Após 3 paradas cardíacas, bombeiro ficou paraplégico fazendo o que mais amava
"No lugar errado, na hora errada". É dessa forma que o bombeiro Carlos Alberto do Nascimento, hoje com 53 anos, encara a queda de 10m mais o choque de 13 mil volts que ele tomou duas décadas atrás, durante um resgate em Corumbá. A vítima pela qual os militares foram acionados sobreviveu sem nenhuma consequência. Já ele, depois que um dos galhos da árvore bateu na alta tensão, resistiu a três paradas cardíacas, múltiplas fraturas e o diagnóstico final de ficar numa cadeira de rodas.
À época, Alberto era soldado, tinha 33 anos e completava uma década de serviço prestado à corporação. Foi na rua, entrando no laboratório para fazer exames de rotina que o Lado B encontrou com ele, que também vende meias pelo Centro. Antes de se tornar bombeiro, Alberto conta que estava na academia para ser policial militar e segundo ele, o currículo que trazia da Marinha o fez ser destacado para o outro lado.
"Me instalei e fiquei quase 11 anos no resgate, às vezes pegava incêndio também quando ficava pesado para o pessoal, a gente pulava para a área", conta. Como havia sido mergulhador, Alberto relata que seu trabalho era limitado à região de Poconé a Porto Murtinho e Corumbá a Miranda.
Na noite anterior ao acidente, ele havia participado de um resgate e chegado tarde da noite. "Pedi para o comandante me liberar de manhã, era uma quinta-feira. Ele disse dorme de manhã e entra 14h", lembra.
Às 11h15 da manhã, a sirene da viatura tocou e de casa, Alberto já ouviu o chamado. Por ordem do comandante, os colegas passaram na casa dele para pegá-lo. Como na equipe eram dois recrutas recém-formados, era preciso a presença dele.
"Era uma ocorrência de vulto, um preso na alta voltagem. Levantei, vesti a farda e fui. No caminho eu perguntei se já tinham ligado para a Enersul". Ao chegar no local, a vítima tinha subido na árvore para cortar um galho que pegava na rede elétrica e cortava a luz da casa próxima.
"Não foi lapso do comando, má fé de ninguém. Foi um acidente. Eu consegui salvar o rapaz, mas a rede de alta tensão voltou"... Ele conta que tinha 30 segundos para retirar o rapaz dali enquanto a rede estava desligada. No entanto, o galho que ele tinha subido para quebrar desceu e bateu na alta tensão.
"Foi uma descarga de 13 mil volts. Correram, desligaram o transformador, mas tive parada cardíaca: três vezes, múltiplas fraturas. Fui descendo e batendo nos galhos", descreve. Foram 11 meses de recuperação, inúmeras cirurgias que terminaram no diagnóstico de paraplegia.
"Um ano depois descobri o que era: a casa era boca de fumo, a mulher queria ver a TV para ver se o marido tinha sido preso ao passar com a droga pela fronteira". A descoberta não lhe trouxe arrependimento e nem revolta.
"A gente não tem bola de cristal e mesmo sabendo, eu ia salvar. Você não vai saber o que vai acontecer dali para lá, não tem como ninguém saber", sustenta Alberto.
Hoje, cadeirante e aposentado, Alberto é conhecido pelas ruas do Centro. Quem passa, o cumprimenta. E a história de um passado de glória sempre lhe vem a mente. "Eu nasci pra isso, não tem jeito. Está no sangue. Todo ser humano tem um bombeiro dentro de si. A gente só lapida isso".
A vida de bombeiro ele achava que acabaria na água, por ser mergulhador. Nunca imaginou que fosse na rede elétrica.
Essa foi uma sugestão de pauta do fotógrafo do Campo Grande News, Marcos Ermínio.