Separadas por arame farpado, bailarinas dançam na fronteira
Por dias melhores, bailarinas paraguaias dançaram ao som da música “Girassol” na divisa de Pedro Juan Caballero e Ponta Porã
“Se a vida fosse fácil como a gente quer
Se o futuro a gente pudesse prever
Eu hoje estaria tomando um café
Sentado com os amigos em frente à TV
Eu olharia as aves como eu nunca olhei
Daria um abraço apertado em meus avós
Diria eu te amo a quem nunca pensei
Talvez, é o que o universo espera de nós [...]”.
Esse trecho da música Girassol composta pelo humorista Whindersson Nunes e gravada em parceria com a cantora Priscilla Alcântara nunca fez tanto sentido. Pois é nesse tempo de pandemia, que a gente realmente entende que a vida não é fácil como a gente quer e que o futuro, não podemos prever. Mas, ainda há esperança, e é neste contexto que duas bailarinas paraguaias gravaram um vídeo dançando na fronteira entre Pedro Juan Cabellero e Ponta Porã –MS.
“Representa a esperança de que tudo isso vai acabar e voltaremos a ser uma só cidade, unida como sempre. Foi uma inspiração devido ao momento que estamos vivendo aqui na fronteira, com famílias e amigos separados por conta do arame farpado e todo esse sentimento de saudade e impotência que gera de não podermos vê-los”, diz Giannine Galvalisis.
Ela é paraguaia, diretora da escola Petite Centro de Artes que fica em Pedro Juan Caballero e teve a ideia de fazer o vídeo. Giannine é formada em administração e contabilidade, mas há 12 anos se dedica à dança.
Por conta da pandemia do coronavírus, a fronteira entre a cidade paraguaia e brasileira foi fechada, no dia 24 de março deste ano pelo governo paraguaio. “Há casos em Pedro Juan Caballero como também em Ponta Porã, mas estão sendo controlados”, afirma.
O fechamento ocorreu para controlar o vírus, porém quem tem família dos dois lados sofre. “No meu caso, mãe e irmã, meu pai e eu tivemos que nos mudar para Pedro Juan Caballero por conta dos nossos trabalhos, mas todas temos tias, tios, primos, amigos que moram do outro lado, que estamos há meses sem ver. Sempre fomos uma cidade muito unida”.
A gravação do vídeo ocorreu para participar da Competição Virtual de Danza, no Paraguai. Sabendo da disputa, Jazmin Calonga e Lujan Cañete, que são alunas da escola de Giannine, quiseram encarar o desafio.
“Elas se inscreveram e pediram para participar como duo. Comentei com os pais e com a nossa coreógrafa sobre a minha ideia. Todos ficaram encantados, daí começamos os trabalhos de organização e ensaios através do aplicativo Zoom”.
A escolha da música foi realizada pela própria Giannine. “Ouvi quando foi lançada em 2019, e escuto sempre porque acho linda. Achamos perfeita para o momento. Misturamos a canção com uma versão em espanhol para representar os idiomas que falamos a aqui”, explica.
Foi pouco mais de um mês de treino on-line, o que tornou a ideia mais desafiadora. “Na dança é preciso de contato físico das alunas e do professor. Com esse projeto, foram gravados vários outros para a competição”.
Foi a coreógrafa Fhalon San Martin quem elaborou para que as bailarinas pudessem executar. A filmagem ocorreu em um dia, porém, por conta do vírus, foi necessário pedir autorização para gravar a coreografia na divisa das cidades.
“Pedimos autorização e tivemos vigilância dos militares a todo momento, para garantir que não fosse ultrapassado o limite dado e cumprir com os protocolos sanitários exigidos”, conta.
A gravação realizada pela empresa "Rocha Productora" tem pouco mais de dois minutos e mostra as bailarinas usando máscara de proteção dançando na divisa das cidades. Separadas apenas por uma cerca com arame farpado, as duas realizam movimentos corporais para expressarem o sentimento de força e união entre os países. A filmagem tem mais de dois minutos e também serve para enviar energias positivas e pensamentos de dias melhores.
Os passos embalam ao ritmo da canção “Girassol” e faz refletir sobre o momento atual. A gravação será transmitida pela Competição Virtual de Danza, que ocorre nos dias 26, 27 e 28 deste mês, no Paraguai.
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