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Comportamento

Até parede preta vira polêmica e causa rixa entre igrejas evangélicas

Tem gente religiosa detestando as igrejas de 'parede preta' porque elas aceitam 'todo tipo de gente'...

Por Idaicy Solano | 19/07/2024 07:03

Ambiente escuro, com jogo de luzes e música ao vivo é uma nova proposta de igrejas evangélicas para fugir dos cultos tradicionais e massantes, e atrair cada vez mais fieis, principalmente os jovens. Com paredes pretas e clima de show, o ambiente poderia ser facilmente confundido com uma balada, se não fosse pelo horário dos cultos, sempre às 18h, e pelos louvores cantados a plenos pulmões. Mas até isso virou polêmica entre os evangélicos de Campo Grande, isso segundo os próprios fieis e pastores de algumas igrejas.

ADCG é uma uma das igrejas em Campo Grande, na Avenida Ceará, que aposta na mesma estética. A pastora Elyzama Nantes, de 36 anos, diz que tudo é para proporcionar aos fieis um ambiente de ‘total adoração a Deus, evitando distrações’.

A estudante universitária Sarah Sanches, de 22 anos, descreve que o ambiente escuro permite ter mais privacidade na hora de cantar e orar.  “Esses detalhes me fizeram sentir à vontade para frequentar essa igreja, um conceito de culto que atrai as pessoas que estão fatigadas do ‘tradicional’”, detalha Sarah.

Na Rua Rui Barbosa, outra igreja também apostou no visual diferente, assim como a pegada musical, inspirada nas batidas do rock. Mas nem todo mundo vê essa mudança com bons olhos.

Paredes pretas da igreja El Elion criam ambiente íntimo para os fieis (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Paredes pretas da igreja El Elion criam ambiente íntimo para os fieis (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
No ministério El Elion, cultos são repletos de música (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
No ministério El Elion, cultos são repletos de música (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

A polêmica da ‘parede preta’ 

Apesar da intenção de recrutar fieis, a tendência não é bem vista por toda a comunidade evangélica. Há quem critique a nova prática e diga que as igrejas da parede preta 'aceitam todo tipo de gente'

A pastora Elyzama, por outro lado, rebate que o ‘preconceito’ dos evangélicos mais conservadores, em relação às paredes escuras e o clima da igreja, se trata apenas de “falta de conhecimento”.

“Jesus é o ser mais inclusivo da história da humanidade, Ele morreu numa cruz por todos nós e quer que todos sejamos encontrados por seu amor. Nossa missão é falar deste amor a todas as criaturas e a transformação fica por conta Dele”, diz a pastora.

O pastor Lucas Cohen, por sua vez, responsável pela igreja El Elion, rebate dizendo que uma casa religiosa que não recebe todo o tipo de gente, não deveria ser considerada uma igreja. Como o intuito do ambiente escuro também é dar privacidade e proporcionar aos frequentadores um momento 'á sós' com Deus, sem julgamentos, por lá o pastor que todos são bem-vindos, independente da raça, língua, nação ou orientação sexual.

O pastor critica a ‘aversão’ dos evangélicos conservadores a acolher todo tipo de gente, sendo que o próprio Jesus Cristo fez exatamente isso, conforme sua crença. Segundo Lucas, a igreja tem portas abertas a todo tipo de gente, e cabe a cada um dos fieis tomar algum juízo de valor. “

"A pessoa pode chegar da forma que ela quiser, quando ela for tocada por Deus as mudanças que vão acontecer dentro do coração dela e depois na vida dela. Talvez essa é a reação que eles [outras igrejas] querem ver da gente: tratando essas pessoas mal e com preconceito, que não é o que vai ser encontrado, porque Jesus não fez isso”, afirma Lucas .

ADCG aposta em clima de show em seus cultos (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
ADCG aposta em clima de show em seus cultos (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Para todos os públicos 

A estética moderna e jovial das igrejas de parede preta são uma aposta para atrair o público jovem, sem dúvidas, mas para a pastora Elyzama, na era do Tiktok e Reels, não é apenas este público que se conecta com essa língua mais criativa e dinâmica. “Aprendemos e nos acostumamos a receber informações em 30 segundos e a igreja precisa se adaptar a tudo isso para continuar atingindo o maior número de pessoas”.

Elyzama acredita que os jovens são dotados de força e intensidade, por isso tornam a igreja mais vibrante, mas também há espaço para todas as idades e gerações. Ao contrário do que muitos pensam, a pastora revela que a igreja possuí um número considerável de pessoas de meia-idade e idosos. “Uma curiosidade, ainda, neste sentido é que nossa membro mais idosa possui 94 anos e é frequente nos cultos”.

Segundo o pastor Lucas, assim como tudo no mundo muda e evolui, com a igreja não é diferente. Ele ressalta que a palavra é a mesma, a única diferença é a forma que está sendo comunicada, de um jeito que se torne mais atrativo, criativo e dinâmico. “As coisas são muito diferentes hoje em dia e esses ambientes são mais atrativos para que eles participem, e nos deixa até mais a vontade, tanto para pregar quanto para eles receberem [a palavra]”.

Lucas finaliza dizendo que adaptar o espaço de pregação às novas realidades é algo que sempre foi feito, e que qualquer pastor de uma igreja tradicional, que não entenda a necessidade de evoluir e adaptar-se às novas realidades, ainda não saiu da ‘idade da pedra’.

“Antigamente não tinha nem banda nem bateria nem guitarra nas igrejas. Então aquele que acredita que não é necessário uma adaptação, deve voltar à idade da pedra, tirar som de dentro da igreja, tirar a guitarra, tirar a bateria, tirar o microfone, aí sim aí ele vai ser bem tradicional mesmo”, brinca o pastor.

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