Adoção veio do outro lado do oceano para dar aos irmãos uma família na Itália
A mesma emoção com que os pais presenciaram a alegria dos filhos ao ver o mar pela primeira vez agora é sentida do outro lado do oceano, quando os irmãos brincam com a neve. Uma menina de 10 e um menino de 5 anos encontraram no casal de italianos uma família para chamar de sua, ainda que seja em outra língua.
O Lado B acompanhou pela primeira vez uma adoção internacional e a pedido da família, não pode identificá-los, mas tenta descrever em palavras o brilho nos olhos deles. Depois de quatro longos anos de espera, os italianos chegaram ao Brasil, mais precisamente em Campo Grande, para se tornarem pais.
Bancários, antes mesmo de se casarem em 2007, já tinham um combinado. "Quando éramos namorados, falando sobre filhos e a nossa família, nós concordamos que teríamos um filho natural e um de adoção. Sempre tivemos vontade de adotar", conta a mãe, de 47 anos.
Mesmo sem ter nenhum problema para engravidar, o filho biológico não veio e eles decidiram dar entrada na adoção tanto italiana como internacional.
"É uma história muito, muito longa", interrompe o caçula, de 5 anos. E mãe completa elogiando "lindos, lindos" e com o afago no cabelo dos irmãos.
Na Itália é possível adotar, no entanto o Tribunal quem decide qual casal deve adotar crianças pequenas. Paralelo ao processo na terra natal, eles optaram por tentar também em outro País. "Sabendo que já tínhamos uma certa idade e não teríamos uma criança italiana, fizemos a escolha pela adoção internacional", completa a mãe.
A papelada permite aos candidatos escolherem o país de onde querem trazer as crianças, mas isso só é permitido depois que o casal tem a habilitação para adotar. "Um processo muito longo, de 1 ano", descreve ela.
O Brasil foi escolhido e com amor, o pai explica o por que: "Por eles...". Como quem sentia no coração que as crianças que lhes chamariam de 'papa' e 'mama' estavam aqui.
"Nós gostamos muito da América Latina, já havíamos estado na Venezuela, no Equador e gostávamos do Brasil pela história, pessoas e sobretudo, porque é um dos países que trata melhor as crianças nas entidades e onde temos informações sobre sua origem: estado de saúde, família e a história deles", justifica a mãe.
Depois de fechar a escolha por filhos brasileiros, a mãe tratou de aprender as lições de português e por dois anos estudou uma vez por semana, para falar e sobretudo entender quando os pequenos estivessem diante deles.
"É difícil para falar. Para ler e entender é menor a dificuldade. Mas aprendi para falar com uma criança", completa.
Depois de quatro anos de espera, um dia o telefone tocou. A associação que os representava nos trâmites no Brasil trazia boas notícias. "Todo período, da espera, da ligação é como uma gravidez que dura três anos e não nove meses", compara a mãe.
Emocionadíssimos, antes mesmo de ver a foto dos filhos, disseram sim para o casal de irmãos de 5 e 10 anos. Ao telefone, as informações preliminares trouxeram algumas das características físicas. Mas nenhuma descrição caberia no sorriso enorme do caçula e nos olhos de doçura da mais velha.
"Nós estávamos muito emocionados. Sobretudo antes de ver a foto deles, passou um mês até vermos", conta a mãe. Quando a emoção toda ganhou dois rostinhos, eles já tinham as malas prontas para a viagem ao Brasil.
Na documentação da Itália, os pais não podem escolher até quantos anos querem os filhos e nem características como raça e cor, apenas estabelecer uma idade máxima e se estariam preparados para um ou mais filhos, o que significaria dizer sim para um grupo de irmãos.
A chegada ao Brasil foi no dia 3 de dezembro e o primeiro encontro, no Fórum, quatro dias depois. Antes disso, o contato já tinha sido feito via Skype. "Foi muito emocionante", descreve a mãe. Daí por diante, a convivência foi da rotina de uma família, dentro de casa, com visitas regulares de psicólogos e assistentes sociais do Tribunal.
"Eles vieram ver a casa e também falaram com ela e depois com ele para saber como estava andando", recorda a mãe. As crianças eram entrevistadas pela equipe.
Nas festas de final de ano, a família teve autorização para viajar e seguiram para Florianópolis e também Bonito. Duas naturezas bem diferentes da Itália e até então desconhecidas para as crianças brasileiras.
A primeira vez que viram o mar, não sai da memória do pai. "Era de noite, andamos em casa e depois na praia, porque era muito perto. Quando chegamos lá e eles viram o mar, entraram com os pés e se puseram a gritar de felicidade", recorda.
"Eles gostaram muito das ondas, que quando se retiravam, levavam a areia de volta", completa a mãe.
Depois de todo acompanhamento, a sentença definitiva saiu no dia 9 de janeiro. "Que eles são nossos filhos e que podem ir à Itália, iniciar uma nova vida", comemora a mãe.
Com um entendimento maior a respeito da adoção e também da nova família, a filha mais velha pergunta a quem ouve: 'você quer chorar?' Respondo que a gente chora também de felicidade e que a história dela é bonita. "Sim", concorda a menina.
A ceia de Natal foi o momento em que a mãe teve a certeza de que tinha o "sim" dos filhos. Numa adoção, não são só os pais que escolhem, os pequenos também aceitam o amor. "Eles me fizeram um bilhete muito lindo escrito: 'mama você é linda como o sol'. Eu chorei", lembra.
O 'mama' e 'papa' saiu das crianças de forma muito natural, como um aceite definitivo de que eles formaram uma família. "Se eu estou feliz? Certo que sim, todos os dias", diz o pai. Pequenino, o caçula deve se esquecer da língua portuguesa em breve. De imediato, ao ser questionado sobre o que mais gostou na família, ele diz: 'da mama' e faz chorar quem ouve e vê a cena.
Já na Itália, as crianças estrearam na neve com a mesma euforia que viram o mar. Os outros quatro irmãos estão no mesmo país, com duas outras famílias e em breve vão se encontrar.
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