No Dia do Livro, Manoel ganha visita de ‘Bernardo’ e poesias de crianças
Estátua foi cercada por varal de poesias e admiradores do autor que querem aproximar a arte do público
Ao pé de Manoel de Barros a gaiola cheia de aldravias aguardava por alguém que a libertasse. Próximo a estátua, o varal trazia versos do escritor que transformou inutilidades em poesia e ilustrações de crianças que criaram aldravias inspiradas na obra do poeta.
Na calçada o alter ego de Manoel, Bernardo, passeava de chapéu na mesma hora que um homem mostrava luvas coloridas e dizia que aquelas eram as lesmas escritas pelo autor no Poema da Lesma.
Das 10h às 12h de terça-feira (18), a Avenida Afonso Pena com a Rua Rui Barbosa se tornou arte e poesia. Realizada próximo a estátua do escritor, a intervenção artística celebrou o Dia Nacional do Livro Infantil e a literatura infantil brasileira.
O evento foi organizado pela equipe da Casa-Quintal Manoel de Barros e contou com a participação de escritores e professores. Produtora executiva da Casa-Quintal, Lizandra Moraes fala que a proposta da intervenção é também convidar o público para visitar o endereço do poeta no Bairro Jardim dos Estados.
“Nós queríamos nesse lugar trazer poesia para a população e colocar uma possibilidade pra gente chegar no imaginário das pessoas. A casa hoje tá dentro de um lugar fechado, seleto, nosso intuito é que as pessoas se apropriem dessa ideia e nada mais interessante que chamá-los através da poesia”, afirma.
A produtora espera que a poesia de Manoel seja capaz de sensibilizar a todos para que a estátua seja um espaço de inspiração. “O que a gente deseja na verdade não é a polêmica do pé e sim que essa poesia sensibilize o poder público para que esse lugar seja inspirador. Não basta colocar o pé no poeta a gente tem que transformar o ambiente para que as pessoas possam se aproximar”, fala.
A celebração do Dia Nacional do Livro Infantil trouxe produções literárias de crianças do 3º ano A e 3º ano B da Escola Municipal Honorivaldo Albres de Alves, localizada em Anastácio, a 135 km de Campo Grande.
No varal, o público pode conferir de perto o ‘AldraVeando Manoel de Barros em língua de ave e de criança’. O trabalho dos pequenos é resultado de uma iniciativa das professoras Patrícia Trindade e Flavia Rohdt realizada em parceria com o Projeto Raízes Pantaneiras.
Flávia comenta como funcionou a elaboração do livro que conecta obras do Manoel de Barros com outro estilo de poesia. “Pegamos as poesias mais infantis possíveis, o Bem-te-vi, Bernardo e a gente vê o encantamento das crianças. A partir da leitura, elas tiveram o desafio que era ilustrar, fazer um desenho desse poema. A partir dos desenhos eles fizeram a aldravia que é uma poesia genuinamente brasileira criada pelos poetas de Mariana, em Minas Gerais”, explica.
Composta por seis versos vocábulos que são dispostos a cada linha sem formar uma frase completa, a aldravia é uma poesia que bate à porta. A professora traz mais alguns pontos sobre a criação desse estilo.
“Os poetas estavam preocupados em criar um movimento literário que viesse de encontro com o século 21, que é essa coisa sintética, minimalista. Em Minas Gerais tem vários casarões com as aldravas, são os batedores de porta. Aldravia vem de aldrava que é uma poesia que bate a porta”, diz.
Quem também levou poesia para o varal foi a escritora Raquel Anderson. A poeta customizou os textos com elementos presentes nos versos, como penas. Ela relata que participar da intervenção é celebrar a simplicidade do poeta.
“É uma emoção tão profunda porque a ferramenta do Manoel é a simplicidade, o silêncio. Quando se fala em Manoel as referências são essas e eu penso que reside verdadeiramente na simplicidade os maiores encantamentos da vida. Isso tem o poder de transformar o que é o que a arte pode fazer com a gente”, destaca.
Raquel reforça que momentos como o desta terça-feira deveriam ser mais frequentes para aproximar o público da arte. “Já diria Milton Nascimento: ‘Todo artista está onde o povo está’. É uma necessidade urgente para que a gente leve mais arte para o povo, para que eles se familiarizem com isso, para que eles tenham isso como uma constante na vida”, conclui.
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