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Comportamento

Aos 8 anos, Manu ficou chocada com racismo e decidiu escrever livro

Quando aprendeu escrever, ela descobriu nas palavras uma possibilidade de expressar suas emoções

Por Idaicy Solano | 22/05/2024 14:06
Manuela e a mãe, Quemili, mostram orgulhosas versão ainda não finalizada da capa do livro (Foto: Marcos Maluf)
Manuela e a mãe, Quemili, mostram orgulhosas versão ainda não finalizada da capa do livro (Foto: Marcos Maluf)

Quando aprendeu a formar suas primeiras frases com um lápis e papel, Manuela de Avila Alvarenga descobriu na escrita uma possibilidade de expressar suas emoções em palavras. Aos oito anos de idade, experiências que um dia causaram dor e reflexão, nunca saíram de sua mente, e ela decidiu transformar o que sentia em seu primeiro livro ilustrado.

O livro nasceu de sentimentos que Manu guardou em seu coração após passar por um episódio de bullying na escola e ao ouvir uma reportagem na televisão sobre um caso de racismo, que a fez relembrar a dor que sentiu. Ao Lado B, Manu contou que os coleguinhas maiores em estatura física, a chamavam de “gnomo” (uma criatura mitológica que costuma ser representada como pequenos humanos), porque ela é pequena, e o apelido a deixava chateada.

Ela uniu a dor causada pelo apelido na escola com a indignação com caso de racismo na televisão e criou uma história de conscientização, para “nunca mais eles fazerem isso e ninguém ficar destratando a gente por causa da cor da pele, ou chamar de magro, de gordo, essas coisas", avisa a menina.

“Eu sei que o preconceito e o bullying são coisas diferentes, mas a dor é a mesma. Aí um dia eu fui na casa da minha avó, e eu parei e escutei [em uma reportagem na televisão] que elas [duas meninas] não podiam falar, porque eram negras, eu não me lembro bem, porque era muito pequena. Aí quando eu aprendi a escrever, eu lembrei dessa história, aí eu escrevi”, conta em entrevista.

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Manu usou folhas de caderno dobradas pela metade e coladas uma na outra para simular um livro. Escreveu o título na capa e história nas páginas interiores. Quando terminou, foi até a mãe, Quemili de Avila Rodrigues, 31, e disse que gostaria de publicar, deixando ela surpresa.

A versão “original” do livro é escrita em letra bastão, na caligrafia de Manu, e expressa a pureza e simplicidade da criança. Manu conta que hoje em dia não tem mais medo do bullying nem do preconceito, e deseja que seu livro ensine os coleguinhas que o respeito deve vir em primeiro lugar.

Este não foi o primeiro texto que a criança escreveu. A mãe conta que a filha escreveu um pequeno conto de dinossauros para o primo, e escreveu cartas e poemas para as avós, que moram em outra cidade.

Manu mostra versão original do livro, feita com folhas de caderno e escrito em letra bastão (Foto: Marcos Maluf)
Manu mostra versão original do livro, feita com folhas de caderno e escrito em letra bastão (Foto: Marcos Maluf)
Manu possui vários cadernos onde escreve outras histórias, poemas e cartas (Foto: Marcos Maluf)
Manu possui vários cadernos onde escreve outras histórias, poemas e cartas (Foto: Marcos Maluf)

Apoio familiar

Quemili confessa que não é fácil lidar com o fato de que filhos estão sempre expostos a vivenciarem experiências ruins, seja na escola ou na rua, mas a melhor forma é acolher as crianças, ouvi-las e oferecer apoio.

Quando Manu chegou com o livro pronto, demonstrando o desejo de publicá-lo, a reação foi de surpresa, mas o sentimento foi de orgulho e esperança de uma nova geração mais consciente, que esteja inclinada a quebrar o ciclo de violência, principalmente nas escolas.

“Ela tem só oito anos e já tem essa visão tão crítica do mundo. Eu sempre falei que ter filhos é fácil, mas educar é difícil. A gente educa, mas vem o mundo com muitas informações. E ver ela escrevendo isso, pra incentivar outras crianças pra gente romper esse ciclo, que é muito difícil, talvez a gente possa ter uma nova geração, e incentivar outras crianças”, expressa.

Quemili e a filha conversam sobre a importância de incentivar a escrita e oferecer apoio (Foto: Marcos Maluf)
Quemili e a filha conversam sobre a importância de incentivar a escrita e oferecer apoio (Foto: Marcos Maluf)

Nas palavras de Manu,  “O Preconceito do Gato Preto”, obra dividida em 20 páginas, conta a história de um pet shop que possuía dois gatinhos, um branco e um preto. Nesse pet shop, o gatinho preto nunca era adotado, então a dona da loja resolve investigar. Ela também adiantou que está escrevendo mais um livro sobre correr atrás de seus sonhos.

Quemili buscou apoio com o ACP/MS (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública), para tornar o desejo da filha, de publicar o livro, realidade. Ela explica que conversou com o escritor e coordenador do coletivo de cultura do sindicato, Ademir Barbosa dos Santos, que orientou a família.

O livro agora passa por processo de finalização das ilustrações, para que seja impresso. Ele será lançado em formato físico no dia 21 de junho, na sede do ACP/MS.

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