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Comportamento

Américo é personagem da Ernesto Geisel e comemora 50 anos ali com tinta amarela

Thailla Torres | 06/02/2017 08:05
Quem passa pela Avenida Ernesto Geisel, certamente, já teve vontade da vida tranquila de seu Américo. (Foto: Alcides Neto)
Quem passa pela Avenida Ernesto Geisel, certamente, já teve vontade da vida tranquila de seu Américo. (Foto: Alcides Neto)

Ele não tem dúvidas, afirma que ali é o lugar mais feliz do mundo. Há 50 anos, Américo Pereira Jorge mora na Avenida Presidente Ernesto Geisel. Na casinha simples, com porta e janela dando de cara com a rua, ele passa os dias remexendo objetos que acumula, cuida das árvores e desfruta da sombra.

Em comemoração pela bodas de ouro com a avenida, a casa de esquina ganhou pintura diferente. O tronco da árvore, calçada, poste e parte da parede, receberam pintura amarela, sua cor preferida. “Amarelo é ouro e eu adoro ouro, brilhante...”, justifica.

Um pouco de atenção e é fácil perceber o que o faz diferente de tantas pessoas. Com simpatia e tranquilidade, Américo é feliz olhando o trânsito, e o barulho dos carros parece nem incomodar. Muito cordial, ainda deixa sempre uma cadeira reservada a quem estiver disposto a um dedo de prosa.

Residência é aconchego e tranquilidade na vida de seu Américo.
Residência é aconchego e tranquilidade na vida de seu Américo.

A surpresa vem na revelação da idade. Cheio de disposição, o homem já tem 92 anos. Com jeito simples, conta que é natural da Paraíba, mas chegou em Campo Grande nos anos 50, depois de passar um tempo vivendo no Mato Grosso. Fugiu de casa aos 12, para escapar da dura tarefa de trabalhar no campo.

“Fugi porque eu nunca quis trabalhar na roça, queria um emprego de artista. Mas trabalhei na Marinha por pouco tempo, fui mecânico e depois caminhoneiro. Foi assim que sustentei minha família. Adoro mato, mas é só no passeio, minha vida é na cidade”, afirmou. 

A princípio, morou na região do Centro e só depois comprou o terreno na Avenida Ernesto Geisel. Divorciado há 32 anos, hoje vive sozinho. Mas conta com a companhia do filho caçula que mora na residência ao lado. Pai de 5 filhos, Américo não se recorda do número de netos, “Deve ser pra lá de 16”, afirma. Mas já conta orgulhoso a chegada de 2 bisnetos.

A vida em Campo Grande, segundo ele, foi um recomeço e felicidade nos dias de Américo. O homem que nunca frequentou a escola e até hoje não sabe ler, tem orgulho em falar dos filhos que tiveram a oportunidade de estudar. “Não sei ler nada, mas sempre trabalhei muito. Criei meus filhos e hoje todo mundo é encaminhado. Mas fui meu professor, sei fazer de tudo, só não leio.”

Américo conhece o bairro como ninguém e sob o mesmo teto acompanhou gerações e viu o tempo passar com admiração. Recorda detalhes do Cabreúva tomado pelo matagal. “Vi muita coisa nessa avenida. Vi muita casa sendo construída."

Retrato de quando era mais jovem e trabalhava como caminhoneiro. (Foto: Alcides Neto)
Retrato de quando era mais jovem e trabalhava como caminhoneiro. (Foto: Alcides Neto)
Quarto simples, é cantinho de descanso. (Foto: Alcides Neto)
Quarto simples, é cantinho de descanso. (Foto: Alcides Neto)
Esquina tem graça pelas cores e simpatia de seu Américo.
Esquina tem graça pelas cores e simpatia de seu Américo.

E mesmo que muita coisa já tenha mudado, o formato da casa ainda é o mesmo. Com exceção das novas cores, em cômodos pequenos ajeitou os móveis antigos e aproximou o quarto da sala, para ficar ainda mais aconchegante, diz ele. "Gosto dessa simplicidade. Nunca quis portão e nem muro. A porta é de frente pra rua e a calçada é meu quintal”, justifica.

O dia começa às 5h. Américo se arruma, passa o café e o toma olhando o movimento da rua ao amanhecer.

Depois, cuida das plantas, mexe nos objetos guardados e aproveita a sombra das árvores em frente a residência, que foram plantadas por ele. "Esse pé de manga tem 48 anos. Plantei logo quando cheguei e na beira do córrego também”, diz.

Longe da tecnologia, o celular que carrega no bolso é apenas para tranquilidade dos filhos. “Atendo quando necessário”, ri. No fim de semana, na rotina de passeio já tem encontro marcado. “Gosto de ir na 14 de Julho e no Mercadão Municipal, são meus lugares preferidos”.

Sem nunca ter sido incomodado, morar na mesma casa é ver o tempo passar e ganhar novos amigos. “Não vou na casa de ninguém, mas estou sempre aqui e tem pessoas que param para falar comigo. Gosto de falar com gente do bem”.

Sobre o privilégio de chegar aos 92 anos, esbanjando alegria e saúde. “O segredo é comer bem e se cuidar para viver tranquilo. Nunca bebi e fumei, gosto só de vinho doce, mas é um golinho”, garante.

Por isso nada tira da cabeça dele o desejo de continuar vivendo no mesmo endereço das últimas 5 décadas. “Aqui é meu recanto. E só saio daqui quando eu for morar no céu, em um lugar maravilho, mas antes disso, vou continuar na minha rede”.

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O homem simples que nem se importa com o barulho dos carros, fez da calçada o seu recanto. (Foto: Alcides Neto)
O homem simples que nem se importa com o barulho dos carros, fez da calçada o seu recanto. (Foto: Alcides Neto)
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