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Comportamento

Após crescer em internato, Dina voltou e nunca mais saiu de lá

Visita se transformou em oferta de trabalho e, desde então, se passaram 35 anos trabalhando em sua antiga casa

Por Aletheya Alves | 06/08/2024 06:22
Dina trabalha no Educandário há mais de 30 anos. (Foto: Osmar Veiga)
Dina trabalha no Educandário há mais de 30 anos. (Foto: Osmar Veiga)

Dinalva Pereira de Souza Pereira chegou ao Educandário Getúlio Vargas quando tinha sete anos e morou por lá até seus 14. Depois disso, imaginou que a história tinha acabado, mas uma visita se transformou em oferta de emprego e, desde então, já são mais de três décadas trabalhando no lugar que se transformou em seu lar de um jeito inesperado.

Durante a infância, Dina e seus quatro irmãos se separaram da mãe que havia sido diagnosticada com hanseníase. Vivendo em Mato Grosso, cada uma morou por um tempo em cidades diferentes com madrinhas, familiares e conhecidos durante o início do tratamento no Hospital São Julião.

“Depois que ela ficou sabendo do educandário, uma das irmãs que trabalhavam no São Julião foi com ela viajando e passando por várias cidades para pegar a gente”, explica a coordenadora da sala de costura do Educandário.

O tempo foi passando e, como ela relata, ninguém imaginava que iria continuar dividindo o cotidiano com tantas outras crianças longe dos pais. Ao invés de crescer com uma educação e preocupações “comuns”, Dina explica que desde saber se locomover pela cidade até esperar para ver a mãe uma vez ao mês era o que compôs sua história.

“Aqui a gente tinha reforço e ia estudar em uma escola vizinha. A gente fazia flores, biscoitos e os meninos cuidavam da horta. Lembro que tinha uma plantação de café e tudo isso era vendido para fora”, descreve.

Fachada do prédio é o mesmo desde sua criação. (Foto: Osmar Veiga)
Fachada do prédio é o mesmo desde sua criação. (Foto: Osmar Veiga)
Sala de costura se tornou o primeiro emprego de Dina. (Foto: Osmar Veiga)
Sala de costura se tornou o primeiro emprego de Dina. (Foto: Osmar Veiga)

Sobre seu contato com a mãe, ela conta que o último domingo do mês era marcado como a data da visita. Por isso, quando as 13h se aproximavam, a pequena Dina já estava sentada próxima a uma das entradas.

Na época, os pais permaneciam no Educandário por cerca de três ou quatro horas e, depois, só viam os filhos de novo em 30 dias. “Depois, eu saí daqui com 14 anos e me casei com um rapaz que também morava aqui. Mesmo assim, sempre voltava em fim de semana para rever as pessoas, relembrar”.

Foram cerca de oito anos sem um contato frequente com o antigo internato até que uma visita no fim de ano mudou o rumo e levou Dina de volta para o prédio.

“Era um sábado e eu sabia que a tia Nelly (presidente do Educandário) fazia decoração de Natal para gerar renda e meu irmão vinha fazer algumas caixinhas para ela. Eu fui na casa dele e ele me convidou para ver ela. Eu vim e nessa época estavam fazendo muitas flores de cetim e arranjos, isso em 1989”.

Durante a conversa, Dina foi convidada a trabalhar na produção das flores para ajudar durante dois meses. “Eles estavam com bastante serviço atrasado e ela perguntou se eu poderia ficar no fim de ano. Eu aceitei e depois fui embora. Quando ela me chamou para fazer o pagamento, perguntou se eu não queria trabalhar para continuar com as flores e como assistente da costureira”, diz.

O que era para ser uma visita se transformou em carteira assinada e 35 anos se passaram. Hoje, além de Dina, sua filha também trabalha no Educandário e ela resume que nunca imaginou retornar assim para o ambiente em que foi parar sem querer.

Como funciona hoje?

Desde que deixou de ser um internato, o Educandário Getúlio Vargas passou a atender com educação infantil e atividades de serviço de convivência e fortalecimento de vínculos. Traduzindo: os projetos contemplam oficinas e aulas em período de contraturno.

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