Campo-grandense de coração, Palmira presenteou a cidade com poemas
Sensibilidade e dedicação marcam a história de amor de dona Palmira por Campo Grande
Nascida no dia do aniversário de Campo Grande Palmira Arruda Vasconcelos sempre se considerou "forasteira por acidente" na “querida morena” que amou de coração desde o primeiro instante, “Mãe Palmira” como era carinhosamente chamada pelos amigos, morreu de câncer pouco antes de completar 85 anos, mas deixou este sentimento registrado em poemas.
Guardiã das memórias da mãe, quem conta essa história é a filha Helena Arruda Vasconcelos, de 58 anos, que preserva poemas e fotografias utilizados por Dona Palmira para registrar os momentos importantes.
Palmira abandonou vida no interior de São Paulo para recomeçar em Campo Grande. Na época, ela era diretora de escola aposentada e com a doença do marido, ficou responsável pelo sustento da casa. “Era período de dificuldade e ela precisava tomar uma decisão, mamãe foi muito corajosa em deixar tudo para trás e vir para uma cidade que nunca tinha nem visto” relembra Helena.
O convite partiu de um primo que trabalhava como advogado para o então presidente da Assembleia Legislativa, as habilidades de escritora e o "português exímio" eram requisitados para escrever os discursos de Gandi Jamil.
Como assessora parlamentar Dona Palmira presenciou a inauguração do Parque dos Poderes, lugar pelo qual era apaixonada e onde criou o hábito de caminhar todas as manhãs enquanto rezava o terço. Sensível a beleza da paisagem ao redor de si, o ritual diário a aproximava da natureza e do criador.
Escreveu discursos para todos os presidentes que passaram pelo gabinete entre 1985 e 2008, ano em que foi obrigada a aceitar a aposentadoria "expulsória", ainda assim não deixou de escrever de casa. "Mamãe amava aquele lugar, os pássaros, as árvores. Especialmente, um casal de corujas que ficava na grama em frente ao prédio da assembleia", conta Helena que costumava levar a mãe todos os dias de carro até o trabalho.
A história de amor e dedicação a Campo Grande foi eternizada pela participação de Palmira em concursos de crônicas e poesias promovidos pela prefeitura em 1985 e 1986, nos quais seus poemas foram publicados. "Lembro que ela sempre escreveu, sentava na escrivaninha e rezava, pedia iluminação para Nossa Senhora antes de começar a escrever. Mamãe sempre foi muito criteriosa, primeiro ela fazia tudo à mão e só depois de corrigir é que datilografava na Olivetti. Ela chegou a ter o talento reconhecido nacionalmente quando foi convidada para participar do livro Poetas Brasileiros de Hoje 1985", conta Helena.
Encantada pela beleza da natureza da capital de Mato Grosso do Sul, Dona Palmira quis criar raízes. "Em momento algum ela pensou em voltar para Bauru. Ela dizia que quando morresse queria ser enterrada aqui, e hoje é aqui que ela descansa" diz Helena. Tanta dedicação foi homenageada em 2010 com o título de Cidadã Campo-grandense, e é com a medalha no pescoço e olhar sereno que a imagem de Palmira está exposta no porta-retratos da sala.
Além dos poemas, Palmira deixou um presente que pode ser visto por todos no Bairro Monte Carlo e que encanta os passantes assim como a própria cidade um dia encheu os olhos e alma dela: Um pé de ipê branco que floriu pela primeira vez um ano após sua morte, transmitindo a sabedoria e a tranquilidade que aqueles que conviveram com ela foram privilegiados em compartilhar.
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