Após choque de 34 mil volts e 19 cirurgias, Jamir ganha uma prótese
Eletricista tomou choque de 34 mil volts durante serviço, amputou dedos, parte da mão e já fez 19 cirurgias
Por pouco, Jaimir da Silva não se tornou mais uma estatística de acidente de trabalho em Mato Grosso do Sul. No dia 18 de outubro de 2023, o eletricista de 41 anos foi atingido por uma descarga elétrica de 34 mil volts enquanto mexia na fiação de uma fazenda no distrito de Palmeiras.
O que tinha tudo para ser o fim, virou um recomeço doloroso, mas envolvido em muita fé, força e superação.
“Quando recebi a descarga elétrica desmaiei e fiquei pendurado pelo cinto de segurança. Pouco tempo depois senti como se meu corpo estivesse flutuando, fui vendo uma luz cada vez maior e acordei. Minha reação foi dizer: ‘meu Deus, tô vivo’”, relembra.
O acidente teve graves consequências. Queimaduras de terceiro grau afetaram as mãos, tórax, pernas e pés. “As veias e a artéria derreteram", conta. Os médicos lutaram para salvar os membros, mas não houve outra saída. Jaimir perdeu a mão esquerda e três dedos da mão direita.
“A doutora me explicou que, se eu não amputasse, corria o risco de perder o braço inteiro. Preferi salvar o que dava pra poder, no futuro, usar uma prótese”, diz.
Chamado por muita gente de “Milagre”, apelido que o acompanha até no hospital onde ainda faz tratamento, Jaimir enfrentou sete meses de internação e passou por 19 cirurgias.”Pela intensidade da descarga elétrica que levei, não era pra eu estar aqui. Existem casos de pessoas que levaram choque com potência menor e não resistiram”, pontua.
Hoje, Jaimir carrega em marcas espalhadas pelo corpo a lembrança do dia em que teve uma nova oportunidade para viver. Apesar de todas as limitações físicas, ele se recusa a parar. Mora sozinho, pinta parede, limpa a casa e encara a vida com gratidão.
“Parar corrói a mente. Eu sou muito grato porque estou aqui, não fiquei em estado vegetativo ou algo do tipo. As pessoas me perguntam como eu superei e eu sei que foi a fé em Deus. ”, afirma.

A vontade de viver se alimenta da fé e dos três filhos, com 11, 14 e 18 anos. “Na hora que eu tava tomando a descarga, a primeira coisa que veio na minha mente foram meus filhos. Pensei: não vou ver mais. E hoje, por mais que eu tenha tido perdas, vou poder vê-los de novo. Isso é o mais importante”, diz.
O preconceito ainda é algo que o incomoda, mas é outro desafio que ele aprendeu a lidar com garra. “Em alguns lugares as pessoas olham torto, se assustam, ficam com pena. Isso machuca, mas a gente aprende a lidar. Você tem que se levantar e seguir, porque se você parar, ninguém caminha por você”, finaliza.
Presente para um novo recomeço - A trajetória de superação ganhou um novo capítulo neste ano. Na noite desta quinta-feira (10), Jaimir recebeu uma prótese de mão mecânica do Projeto Mãos Solidárias. A iniciativa faz parte de uma parceria do Rotary Club em parceria com a ONG americana LN4.
“A doutora Silvana, que me acompanhou desde o começo, viu um vídeo falando sobre o projeto e me indicou. Fiz a inscrição e contei minha história. Um tempo depois recebi a ligação dizendo que eu tinha sido escolhido’”, comemora.
Aurora Waqued, integrante do Rotary São Francisco, explica que o projeto chegou ao Brasil em 2023, mas esta é a primeira vez que uma prótese vem para Campo Grande.
Segundo ela, o processo começa com um cadastro feito no site Mãos Solidárias. “As pessoas interessadas se cadastram no site e existe uma equipe de Londrina que faz a triagem”, explica.
No caso de Campo Grande, o Rotary local foi acionado para acompanhar todo o processo. A equipe visitou Jaimir, fez a avaliação inicial e em pouco mais de um mês a prótese chegou. “Ficamos realmente muito emocionados com a situação dele. E a emoção foi maior foi poder contribuir para melhorar a vida de alguém”, finaliza.7
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