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Comportamento

Artistas ganham espaço de fortalecimento da cultura periférica

Projeto nasceu no intuito de potencializar vozes, ocupar os espaços públicos e criar ambiente de reconexão

Por Idaicy Solano | 09/06/2024 07:10
Projeto criou espaço de fortalecimento e potência para artistas de rua (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Projeto criou espaço de fortalecimento e potência para artistas de rua (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)

Com o intuito de potencializar vozes, ocupar os espaços públicos e fortalecer a cultura urbana e periférica, o projeto Conexão Urbana tem transformado a vida de artistas, ao criar um espaço de colaboração e reconexão entre os movimentos da arte de rua no município de Nova Andradina, distante 298, quilômetros da Capital.

O Conexão Urbana é um projeto promovido pelo coletivo cultural Projeto Gema. Dividido em cinco edições, a ideia nasceu do desejo de potencializar as culturas de rua e periférica em Nova Andradina, além de fortalecer a união entre os grupos de Hip Hop da cidade.

Além de desmistificar os estigmas associados ao movimento do Hip Hop, a ação promove uma nova percepção cultural na comunidade, e cria um espaço de valorização da cultura periférica, que por diversas vezes é marginalizada pela sociedade, conforme explica o produtor cultural Rodrigo Souza.

“Iniciativas como essas ajudam a desmistificar preconceitos, educar o público sobre a riqueza e a diversidade cultural da periferia, e proporcionar um espaço seguro e inclusivo para a expressão artística. Além disso, são fundamentais para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as vozes e culturas são reconhecidas e celebradas”, Rodrigo Souza, produtor cultural.

Evento une batalhas, apresentações de dança e grafite (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Evento une batalhas, apresentações de dança e grafite (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Crianças são introduzidas ao cenário cultural da cidade desde cedo, por meio dos eventos (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Crianças são introduzidas ao cenário cultural da cidade desde cedo, por meio dos eventos (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)

Foi através da iniciativa que o grafiteiro Carlos Henrique, conhecido como Shizui, 20 anos, conseguiu fazer com que as pessoas vissem com outros olhos o seu trabalho, principalmente seu pai. Após ter a oportunidade de apresentar suas criações no projeto, ele relata que novas oportunidades de trabalho surgiram.

“Consegui tirar da cabeça do meu pai e dos meus familiares essa ideia tão deturpada que a maioria das pessoas tem sobre o graffiti, a arte de rua e o Hip hop em geral. Mostrei para muitas pessoas que o graffiti não é um vandalismo tão mal visto pela sociedade. Pelo contrário, dá mais vida e mais cor para os lugares abandonados.”, declara.

O empresário Fábio da Silva Ferreira, 45, foi responsável por ministrar um workshop de breaking na segunda edição do projeto, e além de poder contribuir divulgando seu trabalho, relata que o contato com a arte foi fundamental para superar um momento de luta pelo qual estava passando, após perder a filha em março deste ano.

“[Estava passando por] má alimentação, crises de ansiedade, noites mal dormidas, depressão e uma série de outras coisas. Isso me tirou da bolha que eu estava vivendo e eu pude voltar a respirar de novo”, conta.

O estudante João Borges, 18, ressalta que o projeto conseguiu unir forças de todos os lados. “O trabalho em equipe pode fazer coisas incríveis pela cultura e por tudo que está ao nosso redor”.

Murais colorem a cidade, e espaços públicos ganham mais cor com grafite (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Murais colorem a cidade, e espaços públicos ganham mais cor com grafite (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Oficinas também ensinam crianças a grafitar, e a respeitar essa expressão artística (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Oficinas também ensinam crianças a grafitar, e a respeitar essa expressão artística (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)

Conexão e potência 

O projeto é sustentado por três pilares: conexão, potencialização e desmistificação da arte de rua. Rodrigo conta que o movimento do Hip Hop vem crescendo exponencialmente no município, porém nos últimos cinco anos, o cenário acabou sendo dividido em diferentes grupos, chamados pelo movimento de “Crews”, formado por Mc’s, DJ’s e Bboys que fazem parte da cena artística da cidade.

Após a divisão, criou-se um cenário de competição entre as Crews, característica comum ao Hip Hop, mas a disputa fez com que o cenário se dividisse. “Isso refletiu principalmente nas Batalhas de Rap que ocorriam nas praças periféricas da cidade, e principais catalisadoras de novos integrantes para o Hip Hop. Quando dizemos “Conexão Urbana”, queremos nos referir à conexão dos elementos culturais que o projeto proporcionará, mas também à reconexão que buscamos do movimento Hip Hop em nosso município”, explica.

O segundo pilar consiste no objetivo de potencializar as culturas urbanas e periféricas, descentralizar a cultura e ocupar os espaços da cidade. Rodrigo explica que o movimento busca ocupar desde as periferias até a região central, estabelecendo uma “igualdade nas diferenças", e ressaltando que não importa qual seja o elemento artístico, o espaço público é um direito de todos. “Por isso, é tão importante e significativo que o movimento seja executado e pensado pelos olhos da periferia, detendo a liberdade de expressar aquilo que a periferia é: cultura viva, em constante movimento e transformação”.

O terceiro pilar do projeto busca desmistificar estigmas lançados sobre o movimento, afinal, toda cultura que é marginalizada carrega inúmeros estereótipos negativos. Por isso, levar o projeto em praças públicas foi justamente para furar a bolha, e atingir o público que nunca teve contato com o Hip Hop, e dessa forma, mostrar todos os benefícios que esse movimento traz para vida das pessoas, e o quão transformador é todo o processo. “É o que está acontecendo. A cada edição, podemos observar várias pessoas diferentes consumindo tudo aquilo que o projeto tem a oferecer”.

Evento promove também batalhas de rima para unir a cena do Hip Hop da cidade (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Evento promove também batalhas de rima para unir a cena do Hip Hop da cidade (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Batalha de dança, durante uma das edições do evento (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Batalha de dança, durante uma das edições do evento (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)

Fortalecendo a cena 

Rodrigo avalia que Nova Andradina tem um cenário cultural em crescimento, mas ainda precisa de iniciativas que promovam a inclusão e a valorização das culturas periféricas. O Conexão Urbana vem para preencher essa lacuna, oferecendo espaços para que diversas expressões culturais se manifestem e sejam apreciadas pela comunidade.

A elaboração do projeto durou mais de nove meses, até ser finalizada, submetida à editais e finalmente aprovada pelo FIC/MS (Fundação de Investimentos Culturais).

O produtor cultural ressalta que colhe bons frutos do projeto, e que seu principal objetivo, de fortalecer a união entre as Crews, tem sido cumprido, além do projeto ocupar diferentes espaços da cidade, levando a cultura Hip Hop do discurso para a prática. “A recepção do público tem sido extremamente positiva, com elogios constantes e crescente participação nas edições realizadas. No futuro, o objetivo é continuar expandindo a iniciativa, atingindo ainda mais pessoas e consolidando Nova Andradina como um polo cultural urbano”, finaliza.

O projeto também conta com a feira Mulheres de Atitude, uma iniciativa da Secretaria de Cidadania e Assistência Social do município, e tem sido integrada a todas as edições do projeto. As mulheres envolvidas na feira vendem comidas e artesanatos, gerando renda e fortalecendo a economia local. Segundo Nanda Nóbrega, diretora artística do projeto, “a feira tem sido um grande sucesso, não só em termos de vendas, mas também em termos de integração social”.

A próxima edição do Conexão Urbana, intitulada “Margem”, será realizada no dia 22 de junho e contará com o Slam de Poesia.

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