Após meses de buscas, loja consegue entregar cama dos sonhos a João
No dia 5 de novembro, o Lado B contou a história do menino que namorava a cama na vitrine
Ninguém na casa de João Guilherme sabe explicar muito bem o motivo pelo qual só depois de mais de um mês, a família descobriu que um presentão esperava pelo garoto em loja da Rua 14 de Julho.
No dia 5 de novembro de 2021, o Lado B contou a história do garotinho de 3 anos, que ao passar pela loja Chamego Baby, sempre namorava uma cama modelo Hot Wheels na vitrine.
Pois na noite de ontem, João finalmente dormiu pela primeira vez na cama dos sonhos, no carro de corrida com colchão macio. “Estava sem celular, então, acho que por isso nem fiquei sabendo que estavam procurando a gente. Eu saí da empresa que trabalhava, também deve ter complicado de alguém me achar e a gente quase não consegue ler notícias”, explica o pai, o pedreiro Eli Camargo, de 32 anos.
Quem contou foi um amigo de infância, que também demorou para ler a notícia, mas assim que viu, ligou os pontos. "Ele me ligou e disse: 'Como você não tá sabendo? Campo Grande inteira tá sabendo'".
Há 18 anos, ele mora em Campo Grande, onde conheceu a esposa e teve 3 filhos. Veio do interior de São Paulo para “crescer na vida”, mas até hoje, vive com os 3 filhos em casa de 1 quarto, na Avenida Presidente Ernesto Geisel.
Eli diz que ele e a esposa têm apenas um “s” diferente no nome, mas que a luta é a mesma: criar as crianças. A filha mais velha, de 8 anos, é autista e nunca estudou. Passa o dia vendo desenhos animados na TV. A caçula tem apenas 2 aninhos e o único menino do grupo é do tipo que não para quieto.
Eli e Elis dizem que nunca tiveram muito apoio de “gente boa”. Por isso, só acreditaram na doação quando confirmaram que uma das vendedoras da loja havia mobilizado a cidade para encontrar João e dar o presente com ajuda dos amigos e desconto da loja.
Moedinhas contadas
No dia em que tudo começou, o pai conta que antes de sair de casa com o filho, a mãe deu várias moedinhas a João. “E ele ficou com aquilo no bolso. Quando passamos de novo em frente à loja, ele falou que era pra gente entrar, porque agora ele tinha dinheiro pra comprar. Eu perguntei: ‘Que dinheiro?’, aí ele tirou as moedas do bolso. Doeu o coração”, conta o pai.
Eli então tentou uma alternativa. “Entrei na loja e perguntei se tinha como fazer no crediário, nem cheguei a perguntar o preço, porque eles falaram que não e eu não tenho cartão de crédito”.
Hoje, ele agradece chamando a vendedora Letícia Espíndola de “anjo”. Ela quem começou a campanha. "Eu fiquei ali conversando com o João e vi o quanto a cama era importante. Mas passou tanto tempo, que eu já estava desistindo de encontrar. Para mim, era impossível ele ou algum amigo não ter lido a matéria", conta Letícia. Para ela, as coisas ocorrem na hora certa, por isso, só agora a cama chegou.
João completa 4 anos em 1º de fevereiro e o presente antecipado deixou toda a família feliz. “Meu Deus do céu, nunca pensei que existisse gente assim. Ela é um anjo. Deve ter lembrado da gente olhando pela vitrine e se sensibilizou”.
Ontem, a cama chegou e o problema foi acomodá-la no único quarto da família. Mas tudo deu certo, com a ajuda dos montadores e de Letícia. “Todo mundo já deu uma deitadinha na cama. Veio até com colchão bom, de marca boa”, comenta o pai.
A saga - As semanas procurando até nas redes sociais pelo pedreiro, tornaram as coisas um pouco mais complicadas. “Fui lá na loja no início de dezembro e todo mundo ficou surpreso de ter demorado tanto. Já tinham vendido. Mas na hora, falaram que iam fazer a vaquinha de novo e que iam dar o presente”.
A mãe Elis também se emociona pela atitude, mas, principalmente, pela felicidade de João. “Ele tá uma alegria só naquela cama”, diz, apesar de tímida para entrevistas.
A cama fez a felicidade, mas Letícia ficou ainda mais sensibilizada com a história. "Ontem, foi emocionante a entrega, conheci mais a realidade deles. Descobri que têm uma filha de 8 anos que não estuda. Acho que eles nem sabem que ela pode estudar. Fiquei feliz pelo João, mas triste por ver que eles precisam de muito mais", comenta.