Amor que nasceu nas ruas de Paris vira “sim” emocionante em parque
Francês se apaixonou por campo-grandense, viveu distância e viajou para casar no Parque das Nações Indígenas
Quando o professor Luiz Fernando Santos Mongenot Santana, de 25 anos, viajou para a França, em 2019, para participar de um programa de assistência à língua estrangeira, o que ele menos imaginava era encontrar um amor. Mas todo romantismo de Paris cruzou o caminho dele e do francês jurista Harold Didot, também de 25 anos. Juntos, viveram momentos difíceis da pandemia, sobreviveram ao isolamento e a distância, e selaram a união em um casamento simples, mas cheio de charme no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande.
Quem passou pelo principal ponto turístico da cidade no último sábado, 31 de julho, viu de longe a troca de olhares sincera e um sorriso largo do casal que, finalmente, conseguiu dizer sim. Uma conquista cheia de significados para o casal.
A história dos dois começa em Paris, logo no início da pandemia, em abril de 2020. Os dois estavam presentes numa peça de balé no Teatro Châtelet, e antes da peça começar, rolou a primeira troca de olhares.
“A gente conversou durante a peça e, no final do espetáculo, rolou o convite para uma taça de vinho”, conta Luiz. “Porque em Paris se toma muito vinho” ri, Harold. Juntos atravessaram uma ponte em direção aos cafés noturnos da cidade.
Com olhar romântico para o marido, Harold, que ainda não fala fluentemente o português, descreve em francês detalhes que ficaram marcados naquela noite. “Era uma noite linda, de filme, com lua cheia. Me lembro bem de a gente ter olhado o reflexo da lua no Rio Sena”.
No bar, os dois tomaram vinho, conversaram e a noite rendeu a descoberta de muita afinidade. “Lembro que ele se interessou pelo meu sotaque, eu contei sobre as minhas origens, ele também contou sobre as dele”, diz Luiz.
Naquele dia, os dois decidiram que seria uma boa se reencontrarem. “E dois dias depois, a gente saiu de novo para tomar uma taça de vinho, num pequeno de café no Bairro Saint-Germain Des Près, ao lado do teatro Odéon e lá ele começou me falar mais sobre a vida dele, as paixões que ele tinha”.
Do passeio em feira de objetos antigos, a relação avançou para um namoro romântico. Mas os primeiros meses foram cheios desafios, isso porque na França houve “confinamentos” para evitar o contágio da covid-19 e com isso, Harold e Luiz precisaram ficar separados. “Mas apesar dessa separação forçada, nós nos falávamos pelo celular todos os dias. Era uma forma de um ajudar o outro naquela situação nova que todo mundo vivia”.
Não foi um momento fácil, porque tinha restrição, inclusive, de quilômetros, eles não podiam ultrapassar o raio de 1 km de onde viviam. E como não moravam perto, não conseguiam se ver.
Após o primeiro confinamento, que durou aproximadamente dois meses, os dois puderam se reencontrar e foi um momento mágico. “A gente tinha impressão de se redescobrir. Foi estranho se ver pessoalmente depois de tanta restrição. Saímos para tomar vinho, visitamos museus e castelos”, lembra Luiz.
Como Harold gosta muito de cozinhar e Luiz de comer, a combinação foi certeira. Dessa forma, um fazia o outro descobrir a gastronomia de seus países. Luiz tentava fazer o companheiro descobrir um pouco da culinária brasileira de acordo com ingredientes que ele encontrava em Paris, como a farofa. “Ele nunca tinha ouvido falar em farofa, uma vez fiz, e ele adorou. Hoje é ele quem faz a farofa em casa e fica bem gostosa”.
Depois de algum tempo, Luiz teve o visto renovado no país e ficou mais alguns meses. Durante esse período, ele e Harold decidiram morar juntos, principalmente, para não ficarem distantes no segundo confinamento que se instalou no país. “Foi um momento de superação para os dois. Delicado enquanto casal, porque ficávamos o dia inteiro juntos em um apartamento relativamente pequeno comparado aos brasileiros, mas superamos tudo”.
Mas os dois superaram tudo e assim conseguiram ter uma vida mais estável, com direito a uma viagem especial por cidade da França como Marseille, Lyon, Grenoble – cidade de origem de Harold, Vizille e Aix-em-Provence.
No entanto, no início deste ano, com o fim do visto de Luiz, ele teve de voltar ao Brasil. “Foi um momento difícil sobretudo para Harold, que viveu um terceiro confinamento na França. Além de uma diferença de horário de 6 horas para conseguir falar comigo”, diz Luiz.
Com a distância e com o amor que só aumentava, o casal se deu conta que queriam uma vida juntos. Assim, começaram a questionar sobre o casamento, para que pudessem ter uma vida mais estável e uma relação reconhecida.
“Brinco que a gente começou uma grande prova, com o desafio de organizar o casamento longe um do outro. Foi necessária uma organização de papéis, certidões e normas a serem seguidas para o casamento de estrangeiro no Brasil. Mas depois de muitos dias e horas, Harold conseguiu comprar as passagens para vir ao Brasil”.
Harold chegou no dia 9 de julho, Luiz começou a apresentar um pouco da cidade, além de pratos típicos como o sobá, pequi, bocaiúva, rabada e o café brasileiro, que ele adorou.
E por conta da afinidade com a natureza, os dois escolheram o Parque das Nações Indígenas como cenário perfeito para os votos e o “sim”. “Ele amou as capivaras e foi um certo amor à primeira vista pelo parque. E pela localização, seria fácil convidar as pessoas. Além disso, o lago representaria o oceano que nos divide”.
A cerimônia foi rápida, mas cheia de emoções. Contou com alguns amigos e a família de Luiz. Já a família do Harold, acompanhou tudo pelo celular.
A ideia era ter um casamento forte em sentimento, porque os dois acreditam que não é o momento para grandes festas, embora, o amor seja muito forte um pelo outro.
Com os dois de terno e uma pequena flor regional escolhida carinhosamente pelo Harold antes da cerimônia, os dois trocaram as alianças, fizeram os votos e tiveram um casamento emocionante. “E finalmente, uma vez o casamento consumado, nós vamos morar juntos em Paris”, celebrou Luiz.
O casamento também teve muitos significados para o casal. “Primeiro, porque é a concretização de um trabalho e esforço muito grandes com todas as etapas burocráticas para a união. Segundo, que o casamento só foi possível graças a luta de muitas outras pessoas que vieram antes de nós e levantaram a bandeira, que foram às ruas, que manifestaram e lutaram pelos seus direitos. Que apesar de direitos, tiveram que ser duramente conquistados”.
Agora, o casal também espera que seu testemunho sirva de alento para outros casais. “A gente espera que, em meio a tudo isso, nosso testemunho sirva de alento e encorajamento as demais pessoas que desejam levar uma vida mais leve, com mais amor, com menos ódio e menos preconceito”, encerra Luiz.
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