Aos 74, Ondina quer ser doutora para não passar raiva com Direito
Há 13 anos, ela voltou a estudar, terminou a escola e agora se dedica à graduação
No sexto semestre do curso de Direito, Ondina Basílio do Nascimento sonha todos os dias com o diploma da graduação. Aos 74 anos, ela conta que voltou a estudar com 61 e decidiu que não iria mais passar raiva quando o assunto envolvesse seus direitos.
Mãe de cinco filhos, a aluna se casou muito cedo e, por isso, não conseguiu terminar nem mesmo o ensino fundamental. Pouco tempo depois, se tornou mãe solo e o sonho de retomar os estudos foi ainda mais para o fundo da gaveta.
“Precisei criar eles sozinha, trabalhar e cuidar da minha mãe. Então, fui deixando aquela vontade e priorizei os estudos dos meus filhos. Depois que eles terminaram a escola, seguiram a vida deles, estavam crescidos, eu voltei a pensar nisso”, conta Ondina.
Apesar das décadas de espera, a matriarca garante que se imaginar sentada em uma sala de aula era um cenário que ficava cada vez mais forte em sua mente. Até que um dia, enquanto conversava com a família, compartilhou que iria atrás da sua matrícula.
Devido à idade, Ondina comenta que muitos não acreditaram que seu comentário era verdadeiro. “Eu não liguei, só ouvi aquilo, não retruquei nem nada. Sabia que eu queria estudar, aí juntei meus documentos e fui na escola do bairro. Lá, elas me falaram o que mais eu precisava, entreguei e me matriculei no EJA”.
Para a surpresa geral, ela só avisou que estava a caminho da escola e, desde então, não tirou mais a ideia da cabeça. Já entrando no ritmo, a estudante resolveu que precisava aprender a dirigir e deixar de lado as caminhadas de noite e horas gastas no transporte coletivo.
“Eu tinha sofrido um acidente de ônibus há um tempo e esse acidente faz parte da história. Foi por causa dele que fiquei pensando em fazer Direito e tive mais vontade ainda de ter meu carro, não depender de ninguém”, introduz.
Ela explica que demorou anos até conseguir fazer com que o processo pelo acidente andasse e se irritava sem entender o motivo. “Precisei trocar de advogado e não conseguia ficar tranquila com aquela demora. Hoje, com o conhecimento que eu tenho, não ia passar pela mesma coisa, então coloquei na cabeça que ia ter meu diploma”.
Assim como retornar ao ensino fundamental, aprender a dirigir também precisou de muita insistência. Isso porque além do medo, Ondina conta que a falta de apoio influenciou sua vergonha em tentar.
Com paciência e sem desistir, a carteira de motorista veio, assim como o próprio carro. Hoje, graças a eles, ela consegue ir todos os dias para a faculdade com toda independência.
Atualmente, Ondina é aluna da Faculdade Insted, mas já passou por várias outras de Campo Grande desde que começou a saga pelo diploma. “Eu fui parando e trocando de faculdade por vários motivos. Um tempo foi porque minha mãe precisava de muitos cuidados, em outras foi pelo valor que ficou muito caro e precisei deixar de lado”.
Sendo aposentada, ela narra que conseguir dividir o dinheiro entre os gastos básicos e pagar a mensalidade acaba ficando mais pesado do que ela gostaria. E, por vezes, o pagamento fica para trás.
“Eu recebo pouco, às vezes tenho que decidir se vou gastar mais no mercado ou se pago a faculdade. Mas eu não quero deixar de lado, eu quero meu diploma e só vou parar quando conseguir”, relata.
Sobre seu futuro no ramo, Ondina se diverte dizendo que quer mesmo é pendurar o papel em um quadro. Mas, se a vontade aparecer, vai montar seu escritório dentro de casa e ajudar outras pessoas a não passarem raiva na busca pelos seus direitos.
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