Busca no Orkut que terminou em MS fez nascer maior ONG de desaparecidos do País
Uma das maiores ONG's para localizar desaparecidos do País nasceu em Mato Grosso do Sul, da busca incessante de Amanda Boldeke pelo irmão Jorge Gustavo. Foram 10 anos de procura que chegaram ao Orkut e se dividiram por três estados: Santa Catarina, onde ela morava, Paraná, Estado de onde Jorge saiu e São Paulo, na casa de familiares dos irmãos. Mas foi do DDD 67 que saíram as boas notícias.
Jorge Gustavo morava no interior do Paraná, em Pontal do Sul, enquanto a irmã habitava em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Em 1997, ela deu a falta do irmão quando as notícias dele pararam de chegar e a última informação era que Jorge tinha abandonado o emprego. Com o passar dos meses ela começou a procurar entre amigos, familiares, hospitais, delegacias... Em vão.
Depois de nove anos sem notícias, a designer gráfica, hoje com 62 anos, viu popularizar o acesso à internet e criou no Orkut a comunidade "Onde está você Jorge Gustavo". Dos compartilhamentos da dor, agonia e saudade do irmão, Amanda percebeu que o drama não era restrito à ela. Muita gente também vivia sem saber o paradeiro de algum parente e a internet surgiu como ferramenta de salvação para quem já tinha tentando de tudo nos últimos anos.
A comunidade que contava com desabafos, fotos e relatos dos usuários passou a se chamar "Desaparecidos do Brasil" e já não pertencia somente à Amanda. Mas no coração, a irmã ainda procurava resposta para a pergunta "Onde está você Jorge Gustavo".
O caminho, Amanda diz que foi natural... Sem se prender a datas e a números, ela saiu da comunidade para um site afim de ter um suporte melhor para acompanhar todos os casos. Um ano depois, uma chamada mudou a vida dela e do irmão. Do outro lado da linha, um comerciante de Bataguassu, cidade a 358 quilômetros de Campo Grande, chamou o telefone dela, perguntando se a designer conhecia "algum Jorge".
O diálogo, ela se recorda até hoje. "Ele ligou e perguntou você conhece uma pessoa chamada Jorge? Imagina o impacto? Fazia 10 anos que eu não via mais nenhuma notícia... Foi algo bem forte". De cara ela já pensou no pior... Mas era o contrário.
Do outro lado da linha o comerciante dizia que fazia muito calor e ele, ao ver um homem sentado embaixo de uma sombra, foi na espontaneidade oferecer ajuda. Ouviu que o senhor tinha família, anotou o nome e foi buscar na lista telefônica.
Além de contactar a família, o comerciante ainda providenciou, junto à Assistência Social, os documentos para que Jorge pudesse embarcar. Foram 10 anos 'vagando' pelo País que terminaram no extravio de identidade. Jorge também foi deixando pelo caminho a saúde e ao se encontrar com a irmã, estava bem debilitado.
"Ele praticamente não enxergava mais, era necessário alguém o pegar pelo braço..."
A busca por Jorge Gustavo havia terminado, mas a missão de Amanda não. Diante do grande número de desaparecidos, o site que antes só buscava se transformou em ONG, onde 200 novos cadastros por desaparecidos são atualizados todos os meses.
"Quando a pessoa chega na ONG ela já passou por tudo, pela polícia... Nós temos, de certa forma, um apoio para o que ela necessita", explica a fundadora. A busca é feita em bancos de dados de programas sociais, Receita Federal e Tribunal Eleitoral. "Quando conseguimos algum dado, informamos à polícia", descreve Amanda.
Depois de ter encontrado o irmão ela poderia simplesmente ter parado ali. "Mas eu fiquei muito envolvida e continuei ajudando as pessoas". Hoje a ONG "Desaparecidos do Brasil" tem alcance até fora do País. E o que Amanda mais gostaria era de ter um contato com quem estendeu a mão ao irmão.
Jorge Gustavo está bem de saúde e com 67 anos. Mora com a irmã em Florianópolis. Os dois nunca mais tiveram contato com o comerciante que ligou, de nome "Edmirson Félix". O Lado B também tentou localizá-lo, mas não encontrou.