filme será uma metáfora do que acontece hoje em sociedade. Com a quarta onda do feminismo surgiu uma demanda por justiça e pelo fim da violência contra a mulher. E é impossível falarmos de mudança sem incluir os homens, eles são o problema e portanto parte da solução”, diz Nadja.
Ela relata que durante a pesquisa para o filme, se deparou com números alarmantes de feminicídio, violência sexual, violência doméstica e assédio. Segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), todos os dias três mulheres morrem pelo fato de serem mulher, nove são violentadas sexualmente e a cada dois minutos uma mulher registra queixa de agressão pela lei Maria da Penha.
“Pela pesquisa constatou-se como causa crescente desses números a cultura machista em que vivemos, que valoriza exacerbadamente qualidades do macho e uma virilidade agressiva, sendo assim, pensamos que é preciso aceitarmos o termo machismo”, afirma.
A campanha começa em novembro, terá dois meses e o valor é a partir de R$15. Cada quantia conta com um brinde de agradecimento como chaveiros, velas decorativas, etc. O recurso arrecadado será investido em contratação de atores, técnicos, despesas com logística e aluguel de equipamentos específicos. As gravações devem começar no meio de 2020. “É para estar nos festivais em 2021”, conta Nadja.
Além da arrecadação, a produtora lançou a hashtag “#botaluznele”, que vai escolher a melhor arte, desenho ou animação que retrate o machismo. A pessoa pode participar com quantas imagens quiser e enviar para o e-mail da produtora contato@filmadelas.com até o dia 23 de novembro.
Os três primeiros colocados terão seus trabalhos divulgados nas redes sociais e ganharão um combo de presentes do Pura além de terem um dia especial no set de filmagem com os atores e a equipe.
Serviços - A campanha estará disponível no começo de novembro através desta plataforma.
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