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Comportamento

Aos 106 anos, Jesuíno é o morador mais antigo da Rua dos Barbosas

Casa da família já foi reconstruída três vezes e persiste dividindo sua história com o bairro

Aletheya Alves | 27/08/2022 07:40
Jesuíno e família moram na mesma casa há mais de 60 anos na Rua dos Barbosas. (Foto: Kísie Ainoã)
Jesuíno e família moram na mesma casa há mais de 60 anos na Rua dos Barbosas. (Foto: Kísie Ainoã)

Há 70 anos, Jesuíno da Silva Neto e seis de suas filhas têm a Rua dos Barbosas, no Bairro Amambaí, como ponto de partida para ver Campo Grande. Morando no mesmo endereço desde então, a família do aposentado de 106 anos reconstruiu a casa três vezes e, a partir dela, viu o bairro e a Capital crescerem em conjunto a cada um dos netos, bisnetos e tataranetos.

“Ele é o homem mais antigo da Rua dos Barbosas. Quando chegamos aqui tinha só terra, nem energia elétrica chegava”. Orgulhosa de fazer parte da narrativa, Altiva da Silva Camargo, de 76 anos, é uma das filhas de Jesuíno e detalha que a família tinha apenas a lua como iluminação mais intensa naquela época.

Jesuíno está prestes a completar seus 107 anos e, apesar de estar cada vez mais silencioso, permaneceu ao lado das filhas, netas e tataranetas durante toda a entrevista. Inclusive convidando todos para os momentos de fotos.

Primeira casa construída era toda feita de madeira. (Foto: Kísie Ainoã)
Primeira casa construída era toda feita de madeira. (Foto: Kísie Ainoã)

Quando chegou ao bairro Amambaí, o homem deu início a uma longa vida trabalhando como jardineiro e, até hoje, o verde segue muito presente na casa. Responsável por cada planta, a filha mais nova, Arminda Maria Alves, de 61 anos, conta que enquanto muitos lares da rua foram perdendo os jardins, o de Jesuíno só foi aumentando.

“Meu pai sempre gostou muito, ele é quem cuidava do jardim e de todas as plantas. Agora eu cuido, mexo em todas e mantenho do jeito que ele gosta, até porque também sou apaixonada”, diz Arminda.

Ao lado de Altiva e Arminda, Aide, de 79 anos, e Áurea, de 75, também voltaram a viver com o pai na casa em que foram criadas. De acordo com Aide, cada espaço do terreno acompanhou as fases de sua vida, assim como das irmãs.

Explicando que elas chegaram a se mudar dali, a filha mais velha narra que a vida acabou reunindo todas novamente conforme o tempo foi passando. “Todas nós ficamos viúvas, assim como meu pai. Cada uma teve uma situação diferente, mas ele nos buscou e nós também decidimos ficar para cuidar dele. Sempre fomos muito unidas e continuamos assim até hoje”.

Fotos mostram mudanças feitas após reformas no lar da família. (Foto: Kísie Ainoã)
Fotos mostram mudanças feitas após reformas no lar da família. (Foto: Kísie Ainoã)
Cada espaço do terreno tem sua porção de plantas e árvores. (Foto: Kísie Ainoã)
Cada espaço do terreno tem sua porção de plantas e árvores. (Foto: Kísie Ainoã)

Retornando ao passado, Aide conta que a primeira casa construída no terreno era feita de madeira e foi levantada pelo pai. “Nós viemos com ele e com nossa mãe, Zoraide, para cá. Mas a casa foi estragando e ele reconstruiu, por último ele recebeu uma premiação e conseguiu refazer mais uma vez. Hoje a casa é toda de concreto”.

Ao puxar na memória sobre como era tanto a rua quanto o bairro e o restante de Campo Grande na época em que começaram a morar por ali, Áurea relata que ninguém imaginava que a cidade iria crescer tanto. De lixão na área central até maior extensão de córregos, ela diz que tudo foi ficando mais organizado com o passar do tempo.

Por morar tanto tempo no mesmo endereço, as filhas contam que outra progressão realizada na rua foi a da própria família.

Essa rua viu filho, neto, bisneto e tataraneto do nosso pai nascer. O triste é que a gente também foi vendo as pessoas partirem, tanto na nossa família quanto na dos outros, diz Aide.

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Detalhando sobre a perda, ela explica que uma das tristezas de ver o tempo passar é que os vizinhos que dividiam as histórias já finalizaram seus ciclos. “Meu pai ficou sem amigos porque todos foram morrendo. Nossos vizinhos antigos, por exemplo, já se foram. Perdemos muitos irmãos também, éramos 13 e agora somos 7. Mas faz parte”, completa.

Apesar da tristeza em precisar se despedir de amigos e familiares, as irmãs reforçam que poder continuar na casa em que cresceram é um privilégio. “Nós vimos o bairro mudar, a cidade também. A gente não pensa duas vezes na hora de cuidar um do outro e temos orgulho do nosso pai ser o morador mais antigo daqui, virou o senhor Barbosa”.

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