ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 28º

Comportamento

Artistas ganham espaço de fortalecimento da cultura periférica

Projeto nasceu no intuito de potencializar vozes, ocupar os espaços públicos e criar ambiente de reconexão

Por Idaicy Solano | 09/06/2024 07:10
Projeto criou espaço de fortalecimento e potência para artistas de rua (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Projeto criou espaço de fortalecimento e potência para artistas de rua (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)

Com o intuito de potencializar vozes, ocupar os espaços públicos e fortalecer a cultura urbana e periférica, o projeto Conexão Urbana tem transformado a vida de artistas, ao criar um espaço de colaboração e reconexão entre os movimentos da arte de rua no município de Nova Andradina, distante 298, quilômetros da Capital.

O Conexão Urbana é um projeto promovido pelo coletivo cultural Projeto Gema. Dividido em cinco edições, a ideia nasceu do desejo de potencializar as culturas de rua e periférica em Nova Andradina, além de fortalecer a união entre os grupos de Hip Hop da cidade.

Além de desmistificar os estigmas associados ao movimento do Hip Hop, a ação promove uma nova percepção cultural na comunidade, e cria um espaço de valorização da cultura periférica, que por diversas vezes é marginalizada pela sociedade, conforme explica o produtor cultural Rodrigo Souza.

“Iniciativas como essas ajudam a desmistificar preconceitos, educar o público sobre a riqueza e a diversidade cultural da periferia, e proporcionar um espaço seguro e inclusivo para a expressão artística. Além disso, são fundamentais para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todas as vozes e culturas são reconhecidas e celebradas”, Rodrigo Souza, produtor cultural.

Evento une batalhas, apresentações de dança e grafite (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Evento une batalhas, apresentações de dança e grafite (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Crianças são introduzidas ao cenário cultural da cidade desde cedo, por meio dos eventos (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Crianças são introduzidas ao cenário cultural da cidade desde cedo, por meio dos eventos (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)

Foi através da iniciativa que o grafiteiro Carlos Henrique, conhecido como Shizui, 20 anos, conseguiu fazer com que as pessoas vissem com outros olhos o seu trabalho, principalmente seu pai. Após ter a oportunidade de apresentar suas criações no projeto, ele relata que novas oportunidades de trabalho surgiram.

“Consegui tirar da cabeça do meu pai e dos meus familiares essa ideia tão deturpada que a maioria das pessoas tem sobre o graffiti, a arte de rua e o Hip hop em geral. Mostrei para muitas pessoas que o graffiti não é um vandalismo tão mal visto pela sociedade. Pelo contrário, dá mais vida e mais cor para os lugares abandonados.”, declara.

O empresário Fábio da Silva Ferreira, 45, foi responsável por ministrar um workshop de breaking na segunda edição do projeto, e além de poder contribuir divulgando seu trabalho, relata que o contato com a arte foi fundamental para superar um momento de luta pelo qual estava passando, após perder a filha em março deste ano.

“[Estava passando por] má alimentação, crises de ansiedade, noites mal dormidas, depressão e uma série de outras coisas. Isso me tirou da bolha que eu estava vivendo e eu pude voltar a respirar de novo”, conta.

O estudante João Borges, 18, ressalta que o projeto conseguiu unir forças de todos os lados. “O trabalho em equipe pode fazer coisas incríveis pela cultura e por tudo que está ao nosso redor”.

Murais colorem a cidade, e espaços públicos ganham mais cor com grafite (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Murais colorem a cidade, e espaços públicos ganham mais cor com grafite (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Oficinas também ensinam crianças a grafitar, e a respeitar essa expressão artística (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Oficinas também ensinam crianças a grafitar, e a respeitar essa expressão artística (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)

Conexão e potência 

O projeto é sustentado por três pilares: conexão, potencialização e desmistificação da arte de rua. Rodrigo conta que o movimento do Hip Hop vem crescendo exponencialmente no município, porém nos últimos cinco anos, o cenário acabou sendo dividido em diferentes grupos, chamados pelo movimento de “Crews”, formado por Mc’s, DJ’s e Bboys que fazem parte da cena artística da cidade.

Após a divisão, criou-se um cenário de competição entre as Crews, característica comum ao Hip Hop, mas a disputa fez com que o cenário se dividisse. “Isso refletiu principalmente nas Batalhas de Rap que ocorriam nas praças periféricas da cidade, e principais catalisadoras de novos integrantes para o Hip Hop. Quando dizemos “Conexão Urbana”, queremos nos referir à conexão dos elementos culturais que o projeto proporcionará, mas também à reconexão que buscamos do movimento Hip Hop em nosso município”, explica.

O segundo pilar consiste no objetivo de potencializar as culturas urbanas e periféricas, descentralizar a cultura e ocupar os espaços da cidade. Rodrigo explica que o movimento busca ocupar desde as periferias até a região central, estabelecendo uma “igualdade nas diferenças", e ressaltando que não importa qual seja o elemento artístico, o espaço público é um direito de todos. “Por isso, é tão importante e significativo que o movimento seja executado e pensado pelos olhos da periferia, detendo a liberdade de expressar aquilo que a periferia é: cultura viva, em constante movimento e transformação”.

O terceiro pilar do projeto busca desmistificar estigmas lançados sobre o movimento, afinal, toda cultura que é marginalizada carrega inúmeros estereótipos negativos. Por isso, levar o projeto em praças públicas foi justamente para furar a bolha, e atingir o público que nunca teve contato com o Hip Hop, e dessa forma, mostrar todos os benefícios que esse movimento traz para vida das pessoas, e o quão transformador é todo o processo. “É o que está acontecendo. A cada edição, podemos observar várias pessoas diferentes consumindo tudo aquilo que o projeto tem a oferecer”.

Evento promove também batalhas de rima para unir a cena do Hip Hop da cidade (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Evento promove também batalhas de rima para unir a cena do Hip Hop da cidade (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Batalha de dança, durante uma das edições do evento (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)
Batalha de dança, durante uma das edições do evento (Foto: Conexão Urbana/Arquivo)

Fortalecendo a cena 

Rodrigo avalia que Nova Andradina tem um cenário cultural em crescimento, mas ainda precisa de iniciativas que promovam a inclusão e a valorização das culturas periféricas. O Conexão Urbana vem para preencher essa lacuna, oferecendo espaços para que diversas expressões culturais se manifestem e sejam apreciadas pela comunidade.

A elaboração do projeto durou mais de nove meses, até ser finalizada, submetida à editais e finalmente aprovada pelo FIC/MS (Fundação de Investimentos Culturais).

O produtor cultural ressalta que colhe bons frutos do projeto, e que seu principal objetivo, de fortalecer a união entre as Crews, tem sido cumprido, além do projeto ocupar diferentes espaços da cidade, levando a cultura Hip Hop do discurso para a prática. “A recepção do público tem sido extremamente positiva, com elogios constantes e crescente participação nas edições realizadas. No futuro, o objetivo é continuar expandindo a iniciativa, atingindo ainda mais pessoas e consolidando Nova Andradina como um polo cultural urbano”, finaliza.

O projeto também conta com a feira Mulheres de Atitude, uma iniciativa da Secretaria de Cidadania e Assistência Social do município, e tem sido integrada a todas as edições do projeto. As mulheres envolvidas na feira vendem comidas e artesanatos, gerando renda e fortalecendo a economia local. Segundo Nanda Nóbrega, diretora artística do projeto, “a feira tem sido um grande sucesso, não só em termos de vendas, mas também em termos de integração social”.

A próxima edição do Conexão Urbana, intitulada “Margem”, será realizada no dia 22 de junho e contará com o Slam de Poesia.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias