Amizade de "baixa manutenção" virou inimiga da criação do vínculo
Boas amizades são importantes para a saúde, mas busca por “baixa manutenção” pode atrapalhar o vínculo
É aquela máxima: amizade precisa ser cultivada. Mas o quanto você tem se dedicado a isso? Na era em que muita gente acha lindo dizer que precisa de relações de ‘baixa manutenção’, o discurso virou inimigo dos vínculos dentro da amizade, que comprovadamente traz bem-estar ao dia a dia.
Em enquete realizada neste sábado pelo Lado B, 52% dos leitores disseram que se dedicam às amizades, outros 48% afirmaram que não.
O ritmo moderno e uso da tecnologia podem estar atrapalhando a criação de vínculos, um processo que exige troca e entrega, pontua a psicóloga da Unimed Campo Grande, Maria Aparecida da Silva Teixeira dos Santos.
“Quando nós falamos de relacionamento de alta manutenção, que hoje muita gente corre disso, primeiro nós perguntamos: O que isso quer dizer? Eu não quero me comprometer com esse relacionamento? Eu não quero fazer conexão emocional? Eu não quero ter que dar satisfação? Mas até que ponto um relacionamento de baixa manutenção é saudável?”, questiona.
A psicóloga lembra que a era digital veio para contribuir com esse movimento. “Se mando uma mensagem de ‘oi’, ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ‘boa noite’, isso já ‘está bom’. E muitas vezes nem pergunto como a outra pessoa está, porque basta para que se prolongue uma conversa”.
Muitas pessoas justamente sentem dificuldade em fazer novas amizades porque é um processo que exige dedicação. A construção do vínculo de amizade e da confiança permite a escuta e lugar de ser escutado que são importantes para o bem-estar do indivíduo. “É positivo nós termos amizades de longa duração ou curta duração, independente do tempo, mas que sejam verdadeiras, amizades que possamos compartilhar a vida, as alegrias e os desafios com pessoas que venham a agregar com a gente, agregar na nossa vida”.
Outro ponto importante é que manter esses relacionamentos possibilita olhar a vida por outros ângulos, abrindo novas possibilidades. “A amizade cura, salva e também nos liberta. Ter bons amigos faz com que a gente também aprenda outros caminhos”. Psiquiatra da Unimed Campo Grande, Dr. Marcos Estevão explica que quando o vínculo é desenvolvido, os amigos estão conectados emocionalmente. “Sofremos com eles em suas derrotas e ficamos felizes com suas vitórias. Não precisamos de muitos amigos e sim de bons amigos”.
Com benefícios reconhecidos cientificamente, a amizade pode, inclusive, prolongar o tempo de vida, conforme demonstram estudos, lembra o psiquiatra. “As amizades nos proporcionam momentos prazerosos, desenvolvemos a cumplicidade e empatia. É importante ter amigos e reforçar nosso vínculo de amizade e mantê-lo”.
Se por um lado a tecnologia pode afastar, também pode ser aliada no processo de construir novos vínculos de amizade, criando um canal para propor convites e programas e também se fazer presente na vida das pessoas, pondera Maria Aparecida da Silva.
“Nós não podemos esquecer que ter amigos, manter relacionamentos de amizade é estar próximo também. E essa era digital, muitas vezes, nos dá a sensação de estar próximo de alguém, mas ao mesmo tempo nós não estamos. Muitas vezes vamos para restaurantes ou para encontros e não saímos do celular. Estamos rodeados por amigos, colegas, familiares, só que nós não estamos tendo conexão. Conexão do olhar, de estar junto, presente”.
Por fim, a psicóloga destaca os benefícios de manter amizades saudáveis e recíprocas, como redução da ansiedade e do risco de desenvolver depressão. “Então, vamos nos motivar, buscar novas amizades, pessoas que venham construir com a gente; caminhar com a gente; que nos tragam coisas boas, diferentes e que nós possamos também contribuir na vida delas”.