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Comportamento

Antes de partir, Paulista deixou músicas para amigos gravarem

Músico da banda 'A Insana Corte' faleceu em 2019 e deixou legado musical

Jéssica Fernandes | 04/02/2023 07:55
Anderso de Farias, o 'Paulista', começou a tocar violão na infância. (Foto: Arquivo pessoal)
Anderso de Farias, o 'Paulista', começou a tocar violão na infância. (Foto: Arquivo pessoal)

Anderson de Farias começou a cantar na infância, aprendeu a tocar violão sozinho, gravava músicas do Legião Urbana e distribuía as fitas cassete para colegas na escola. O diagnóstico de lúpus na adolescência não interrompeu o canto do ‘Paulista’, que cresceu para ensinar outros a cantarem e tocarem.

Em setembro de 2019, ele se despediu da vida aos 35 anos. Antes de partir, o músico deixou incontáveis composições. O legado musical é levado adiante pelos amigos Felipe Saldanha Santos (Sal), de 29 anos,  Wanderley Jullian dos Santos (Tandy), de 34 anos, e Gustavo Ferreira Bogado Villarinho.

Na série O Que Ficou de Quem Partiu, a mãe de Anderson, Creonice Pereira dos Santos, de 57 anos, conta a história do filho com o apoio dos amigos dele, Sal e Tandy.

Músicos da banda 'A Insana Corte' e Creonice, mãe de Paulista. (Foto: Alex Machado)
Músicos da banda 'A Insana Corte' e Creonice, mãe de Paulista. (Foto: Alex Machado)

A cuidadora de idosos, Creonice, relata o início da trajetória musical do filho que quando pequeno ouvia RPM e pulava ‘igual pipoca’ nas festas. “Ninguém ensinou Anderson a tocar violão, ele aprendeu sozinho. Com 12 anos ele já tocava todas as músicas do Legião Urbana, gravava fitas e saía distribuindo. Com 15 anos, ele entrou numa escola de música e depois saiu ensinando tudo quanto é molecada”, recorda.

Anderson seguiu vivendo a normalidade da vida até que veio o diagnóstico. “Com 17 anos, Anderson sofreu o impacto da perda do pai, que era o tio dele, mas ele considerava. Ele (Anderson) era perfeito, saudável. Quando recebeu a notícia da morte, à noite, ele ficou inchado e descobrimos que ele tinha lúpus eritematoso sistêmico”, diz.

O Paulista ficou seis meses internado, celebrou o aniversário de 18 anos no hospital e mesmo ali não deixou a música de lado. “Ele nunca parou de tocar até que permitiram entrar violão. Dentro do hospital o quarto dele era uma festa”, afirma.

Creonice comenta que filho enchia a casa de musicos. (Foto: Alex Machado)
Creonice comenta que filho enchia a casa de musicos. (Foto: Alex Machado)

Em 2007, ele e a mãe se mudaram para Campo Grande. A casa, segundo Creonice, vivia cheia de gente. “Minha varanda se tornou uma verdadeira escola de música”, fala. No ano seguinte, Anderson recebeu da mãe a doação de um rim. “Ele ficou muito tempo bem durante 10 anos”, conta.

Nesse meio tempo, Paulista e Tandy viraram amigos. “Eu o conheci nessa época que a varanda dele começou a virar uma escola de música. Eu comprei uma bateria, levei pra lá e eu já queria montar uma banda e começamos a juntar as ideias”, relata.

Na época, o baixista era acadêmico na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e começou a participar do Festival Universitário da Canção com o amigo. “A gente participou em 2010, 2011 e 2013. Começamos a fazer o Paulista ‘convida e ‘com vida’, juntava várias pessoas no bairro”, recorda.

Tandy recorda como iniciou amizade com o Paulista. (Foto: Alex Machado)
Tandy recorda como iniciou amizade com o Paulista. (Foto: Alex Machado)

Depois, Felipe, o ‘Sal’, foi convidado por Tandy para participar do projeto musical com o Paulista, que resultou na criação da banda ‘A Insana Corte’.  “Eu falei: ‘Vamos montar uma nova formação’ e convidei o Felipe. Ele só topou entrar depois que conheceu as músicas”, ri.

Sal destaca que as composições chamaram a atenção pelo conteúdo. “São músicas bem profundas, com muitos significados filosóficos. Como o Paulista tinha lúpus, ele falava sobre morte como alguém que está íntimo com esse tema. Foi uma coisa que me pegou bastante”, declara.

As letras das músicas, conforme Creonice, revelam um pouco a dor do filho. “Ele fazia de todo sofrimento dele uma história. Ele queria passar pras pessoas o sofrimento dele, então ele fazia as letras de música para mostrar o que ele estava sentindo”, pontua.

Sal fala sobre as músicas que o amigo escrevia. (Foto: Alex Machado)
Sal fala sobre as músicas que o amigo escrevia. (Foto: Alex Machado)

‘Na terra e no Céu’ - Descrito como ‘sarrista’, 'excêntrico' e amigo que era ‘pau pra toda obra’ e que gostava muito de jogar xadrez, Paulista faleceu nos braços da mãe no dia 26 de setembro de 2019.

Creonice narra a sucessão de fatos que levaram à morte do filho. “Ele sofreu um acidente, houve um erro médico. Ele voltou para hemodiálise porque esse vazamento deu uma parada cardiorespiratória, deu entrada no CTI, ficou três meses [...] e perdeu o transplante. Ele morreu em 2019 devido a perda do rim, a incapacidade de continuar a hemodiálise, ele não aguentava. [...] O coração dele foi enfraquecendo, a lupus venceu”, lamenta.

Antes de falecer, o músico fez um pedido para a mãe. “O Anderson deixou pra mim passar pros dois os direitos autorais das músicas dele”, revela.

Troféu que o trio ganhou na Batalha de Bandas 2021. (Foto: Alex Machado)
Troféu que o trio ganhou na Batalha de Bandas 2021. (Foto: Alex Machado)

As canções são o legado de Paulista que Sal, Tandy e Gustava levam adiante através da banda ‘A Insana Corte’. O trio planeja lançar o álbum intitulado ‘Na Terra e no Céu’ com essas músicas. “É muita responsabilidade, é uma missão lançar isso aí. A gente não pode deixar passar”, frisa.

Por enquanto, eles têm datas definidas para lançar as músicas à parte. A primeira delas, o ‘Trovador’, no dia 5 de março e depois ‘Submarino Amarelo’.

Em 2021, o ‘Trovador’ integrou o repertório da banda que participou e ganhou a Batalha de Bandas. O perfil do Instagram na banda é @ainsanacorte

Paulista deixou diversas composições para amigos gravarem. (Foto: Arquivo pessoal)
Paulista deixou diversas composições para amigos gravarem. (Foto: Arquivo pessoal)

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