Após 43 anos, família se vê distante na Páscoa, mas não sem amor
Pela primeira vez, famílias se sentem pela metade no Domingo de Páscoa, mas o alento está em acreditar no "ato de amor"
Neste domingo de Páscoa (12), a internet será a principal aliada para diminuir a saudade de quem teve que abrir mão das viagens ou dos preparativos do almoço tradicional em família. A distância é uma continuação do cuidado extremo para evitar o contágio pelo novo coronavírus.
“Será a primeira Páscoa em 43 anos longe da minha mãe. Vamos nos manter conectado pela internet. Temos um grupo no WhatsApp”, diz a veterinária Marina Hojaij Dobashi, de 43 anos.
“Nossa família tem duas profissionais da saúde. Além dos nossos pais que têm mais de 75 anos. A tensão é grande. Estamos com uma das nossas irmãs em isolamento por ter tido contato com caso positivo de Covid-19 lá no Rio de Janeiro. Estamos aqui rezando para que tudo dê[TT1] certo, e todos saiam dessa mais fortalecidos e saudáveis”, acrescenta.
Os domingos de Páscoa sempre tiveram muita importância na família, diz. “Somos cinco irmãos, todos casados, e cada família foi morar em um estado diferente. Nossa raiz fica em Jaú, interior de São Paulo. Nossos pais moram lá, numa casa grande, onde cada família tem seu quarto. E dos 5 casais já são 11 netos, todos unidos. Comemoramos a semana santa sempre juntos na casa deles. E o cardápio é sempre o mesmo, seguindo todas as tradições pascais”, descreve.
A pandemia cancelou todos os planos. A vontade de estar perto deu ensejo à esperança até os últimos dias antes do feriado. “Foi muito difícil aceitar e desistir. Cancelei as passagens somente na última segunda-feira. Tínhamos a esperança de que algo pudesse mudar”.
Vai ser uma Páscoa diferente, mas não menos religiosa, diz. “Acreditar na ressurreição de Cristo é muito importante para nós e um momento de união. Onde unimos a família e os amigos. Seguimos as tradições, o lava pés, a hora santa e a missa de Páscoa”, conta.
Apesar da saudade, Marina reforça o respeito à limitação do contato físico neste momento. “Não abraçar as pessoas é muito difícil. Não poder estar perto de quem você ama para mantê-los em segurança é uma decisão importante neste momento. Desejo que neste domingo as pessoas sintam o amor de Jesus entrando em suas casas e em seus corações. Pois precisamos estar separados hoje para estarmos juntos amanhã”.
A consultora de financiamento Elenice Moraes, de 57 anos, confessa que também se sente pela metade neste domingo, diante da impossibilidade do tradicional reencontro familiar e as brincadeiras marcam a Páscoa dentro de casa. “Hoje será somente eu e meus filhos, como um almoço normal de domingo. Mas pensamos em fazer uma reunião online com a família em um determinado horário”, diz.
Ela conta que a Páscoa passou a ser celebrada na sua casa depois que a mãe faleceu. As reuniões costumavam iniciar logo cedo para o preparo do almoço. Logo após a refeição e as orações, a família dava início ao bingo e ao 'lalau' de chocolate, brincadeira semelhante a um amigo oculto realizado no Natal. “Mas por um bem maior a gente não vai se reunir, para poder reunir outras vezes”.
A saudade é tanta que para continuar vendo a família ela pede que todos tenham consciência sobre o momento que o mundo está vivendo. “Na Páscoa precisamos renascer para uma nova vida. Aprender com tudo isso que estamos passando é importante, assim como a união em família mesmo que não seja de forma presencial. Que o fato de ficar separados seja visto como um ato de amor para podermos preservar a vida”, completa.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.