Ariela não é a única, mas poucos enxergam indígenas transexuais
Além de Ariela, documentário traz histórias sobre a busca pela visibilidade de indígenas LGBT
“Aqui na aldeia eu sou a única. Mas eu não sou sozinha, existem outras. Tem indígenas LGBT na sociedade”, detalha a cabeleireira Ariela Rodrigues, de 22 anos. O filme “Sempre Existimos”, de Tanaíra Sobrinho Terena, traz justamente relatos assim com o de Ariela, de vivências de integrantes da comunidade LGBT em aldeias de Mato Grosso do Sul.
Ariela vive em uma aldeia urbana em Sidrolândia, município a 74 quilômetros da Capital, a Aldeia Tereré. Ela relata que precisa fazer um “trabalho didático” com as pessoas ao seu redor na questão da transexualidade, por eles não terem exposição a mais pessoas trans indígenas.
“Na minha aldeia até que foi tranquilo. Eu tive que conquistar o respeito e amizade das pessoas, foi difícil por eu ser a única. Eu tenho que observar onde eu vou, reparar com quem estou falando, é complexo. Mas graças a deus, eu não tenho problema nenhum, onde eu vou sou muito bem-vinda”, expressa.
Ariela se assumiu aos 15 e ao longo da adolescência começou a se descobrir mulher transexual. “No começo foi difícil para as pessoas, mas hoje eu sinto que elas entendem, me respeitam muito”, reforça. E ainda detalha que há um caminho pela frente de dar mais visibilidade para esse tipo de pauta.
“Se eu estou aqui hoje dando uma entrevista, é porque muitas pessoas ainda precisam. Estar assim na linha de frente não é fácil, mas eu quis muito estar aqui, quero representar também meu povo e quero ajudar as pessoas. E quero dizer também que ninguém deveria ter medo de se assumir, a gente só quer o bem e respeito”, expressa.
Com a experiência do documentário, as portas se abriram não apenas para que as pessoas conheçam a conhecer trans indígenas, como também para Ariela conhecer o mundo artístico. Ela expressa o desejo de querer trabalhar mais com arte, em um futuro. “Mas nunca vou me esquecer de onde eu vim. Eu sou indígena terena, onde eu for quero levar o nome do povo, tenho muito orgulho de quem eu sou”, exalta.
A diretora e roteirista Tanaíra Sobrinho explica no próprio documentário que o objetivo é tornar público essa discussão de gênero e sexualidade entre povos tradicionais. “Tanto no movimento indígena, quanto no não indígena, isso não é tão discutido. É trazer a realidade indígena para a pauta”, explica.
Além de Ariela, também foram entrevistados Samanta Oliveira Terena e o universitário Eriki Paiva, que relata sobre a vivência do homem homossexual indígena. O documentário está disponível no Youtube e foi realizado com recursos da Lei Aldir Blanc.
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