ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, DOMINGO  17    CAMPO GRANDE 33º

Comportamento

Após perder filha para depressão, Guicela vive para ajudar outras mães

Ela participa de um projeto em que fala sobre a prevenção ao suicídio e auxília pessoas no processo de luto

Jéssica Fernandes | 30/05/2022 07:34
Em 2019, Guicela Matos perdeu a filha de 14 anos para a depressão. (Foto: Paulo Francis)
Em 2019, Guicela Matos perdeu a filha de 14 anos para a depressão. (Foto: Paulo Francis)

Desde 2019, Guicela Matos Bruno, de 34 anos, carrega a dor de ter perdido a filha Beatriz, aos 14 anos, para a depressão que a levou ao suicídio. A culpa, a busca por respostas, a ausência deixada pela jovem e a falta de uma rede de apoio marcaram os primeiros meses do luto.

Em novembro do ano passado, ela começou a participar do grupo “Floresci na Dor” e encontrou pessoas que também perderam alguém da mesma forma. A partir de então, Guicela achou um novo objetivo de vida e agora, dedica o tempo que tem para ajudar outras mães como ela.

Em Campo Grande, ela é coordenadora do núcleo que aborda o suicídio e tem participantes em todo o Brasil, além de uma equipe composta por psicólogos e psiquiatras. Criado em Araçatuba, São Paulo, o Floresci na Dor é presidido por Simone Frois, de 36 anos.

Em casa, Guicela olha para o retrato da filha Beatriz. (Foto: Paulo Francis)
Em casa, Guicela olha para o retrato da filha Beatriz. (Foto: Paulo Francis)

Ao Lado B, Guicela fala sobre o luto, a trajetória dela desde que a filha faleceu e o papel que o grupo tem no cotidiano dela. “As pessoas não reconhecem que a depressão é uma doença, fica esse tabu e as pessoas não olham para quem está enlutada. Então, o Floresci veio para acolher as pessoas e eu me senti muito amada”, conta.

Guicela expõe que sofreu com o julgamento e tentou achar respostas para os motivos que levaram a filha a desistir de viver. “No início, a gente tem aquela sede de buscar um culpado. Assim como me julgavam e colocavam a culpa em mim, eu queria saber o que estava acontecendo, porque ela não deixou carta e nem nada”, diz.

Beatriz recebia ajuda psicológica, mas, segundo a mãe, não deu sinais de que estava com depressão. “Perguntei para a psicóloga se ela dava algum indício e não. Nem toda depressão a pessoa vai estar quietinha e chorando, então, se a pessoa não falar, você não percebe”, explica.

Guicela fica emocionada ao falar da morte da filha. (Foto: Paulo Francis)
Guicela fica emocionada ao falar da morte da filha. (Foto: Paulo Francis)

Quando perdeu a filha, Guicela também desenvolveu um quadro depressivo e não conseguia manter uma rotina saudável. Além dessa dificuldade, ela fala sobre o afastamento de pessoas. “Quando uma pessoa perde um filho, as pessoas se distanciam, porque o tempo todo você está chorando e triste. As poucas que ficaram, eu me afastei, porque elas não saberem o que falar acaba me machucando”, desabafa.

Depois do ocorrido, a mãe precisou mudar de casa e bairro, pois tudo trazia lembranças da filha e da forma como ela se foi. “Eu fiquei com trauma até hoje, eu não consigo passar na rua, porque começo a passar mal”, desabafa.

Os traumas, conforme Guicela, é uma das diversas coisas que uma mãe enlutada sente.

Uma pessoa enlutada por suicídio tem culpa, tem julgamentos e traumas. É muito difícil e a gente não tem o apoio. As pessoas acham que para ter apoio, você tem que falar algo, mas não precisa, é simplesmente dar um abraço”, destaca.

A vontade de amparar outras mães - Por tudo que aconteceu, Guicela decidiu auxiliar mães, pais e pessoas que perderam alguém amado por doenças como a depressão. Antes de encontrar o grupo, ela organizou atos e palestras sobre o tema em locais públicos, sendo um deles, uma unidade de saúde.

Agora, a coordenadora se dedica ao trabalho à frente do núcleo sobre suicídio do Floresci na Dor. No Dia Das Mães, ela e outras mulheres desenvolveram um ebook e agora, junto com os outros membros, elabora uma cartilha. “Estamos desenvolvendo para informar as pessoas como é o luto, de que forma ele é vivido e a prevenção ao suicídio”, explica.

A prevenção, conforme ela, é algo essencial e um assunto importante para evitar que outras mães chorem a morte dos filhos. “A dor e a saudade que eu vivi e ainda vivo é o que me motivou a trabalhar na prevenção ao suicídio. Nenhuma mãe merece perder o filho para o suicídio ou de qualquer forma. Eu quero muito que o Floresci cresça, porque atualmente, não temos nenhuma ajuda”, destaca.

Simone fala sobre o objetivo do projeto e forma de atuação dele. (Foto: Paulo Francis)
Simone fala sobre o objetivo do projeto e forma de atuação dele. (Foto: Paulo Francis)

A presidente do Floresci na Dor, Simone, criou o grupo em março de 2020 com a proposta de ajudar mães que perderam os filhos de diferentes formas. Com sete filiais no País, a instituição é dividida em núcleos para ajudar os participantes de forma mais objetiva. “Hoje, temos núcleos que englobam vários tipos de luto, como o parental, neonatal, suicídio e de homens. A gente se divide certinho, porque cada dor é única e sentida de um jeito”, justifica.

Quem quiser conhecer o projeto e os diferentes grupos de luto, o perfil no Instagram é @florescinador.

Ajuda - Nem sempre é fácil tratar o assunto, falando da gravidade do problema, sem aprofundar na prática do suicídio. Mas precisamos falar sobre, dialogar é prevenir.

Em Campo Grande, o Grupo Amor Vida (GAV) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas. Ligue sempre que precisar! Horário de funcionamento das 07:00 às 23:00, inclusive sábados, domingos e feriados.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Nos siga no Google Notícias