Ao virar menino que fazia os próprios brinquedos, Vítor até ganhou prêmio
Nascido e criado na Moreninha, garoto ganhou prêmio ontem e sonha cada vez mais fazer carreira no teatro
Se 3 anos atrás o estudante Vítor Vieira de Freitas recebesse o aviso de que sua vida iria ganhar um novo propósito, é possível que ele nem desse muita bola. Mas foi ao participar do curta-metragem "As Invenções de Akins", na época com 10 anos, que descobriu o mundo do teatro. E de lá pra cá, o filme não ficou parado só na "telinha" ou disponível na internet pois continua rendendo bons frutos ao jovem da Moreninha que quer fazer da atuação sua carreira, e já faz dela sua maior paixão.
Na mesma semana que completou 13 anos (com a diferença de apenas 1 dia), Vítor ganhou um presentão do diretor do filme, o cineasta e radialista Ulísver Silva: um certificado de premiação do BIMIFF (Brazil International Monthly Film Festival), festival brasileiro de filmes independentes que recebe curtas do mundo todo.
"Fiquei muito emocionado. Na realidade, foi um choque muito grande. É recompensador participar de um projeto que ainda me dá uma força nesse início de carreira. Foi um dos melhores aniversários que eu já tive. Só tenho muito a agradecer", afirma o garoto.
Nascido e criado na Moreninha, Vítor ganhou o papel de Akins, um menino curioso, experimentador e que adora construir seus próprios brinquedos. Foi graças ao tio Jader que, por um amigo de amigo, descobriu estarem à procura de um ator mirim negro. Mas foi o jeito nada tímido, espontâneo, desinibido e "pra frente" – segundo Vítor se descreve – que tornou possível a participação no elenco principal.
A narrativa infantil – uma obra sensível que mescla elementos da vida pessoal do próprio diretor – também mexeu com Vítor. "Esse filme retratou um pouco da minha infância, da minha vida. Diferente de agora, meu pai e eu éramos distantes um do outro tal qual Akins no filme, e nesse meio tempo foi minha mãe quem me criou. As coisas que acontecem no curta bateram direto no peito. Veio à tona sentimentos que eu não só vi, mas como senti e vivi", revela.
Vítor nunca havia atuado. Em 2018, o curta-metragem não só foi sua primeira experiência cinematográfica, mas – na época – a única como ator. "Quando recebi o roteiro fiquei super entusiasmado. Por 1 mês, fiquei treinando sozinho na frente de um espelho. Foi um baita exercício", relembra.
Como ator mirim, Vítor também contou com a ajuda de uma preparadora de elenco. "Chorar era minha maior dificuldade. Não sou de chorar fácil. Meu coração não é triste, é alegre. Fizemos muitos exercícios emocionais e outros divertidos também, sempre em grupo. Sinto saudades daqueles tempos", diz.
"O Vítor se destacou por ter a facilidade em mergulhar na situação que propúnhamos. Ele não tinha vergonha, medo ou insegurança, simplesmente entrava na brincadeira e a vivenciava como se fosse real. Essencialmente, isto é ser um ator. O dom é somente o primeiro passo para sua longa carreira, que tenho certeza que ele chegará lá", testemunha Nadja Batista Mitidiero, a preparadora de elenco que integrou a equipe do curta.
"Vítor tem uma naturalidade muito nata e fico feliz em poder acompanhar isso de perto, de ter criado uma amizade com ele e com sua família", diz Ulísver, diretor do filme. E acrescenta: "é muito gratificante o curta ainda estar rendendo prêmios porque prova sua relevância e que ultrapassou a barreira temporal".
Além do garoto de 13 anos, outra atriz que participou do curta – a douradense Maria Eny – também recebeu o certificado, entregue em sua casa no município por meio do correio. Como o diretor e ator mirim moram em Campo Grande, Ulísver entregou pessoalmente a premiação à Vitor, que aconteceu na tarde de ontem (27), na Moreninha.
"Eu tenho muito orgulho de também ser da periferia e poder levar esse trabalho para longe. Sinto que ainda vou alcançar muita coisa, se Deus quiser!", espera.
Para Ulísver, fazer um filme em que não somente explora parte de sua velha infância mas também tem pessoas negras no elenco e produção foi de uma "tremenda responsabilidade", assegura.
"Levar essa representatividade da comunidade negra para o audiovisual foi quebrar, particularmente, estereótipos de violência, sexualidade excessiva, criminalidade e escravidão que via nas telinhas. Quis tratar o negro de uma maneira mais honesta e respeitosa, não só para 'soar' com a comunidade negra mas para ter uma narrativa universal", esclarece.
Planos – Após o trabalho, Vítor se inscreveu em uma casa de teatro e por lá conta que aprendeu muita coisa boa. "E quero investir fortemente nessa carreira. É minha paixão. Continuei e vou continuar fazendo teatro porque descobri que a coisa que mais gosto de fazer", garante.
Mesmo as aulas saírem do campo presencial e irem para o virtual, além de outros projetos terem "esfriado" – tudo em decorrência da pandemia de covid-19 –, Vítor não se desestimula. Seu coração não só sabe que é capaz, como até verbaliza o que sente.
"Quero estudar bastante. Sem o estudo a gente não é nada. Leio muito porque quero conhecer muito. Outros mundos, outras pessoas, outros assuntos, outros personagens. Isso é muito bom para minha carreira artística… aliás, para a vida".
Para mais informações sobre "As Invenções de Akins", acesse o site oficial do curta ou siga o perfil no Instagram.
Confira abaixo o trailer do curta.
Curta o LADO B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail ladob@news.com.br ou via Direto das Ruas, o WhatsApp do Campo Grande News | (67) 99669-9563.