Aos 101 anos, Ranulfo malha, curte a vida e não quer se aposentar
Longe de desejar a aposentadoria, o pecuarista quer viver trabalhando, viajando e aproveitando a vida
Recém completado 101 anos, e longe de desejar a aposentadoria e uma vida pacata, o pecuarista Ranulfo Custódio Alves, nascido na zona rural de Três Lagoas, diz que chega a marca centenária se sentindo uma pessoa muito feliz, e pedindo a Deus para ele lhe dar mais uns anos de vida, repletos de saúde, amizade e trabalho. Bem humorado, o pecuarista brinca que aos cem anos muita gente chega, seu desejo mesmo é alcançar a marca dos 110 para celebrar.
O segredo para tanta vitalidade e disposição para levar a vida com leveza e alegria, Ranulfo conta que é viver o melhor dos dois mundos: a vida na cidade grande e a tranquilidade do campo. Essa lição que hoje compartilha, ele conta que aprendeu com um amigo, há muitos anos atrás, que lhe trouxe uma nova perspectiva sobre a vida, uma nova forma de olhar para as coisas.
“Ele bateu a mão no meu ombro e falou, ‘ei, Ranulfinho, você tem uma vida feliz’. E eu falei, ‘eu estou trabalhando e lutando, pagando colégio para filho. Eu me sinto sufocado por compromisso com a família, com trabalho’. E ele falou ‘você é uma pessoa feliz, porque você vive as duas vidas, a vida do mato e a da cidade, e é o que o ser humano precisa. O ser humano precisa de sertão’. Eu não esqueço do Márcio em falar isso. Foi uma injeção de ânimo que ele me deu. Fiquei assim valorizando mais a minha vida e o meu trabalho e toquei em frente. Foi realmente um encontro muito valioso”, relembra Ranulfo.
Pecuarista há mais de 70 anos, ele começou o trabalho no campo como peão, na fazenda que hoje em dia pertence a ele. Apesar da idade, ele faz questão de ter plena autonomia da vida pessoas e profissional, e conta que administra sozinho a propriedade e os funcionários. “Meus filhos não sabem dos meus negócios. Não sabe se eu devo, quanto que é, quantas cabeças de gado eu tenho. Eles não intervêm na minha vida e no meu negócio”, diz.
Ranulfo declara que chegou aos 101 anos trabalhando, e os negócios no campo são uma parte de sua vida que ele jamais abriria mão. Para se sentir bem, o pecuarista declara que precisa ter objetivos e algo pelo que se dedicar. “Eu acho que eu nasci pra trabalhar, desde pequenininho, eu trabalho. E eu, pra viver bem, preciso me dedicar a alguma coisa, um negócio, um interesse qualquer. Adoro trabalhar, e acho que a pessoa pra viver bem, feliz, precisa trabalhar”.
Mas nem só de trabalho se vive um homem. Ranulfo comenta que gosta de tomar chope e caipirinha, conviver com os amigos, com os filhos e viajar. Em suas redes sociais, a filha mais nova, Renata, compartilha todos os momentos que vive ao lado do pai, desde o trabalho na fazenda, até viagens para o litoral brasileiro, e o lazer favorito do pecuarista: pescar no rancho da amiga Joice, no Pantanal sul-mato-grossense.
Poucas coisas assustam Ranulfo, mas ele declara que sente pavor de viajar de avião. Há cerca de 30 anos, ele sofreu um acidente enquanto sobrevoava o pantanal. Ele conta que um de seus compadres lhe ofereceu de comprar touros, e foram sobrevoar o pasto para olhar os animais e fechar negócios. Na volta, um mau tempo pegou ele, o compadre e o piloto de surpresa. A asa do avião acabou batendo no galho de uma mangueira.
“Se o carro falhou, se furou um pneu, você dá um jeito e encosta. E o avião? Dá um pane lá em cima, você vai segurar o que? Eu nunca fui pro exterior, mas aqui eu já viajei, eu viajo, mas não gosto. A hora que eu desço do avião, que eu ponho o pé no chão, eu sou outro homem. Eu me sinto seguro”, declara.
Aos olhos de Renata, o pai é um homem trabalhador, que criou os sete filhos, 14 netos, e incontáveis bisnetos com muita batalha. Ele comemorou aniversário recentemente, mesmo dia que a segunda tataraneta nasceu. Ela ressalta que o pai é um homem criativo, extrovertido, e que adora se comunicar com as pessoas.
“Ele conquistou uma vida muito digna, e continua até hoje dono de si. Ele sempre trabalhou muito para nos proporcionar a nós o que ele não teve, porque ele sempre trabalhou desde muito cedo”, completa a caçula.
Um detalhe que Renata não deixou escapar, foi o das blusas personalizadas com frases divertidas que o pecuarista adora usar. Uma das peças tem os dizeres “não se faz mais homem como antigamente”. Se você pensou que o homem se referia ao cavalheirismo, se enganou. A frase trata da seriedade dos homens na hora de fechar e cumprir com os negócios.
Ranulfo explica que “hoje tá um caos, ninguém confia em ninguém, a maioria não respeita nem documento. Antigamente não tinha documento, tinha palavra, e todo mundo cumpria. E agora, tem pilha de documento e a pessoa ainda não paga. Então, por isso que eu falo, não se faz mais homem como antigamente”.
Ranulfo finaliza dizendo que gosta muito da geração jovem, e que se puder dar um conselho para que eles vivam tantos anos quanto ele, este seria: “Viver sem arrogância, feliz, sem segundas intenções, ter uma boa alimentação. A pessoa, eu acho que ela precisa viver sem arrogância, sem intenções de mal, de desejar as coisas mal para os outros. Eu acho que isso ajuda a pessoa a viver”.
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