Aos 8 anos, Manu ficou chocada com racismo e decidiu escrever livro
Quando aprendeu escrever, ela descobriu nas palavras uma possibilidade de expressar suas emoções
Quando aprendeu a formar suas primeiras frases com um lápis e papel, Manuela de Avila Alvarenga descobriu na escrita uma possibilidade de expressar suas emoções em palavras. Aos oito anos de idade, experiências que um dia causaram dor e reflexão, nunca saíram de sua mente, e ela decidiu transformar o que sentia em seu primeiro livro ilustrado.
O livro nasceu de sentimentos que Manu guardou em seu coração após passar por um episódio de bullying na escola e ao ouvir uma reportagem na televisão sobre um caso de racismo, que a fez relembrar a dor que sentiu. Ao Lado B, Manu contou que os coleguinhas maiores em estatura física, a chamavam de “gnomo” (uma criatura mitológica que costuma ser representada como pequenos humanos), porque ela é pequena, e o apelido a deixava chateada.
Ela uniu a dor causada pelo apelido na escola com a indignação com caso de racismo na televisão e criou uma história de conscientização, para “nunca mais eles fazerem isso e ninguém ficar destratando a gente por causa da cor da pele, ou chamar de magro, de gordo, essas coisas", avisa a menina.
“Eu sei que o preconceito e o bullying são coisas diferentes, mas a dor é a mesma. Aí um dia eu fui na casa da minha avó, e eu parei e escutei [em uma reportagem na televisão] que elas [duas meninas] não podiam falar, porque eram negras, eu não me lembro bem, porque era muito pequena. Aí quando eu aprendi a escrever, eu lembrei dessa história, aí eu escrevi”, conta em entrevista.
Manu usou folhas de caderno dobradas pela metade e coladas uma na outra para simular um livro. Escreveu o título na capa e história nas páginas interiores. Quando terminou, foi até a mãe, Quemili de Avila Rodrigues, 31, e disse que gostaria de publicar, deixando ela surpresa.
A versão “original” do livro é escrita em letra bastão, na caligrafia de Manu, e expressa a pureza e simplicidade da criança. Manu conta que hoje em dia não tem mais medo do bullying nem do preconceito, e deseja que seu livro ensine os coleguinhas que o respeito deve vir em primeiro lugar.
Este não foi o primeiro texto que a criança escreveu. A mãe conta que a filha escreveu um pequeno conto de dinossauros para o primo, e escreveu cartas e poemas para as avós, que moram em outra cidade.
Apoio familiar
Quemili confessa que não é fácil lidar com o fato de que filhos estão sempre expostos a vivenciarem experiências ruins, seja na escola ou na rua, mas a melhor forma é acolher as crianças, ouvi-las e oferecer apoio.
Quando Manu chegou com o livro pronto, demonstrando o desejo de publicá-lo, a reação foi de surpresa, mas o sentimento foi de orgulho e esperança de uma nova geração mais consciente, que esteja inclinada a quebrar o ciclo de violência, principalmente nas escolas.
“Ela tem só oito anos e já tem essa visão tão crítica do mundo. Eu sempre falei que ter filhos é fácil, mas educar é difícil. A gente educa, mas vem o mundo com muitas informações. E ver ela escrevendo isso, pra incentivar outras crianças pra gente romper esse ciclo, que é muito difícil, talvez a gente possa ter uma nova geração, e incentivar outras crianças”, expressa.
Nas palavras de Manu, “O Preconceito do Gato Preto”, obra dividida em 20 páginas, conta a história de um pet shop que possuía dois gatinhos, um branco e um preto. Nesse pet shop, o gatinho preto nunca era adotado, então a dona da loja resolve investigar. Ela também adiantou que está escrevendo mais um livro sobre correr atrás de seus sonhos.
Quemili buscou apoio com o ACP/MS (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação Pública), para tornar o desejo da filha, de publicar o livro, realidade. Ela explica que conversou com o escritor e coordenador do coletivo de cultura do sindicato, Ademir Barbosa dos Santos, que orientou a família.
O livro agora passa por processo de finalização das ilustrações, para que seja impresso. Ele será lançado em formato físico no dia 21 de junho, na sede do ACP/MS.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.