Após ver quase tudo que plantou ser cortado para obra, aposentado começa de novo
Aos 84 anos, o aposentado Sebastião di Paula acorda bem cedo, quando a avenida em que mora, a Mascarenhas de Moraes, ainda respira o silêncio. Ele atravessa a rua segurando um balde de água e do outro lado rega os pés de abacate que plantou no canteiro em frente ao terminal de ônibus General Osório.
Tempos atrás, ele viveu a mesma história. Mas as árvores cuidadas por anos foram quase todas cortadas para as obras e, teimoso, agora ele retoma o trabalho e quer plantar tudo de novo.
Sebastião não gosta de muita conversa, mas demonstra a insatisfação com as construções e com o que a cidade se transformou. “Eu tinha sossego”, lembra. No local onde hoje está o terminal, antes existia uma praça, que cedeu espaço à urbanização.
Ele mora ali há 35 anos, mas diz que ainda não se acostumou com o frequente fluxo de pessoas e veículos. “Aqui era uma paz, não tem mais disso”, comenta. Nascido no município de Ribas do Rio Pardo, Sebastião lembra que veio morar na Capital ainda na juventude, e diz sentir saudades da mansidão que era viver em uma cidade que já não existe mais.
Sentado na frente de casa, ele olha para o pomar que criou quando os filhos ainda eram pequenos e para o que resistiu às mudanças. As mangueiras, por exemplo, foram plantadas por ele quando o local ainda era praça e foram preservadas, mesmo com a construção do terminal.
Outras tantas árvores frutíferas, que os vizinhos ajudaram a plantar, foram retiradas durante a construção da estrutura de transbordo. Então, Sebastião teve a ideia de replantar."Não tenho o que fazer, não é trabalho cuidar das plantas", explica. Também há um motivo mais prático: "Em busca de sombras", justifica.
Pai de dois filhos, ele comenta que foi na frente de casa que as crianças cresceram, em um tempo que todos brincavan sob a sombra das árvores que o pai plantou.