A criança “insuportável” da mesa ao lado vai ser sua no futuro
Crianças são seres humanos. Sentem amor, raiva, fome, sono, tédio
Ah o mundo perfeito tá cheio deles: pais que ainda não têm filhos. Reviram os olhos quando veem uma criança fazendo "birra", chorando alto, batendo os pés. Logo pensam 'se fosse meu filho...', ou melhor, logo decretam 'comigo vai ser diferente'.
Mas eu tô aqui, meu querido futuro pai/mãe, pra te dizer que se existe algo utópico nessa vida, é a criança que mora no imaginário de quem não tem filho. Te venderam a ideia de que com você haverá criação tão diferenciada que terá uma criança calada, comportada, sempre limpa e arrumada.
Dorme a noite toda, come de tudo e o melhor: nunca responde. Mas, ao contrário do que te é mostrado em filmes, novelas e vidas irreais de redes sociais, crianças não são robôs. Crianças não são bonecos criados numa única linha de produção que basta programar e, pimba, fará tudo o que você considera ideal.
Crianças são seres humanos. Sentem amor, raiva, fome, sono, tédio. Só que ao contrário de nós, adultos, que mesmo chateados ou entediados precisamos seguir a vida, elas têm a vantagem de poder ser transparente 100% do tempo. Não sabem ludibriar sentimentos para fingir que está tudo bem. Não colocam máscara social para disfarçar as frustrações que nós também temos, mas não podemos jogar pra fora.
Que adulto não faz birra? Que adulto não quer se jogar no chão e chorar escandalosamente quando algo sai dos planos? Vai falar que você lida numa boa com os nãos que a vida te enfia goela abaixo? E não, não me venha com a fala do “é falta de surra”. Se violência fosse a resposta o mundo seria perfeito e não esse caos completo.
Outra coisa, esses pais que “não fazem nada” diante do filho que está num mau momento, eles não estão apáticos ou qualquer coisa do tipo. Eles apenas têm muitas batalhas para encarar na criação de outro ser humano e, desta vez, escolheram não lutar contra. Estão exaustos e o seu julgamento só traz mais peso às costas cansadas, não ajuda em nada.
O grande problema é que a romantização vai além das barreiras maternais. Ela também permeia a idealização do filho perfeito. Daquele que você vai olhar nos olhos conversar e a criança simplesmente vai falar “ok papai, ok mamãe, eu compreendo, agora deixa eu ler meu jornal enquanto fico na fila do pão”.
Ah é verdade, criança que compra pão e lê jornal não existe! Igual essa que tu criou na cabeça e jura de pé junto que um dia vai ter...
* Jéssica Benitez, jornalista e mãe do Caetano e da Maria Cecília, além de criadora do perfil @eeunemqueriasermãe
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